A boxeadora Imane Khelif já foi banida de uma competição sob a justificativa de que teria cromossomos XY, algo relacionado ao sexo biológico masculino – mas, segundo a medicina, ser uma mulher XY é possível
Segunda boxeadora argelina a conquistar uma medalha olímpica no boxe – e primeira mulher com essa conquista – Imane Khelif despertou um debate acalorado sobre gênero. Isso porque, no passado, a IBA, Associação Internacional de Boxe, afirmou que ela não passara no “teste de gênero” e que ela teria, segundo o presidente do órgão, cromossomos XY.
Na biologia, é fato que ter pares de cromossomos XY nas células ocorre, na maioria das vezes, em homens. Ainda assim, nem todas as mulheres têm o par XX como se acredita – tudo devido a algo chamado DDS, Distúrbios de Diferenciação Sexual. Entenda mais sobre o caso de Imane e sobre o fenômeno abaixo:
Mulher XY, testosterona e mais: entenda o caso de Imane Khelif
Imane Khelif é uma boxeadora da Argélia que foi alvo de críticas ao longo das Olimpíadas. Isso aconteceu porque, no passado, a Associação Internacional de Boxe vetou a pugilista de outra competição afirmando que ela não passou no “teste genético” aplicado nos atletas. Em meio à polêmica, veio à tona também o dado de que ela tem níveis de testosterona acima do esperado em uma pessoa de biologia feminina.
Diante das acusações de que Imane seria um homem ou uma mulher trans, o COI (Comitê Olímpico Internacional) chegou a divulgar uma nota sobre o assunto. No comunicado, o órgão frisou que tanto Imane quanto outra pugilista que enfrentou as mesmas acusações, a taiwanesa Lin Yu-ting, são mulheres e cumprem os pré-requisitos necessários para o torneio.
Além disso, o COI afirmou também que o banimento das duas pela IBA teria sido uma decisão arbitrária. Nesse contexto, nenhum exame feito nas boxeadoras foi divulgado por nenhum dos órgãos.
Mulher XY: por que pode acontecer?
As acusações de que Imane teria cromossomos XY, outros Distúrbios de Diferenciação Sexual (DDS) e testosterona alta não foram comprovadas ao público, visto que a IBA não divulgou os exames. Sendo assim, não é possível saber quais cromossomos a pugilista apresenta em suas células – mas, independentemente disso, é possível afirmar que nem toda mulher é XX, como se aprende de forma simplificada na escola.
No desenvolvimento normal, o DNA de um bebê se forma a partir de 23 cromossomos do pai e 23 da mãe. Eles se ligam uns aos outros formando 23 pares – e, entre eles, há um par XX ou XY. Os cromossomos armazenam informações sobre como os processos do desenvolvimento devem acontecer – e o Y é quem determina características masculinas.
Por esse fato, é tido que, de forma geral, pessoas com cromossomos XX são mulheres devido à ausência do Y, enquanto pessoas XY são homens. No entanto, devido aos DDS, algumas mulheres são XY. Isso acontece quando o “pedaço” do cromossomo Y responsável por ordenar o desenvolvimento de características masculinas não o faz. Quando não há essa ordem, estruturas que dariam origem a aspectos masculinos atrofiam e as que dão origem à biologia feminina seguem se desenvolvendo.
Como é o corpo de uma mulher XY
Em linhas gerais, nesses casos, o cromossomo Y “funciona como” o X devido a um defeito. De acordo com publicações sobre desenvolvimento biológico na Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, uma mulher XY tem o aparelho reprodutor feminino completo, interno e externo.
Devido à normalidade dos órgãos sexuais, a Síndrome de Swyer geralmente é algo que se diagnostica na puberdade. Isso porque seu maior sintoma é a amenorreia (ausência de menstruação) – e, ao investigá-la, além de outras condições, pode se descobrir a presença de cromossomos XY.
Além disso, altos níveis de testosterona também não determinam sexo biológico. Toda mulher produz testosterona – e, devido a algumas condições de saúde ou genéticas, os níveis podem ser maiores que o esperado para o gênero feminino.