Carol Arruda, que tem a “maior dor do mundo”, recebe alta: boletim relata próximos passos e efeito do tratamento

por | ago 30, 2024 | Saúde

Com neuralgia do trigêmeo, Carol Arruda passou os últimos meses internadas testando novas abordagens terapêuticas para as fortes dores que sente – e, após sua alta, o médico responsável detalhou a situação

Após mais de um mês internada e três procedimentos visando a melhora da “maior dor do mundo”, Carol Arruda recebeu alta hospitalar. Com neuralgia do trigêmeo há 11 anos, ela passou por um “reset” no cérebro e dois implantes. Na sequência, ela contou como se sente após a jornada mais recente – e, em seu boletim, o médico responsável detalhou a situação.

Carol Arruda tem alta hospitalar: está tratando a “maior dor do mundo”

Carol Arruda
Carolina Arruda tem a “maior do do mundo” devido à neuralgia do trigêmeo (Crédito: Reprodução/TikTok @caarrudar)

Após viralizar nas redes sociais por revelar um financiamento coletivo em busca da eutanásia na Suíça, Carol Arruda, que tem neuralgia do trigêmeo, passou por uma sequência de tratamentos. Em Alfenas, Minas Gerais, ela passou por diversos procedimentos realizados de forma gratuita – e, agora, está de alta hospitalar.

A internação de Carol começou com um “reset” no cérebro. Ela foi sedada e recebeu uma série de medicamentos durante alguns dias, tudo para tirar seu organismo do estado agudo de dor. Em seguida, ela implantou eletrodos no corpo, e esses dispositivos são responsáveis por interferir nos estímulos de dor. A estratégia, no entanto, teve poucos efeitos positivos.

Na sequência, Carol implantou uma bomba de medicamentos que libera anestésicos potentes diretamente na medula. Isso significa que, em vez de tomar as medicações por via oral e aguardar a absorção, as substâncias são administradas o mais próximo possível da fonte do problema – ou seja, o nervo trigêmeo, localizado na cabeça.

Tratamento de Carol Arruda
Controle da bomba de morfina (Crédito: Reprodução/TikTok @caarrudar)

Desde então, Carol observou uma melhora na dor basal, sensação constante que ela vivencia ao longo dos dias. Além disso, houve também queda na frequência das fortes crises de dor que ela tem diariamente. Conforme expressou a jovem no TikTok, a ideia do tratamento era reduzir em 50% suas dores, mas a redução alcançada foi menor.

“Ainda não chegou em 50% menos de dor, que eu estava esperando, mas está caminhando. Acho que a dor reduziu cerca de uns 25%. Reduziu bastante até! Esses últimos dois dias ela voltou a aumentar um pouco, mas nos outros dias ela estava mais suportável, eu tive menos crises e elas estavam bem mais rápidas”, declarou ela em um vídeo recente, logo antes da alta hospitalar.

O que acontece agora com Carol Arruda?

maior dor do mundo Carol Arruda
Carolina Arruda tem a “maior dor do mundo” (Crédito: Reprodução/TikTok @caarrudar)

Conforme relatou Carol em um vídeo, a tendência agora é a de observar a evolução do quadro com os eletrodos configurados da forma que estão e os medicamentos atuais. “A gente ainda tem que testar outras medicações. Ainda tem muita coisa para tentar”, disse ela, que tem uma dose de 800 microgramas de morfina disponível por dia – o equivalente a 50 comprimidos administrados por via oral.

Antes da internação, Carol tinha um protocolo com outras duas etapas cirúrgicas para testar caso os implantes não surtissem efeito. As decisões, no entanto, mudaram, conforme explica o médico responsável pela influencer.

Em nota, Carlos Marcelo de Barros, médico especialista em dor e presidente da SBED (Sociedade Brasileira para Estudos da Dor), informou que o próximo passo cirúrgico, que seria a descompressão do nervo, não poderá se concretizar. Isso se deve ao fato de que Carol já operou o local antes, e a anatomia já modificada dificulta um procedimento bem-sucedido, além de aumentar as chances de sequelas.

maior dor do mundo
A influencer já fez cinco cirurgias, mas nenhuma surtiu efeito (Crédito: Reprodução/Tiktok @caarrudar)

“Após uma reavaliação detalhada da proposta terapêutica, foi decidido, em conjunto com a paciente, que a cirurgia de microdescompressão vascular seria demasiadamente arriscada, dado que se trata de uma área já operada previamente e a primeira cirurgia não apresentou resultados satisfatórios”, afirma o comunicado, se referindo a um procedimento que age diretamente no foco de trauma do nervo.

Além disso, a última abordagem cirúrgica disponível, chamada nucleotractomia, não será feita a pedido de Carol. Essa cirurgia, feita no cérebro, visa interromper a transmissão de estímulos do nervo trigêmeo, preservando as demais funções. Carol, porém, já havia expressado receio quanto ao procedimento anteriormente.

“A paciente expressou sua decisão de não realizar a cirurgia de nucleotractomia trigeminal. Portanto, no momento, não há nova proposta terapêutica, e o foco continuará sendo o manejo conservador da dor com as terapias atuais, incluindo ajustes de medicações, parâmetros de neuromodulação e doses dos medicamentos na infusão intratecal”, afirma a nota.

Apoio multidisciplinar a Carol Arruda

Cicatrizes do implante de eletrodos para dor crônica (Crédito: Reprodução/TikTok @caarrudar)

Ainda que os tratamentos não tenham surtido o efeito desejado, o médico frisa que Carol Arruda seguirá sob acompanhamento, inclusive psicológico. “Ela está sendo acompanhada por nossa equipe multiprofissional, com ênfase no suporte psicológico, para ajudar a lidar melhor com os aspectos psicoemocionais e traumas relatados pela própria paciente”, diz o comunicado.

Segundo o especialista, a ideia é minimizar o impacto que a questão psicológica pode ter sobre o tratamento. “[Aspectos psicoemocionais e traumas’ influenciam negativamente na percepção e no controle da dor, impactando também os resultados terapêuticos. Esse suporte é essencial para o tratamento holístico da paciente, promovendo alívio dos sintomas físicos e o fortalecimento emocional”, afirma o médico.

Tratamento para neuralgia do trigêmeo em Alfenas

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Carolina Arruda implantou neuroestimuladores no crânio (Crédito: Reprodução/TikTok @caarrudar)

Diante da repercussão do caso de Carol Arruda, a Santa Casa de Alfenas, em Minas Gerais, obteve fundos e materiais para tratar gratuitamente outros pacientes. Em julho, foram abertas inscrições para a seleção de pessoas cujo quadro poderia se beneficiar de um tratamento multidisciplinar em um dos maiores centros de controle de dor no País.

Em entrevista prévia a Tá Saudável, o médico Carlos Marcelo de Barros afirmou que casos de neuralgia do trigêmeo refratária – ou seja, que não respondem aos tratamentos convencionais – não são raros. Ele afirmou ainda, porém, que apesar disso ainda há esperança em abordagens terapêuticas oferecidas pelo centro de saúde.

Para se inscrever e tentar obter o tratamento, basta acessar o site da Santa Casa de Alfenas e checar as condições. É preciso ter laudo médico da doença, uma carta assinada pelo secretário de saúde do município de origem e mais alguns documentos. Além disso, a iniciativa não inclui pessoas com acesso a planos de saúde.

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