A morte de Juan Izquierdo, jogador uruguaio, aconteceu diante de um quadro de arritmia – e, abaixo, explicamos qual é a relação entre atividades físicas e o mal súbito
Morreu em 27 de agosto o jogador de futebol uruguaio Juan Izquierdo, cinco dias após passar mal no meio de uma partida no Morumbis, em São Paulo. De acordo com o Hospital Albert Einstein, a morte do jogador de 27 anos ocorreu por parada cardíaca associada a uma arritmia – e a morte de Juan Izquierdo levantou dúvidas sobre a prática de exercícios por quem tem problemas no coração.
Afinal, exercícios fazem bem ou mal ao coração? Como saber se é seguro praticar atividades físicas? O risco é maior para atletas? Entenda abaixo essas e outras questões respondidas pelo médico cardiologista Guilherme Renke.
Morte de Juan Izquierdo: diagnóstico prévio de arritmia e mais
Em 22 de agosto, Juan Izquierdo, zagueiro do Nacional (URU), jogava uma partida contra o São Paulo pela Conmebol Libertadores quando caiu no gramado. Aos 39 minutos da última etapa do jogo, o jogador se sentiu mal e os companheiros de time sinalizaram a necessidade de atendimento médico.
Prontamente, Izquierdo foi encaminhado para o Hospital Albert Einstein, onde deu entrada com quadro de parada cardíaca. Lá, médicos conseguiram fazer com que o zagueiro retomasse a circulação sanguínea espontânea, mas o estado se manteve grave.
Nos dias que sucederam a internação, Izquierdo teve piora neurológica e, na noite da última terça-feira (27), faleceu. Segundo o hospital, o óbito aconteceu por morte cerebral decorrente de parada cardiorrespiratória secundária a um quadro de arritmia cardíaca. Esse quadro, inclusive, já era conhecido pelo jogador.
Conforme informou o secretário nacional de Esporte do Uruguai, Sebastián Bauzá, ao programa “Minuto 1” da rádio local Carve Deportiva, Izquierdo foi diagnosticado com arritmia em 2014. Em meio a exames de rotina promovidos pelo governo, ele recebeu o diagnóstico e, segundo o secretário, é provável que tivesse em acompanhamento desde então.
“Ele passou por um eletrocardiograma. Juan tinha 17 anos, tinha uma pequena arritmia e foi informado. Há que se controlar, e estamos seguros de que os médicos dos diferentes clubes por onde ele passou o fizeram”, declarou ele durante a entrevista. Detalhes do acompanhamento de Izquierdo, porém, não são conhecidos.
Morte de Juan Izquierdo: quando o esporte faz mal ao coração?
Ainda que não seja possível afirmar que o esforço pelo jogo foi o que causou a parada cardiorrespiratória do jogador, a situação levanta dúvidas. Afinal, o esporte faz bem ou mal ao coração? Em que momento o esforço cardíaco decorrente de atividades físicas pode ser prejudicial?
Conforme explica o cardiologista Guilherme Renke, que também é médico do esporte, tudo depende do estado do coração do paciente antes da prática. Segundo ele, exercícios fazem bem ao coração – mas, caso a pessoa tenha alguma condição cardíaca de base, o esforço extremo pode afetar negativamente o órgão.
De acordo com o profissional, a prática regular de atividades físicas contribui com a saúde cardiovascular. Isso ocorre porque o exercício causa vasodilatação, aumenta a produção de glicoproteínas que reduzem inflamações crônicas e impulsiona o colesterol bom (HDL). Isso também acontece com quem tem problemas cardíacos, mas é preciso cautela.
“O risco de um mal súbito só ocorre em quem já tem uma alteração de base que pode desencadear arritmias. Ou seja: a pessoa já tem um problema estrutural ou na condução elétrica do coração, e ela é potencializada com o exercício máximo”, afirma, explicando que o risco para quem tem esses problemas não muda entre a prática regular e a esporádica de atividades.
Esse risco, no entanto, pode ser maior para atletas. Isso porque, geralmente, a prática de exercícios físicos por atletas exige muito do metabolismo. “Atletas profissionais podem ter alterações específicas na condução elétrica por hipertrofia do ventrículo esquerdo”, esclarece.
Pessoas com arritmia, como Juan Izquierdo não podem praticar esportes?
A prática de atividades físicas pesadas por quem tem problemas cardíacos precisa ser muito bem avaliada. Isso porque o sedentarismo é igualmente ameaçador tanto para atletas quanto para pessoas comuns. Sendo assim, é importante se exercitar – mas não sem antes se consultar com um médico e fazer o acompanhamento adequado.
Antes de iniciar a prática, portanto, é recomendado fazer exames preventivos e buscar um cardiologista para entender o que é ou não seguro. Isso é especialmente importante para pessoas que têm histórico familiar de arritmia, problemas cardíacos e morte súbita. Também é essencial para quem é fumante – principalmente após os 35 anos de idade.