A gravidez de Isabel Veloso, que relata conviver com um linfoma de Hodgkin em estágio terminal, despertou uma série de dúvidas sobre expectativa de vida, fertilidade após tratamento de câncer e mais
Convivendo com linfoma de Hodgkin desde a adolescência, a jovem Isabel Veloso, que se destacou nas redes sociais ao falar sobre a vida com a doença em estágio incurável, revelou recentemente que está grávida.
Devido ao diagnóstico e ao fato de que a jovem chegou a informar o público que, segundo os médicos, teria apenas mais seis meses de vida, internautas levantaram dúvidas sobre a gravidez de Isabel Veloso.
Afinal, é possível engravidar após fazer tratamentos fortes como a quimioterapia? A expectativa de vida dada por médicos a pacientes terminais é uma sentença? Confira abaixo a resposta para essas e outras dúvidas sobre quadros como o de Isabel, segundo a médica Adriana Scheliga, onco-hematologista do grupo Oncoclínicas.
Gravidez de Isabel Veloso com linfoma terminal: dúvidas respondidas
O que é um linfoma de Hodgkin em estágio terminal
Conforme explica a médica especializada em cânceres que afetam o sangue e os gânglios, o linfoma de Hodgkin é uma doença que ataca o sistema linfático. Nesse quadro, a doença afeta especificamente os linfócitos, células do sistema imunológico.
Quando o diagnóstico da doença é feito precocemente, ela é altamente tratável e curável. No entanto, em alguns casos, ele não responde aos tratamentos disponíveis, ou retorna mesmo após diversas tentativas de tratá-lo. Em casos assim, ele é considerado incurável e, por isso, terminal.
Segundo Isabel Veloso, esse é o quadro que ela enfrenta. De acordo com relatos da influencer, a jovem descobriu o linfoma aos 15 anos de idade, fez quimioterapia e passou por um transplante de medula para tratá-lo. Em 2023, ela chegou a celebrar o sucesso do tratamento e a remissão da doença – mas, no mesmo ano, o quadro retornou.
Desde então, ela chegou a fazer quimioterapia novamente, afirmando em outubro de 2023 que havia feito sua última sessão. Logo, porém, ela soube que o tratamento não foi eficaz, e que ela não teria mais muito tempo de vida. Inicialmente, a expectativa dada a ela foi de 2 a 4 meses, algo que posteriormente foi ampliado para 6.
Quem faz quimioterapia fica infértil?
Após o anúncio da gravidez de Isabel Veloso, alguns internautas afirmaram que aquilo não seria possível sem que houvesse um “milagre”. Isso porque existe a ideia comum de que a quimioterapia acaba com a possibilidade de uma pessoa se reproduzir – mas isso não é verdadeiro, segundo a onco-hematologista.
De acordo com Adriana Scheliga, a quimioterapia pode impactar, sim, a fertilidade. O tamanho do impacto depende do tipo de medicamento usado, da dosagem e até da idade do paciente.
“Alguns tipos de quimioterapia podem causar danos temporários ou permanentes aos ovários nas mulheres. No entanto, em alguns casos, a fertilidade pode ser recuperada espontaneamente após o término do tratamento. A recuperação da fertilidade varia de pessoa para pessoa”, afirma a médica.
É, portanto, incorreto afirmar que a jovem seria estéril devido ao tratamento do câncer. Sendo assim, a gravidez de Isabel Veloso é, sim, algo possível
Engravidar após quimioterapia, como Isabel Veloso, é seguro?
A médica onco-hematologista explica que existe um prazo no qual médicos aconselham mulheres a evitar gestações após uma quimioterapia. “Recomenda-se que mulheres esperem pelo menos 6 meses a.2 anos após o término do tratamento com quimioterapia ou radioterapia antes de engravidar”, afirma ela.
Segundo a especialista, essa orientação é dada devido aos efeitos prolongados do tratamento de câncer no corpo. “Esse período de espera é importante para garantir que o corpo tenha tempo de se recuperar completamente dos efeitos do tratamento, minimizar o risco de malformações congênitas no feto devido à exposição a medicamentos ou radiação”, diz, listando os possíveis problemas.
“Pode haver supressão imunológica, o que pode aumentar o risco de infecções na gravidez. Para o bebê, há risco de malformações congênitas, restrição de crescimento intrauterino e até mesmo perda gestacional”, afirma.
Conforme frisa a médica, o tempo exato de espera recomendado após o tratamento varia dependendo dos medicamentos usados. Além disso, a saúde geral do paciente e outros fatores específicos de cada caso também são algo importante a se considerar.
A última quimioterapia de Isabel Veloso, conforme exposto por ela no Instagram, aconteceu em setembro de 2023. Sendo assim, a gravidez aconteceu menos de um ano após o fim do tratamento – mas, como o prazo ideal de espera varia de caso para caso, não é possível afirmar se a influencer contrariou ou não recomendações médicas.
Linfoma de Hodgkin pode prejudicar pacientes que engravidam e seus bebês?
De acordo com a especialista, sim. “Um linfoma em estágio avançado pode comprometer a capacidade do corpo da mãe de suportar uma gravidez, especialmente se ela estiver enfrentando sintomas como fadiga extrema, perda de peso significativa ou se a doença tiver se espalhado para órgãos vitais”, afirma.
A onco-hematologista explica ainda que a gravidez pode exacerbar os sintomas da doença ou até acelerar sua progressão, além do risco de parto prematuro e complicações obstétricas. Além disso, segundo a médica, tratar ativamente a doença ou mesmo mantê-la sob controle com medicamentos durante uma gestação é arriscado. “Muitas terapias podem ser prejudiciais ao feto”, declara.
Gestar durante um estágio terminal de câncer é indicado?
Para a especialista, não existe recomendação médica para engravidar durante o convívio com um câncer terminal. Isso se dá por uma série de motivos, como:
- Imprevisibilidade do comportamento da doença na gestação;
- Dificuldade de tratar o câncer ou mantê-lo sob controle;
- Riscos para a mãe e o bebê;
- Possíveis impactos na qualidade de vida da mãe durante a gestação.
Uma expectativa de 6 meses de vida pode ser superada?
Segundo a médica, é possível, sim, que pacientes vivam muito menos ou muito mais do que a previsão dada por médicos após um diagnóstico terminal. “A previsão de sobrevida é uma estimativa baseada em dados estatísticos de casos semelhantes, mas cada paciente é único”, afirma a especialista.
Há, de acordo com ela, alguns fatores a se levar em consideração nesse tópico. “A resposta ao tratamento, a saúde geral do paciente, o tipo de agressividade do linfoma e até a resiliência emocional e o suporte familiar podem influenciar significativamente o tempo de sobrevida”, afirma.
Dessa forma, não é possível afirmar que Isabel não conseguiria chegar ao fim dos 9 meses de gestação devido à previsão de sobrevida de 6 meses. Ainda assim, a gravidez durante o estágio terminal de um linfoma é contraindicada devido à grande possibilidade de riscos graves para mãe e bebê.
Atualmente, segundo Isabel, o linfoma está sob controle. O tumor da influencer fica próximo ao coração e, ainda em abril de 2024, ela afirmou ter vivido um susto relacionado a isso: uma ameaça de infarto. De acordo com a jovem, porém, os sintomas estão controlados com uso de medicamentos para dor e canabidiol.
Até o momento, não há mais informações sobre o que a gravidez de Isabel Veloso mudará em seu tratamento. A jovem ainda não explicou como será o controle do câncer durante a gestação, e quais remédios terá de deixar de lado.