Ginastas brasileiras

Meninas da ginástica artística brasileira ensinam muito sobre saúde mental: 5 lições valiosas

Segundo psicóloga, as ginastas brasileiras trazem ensinamentos sobre competição saudável, foco no presente e mais

Para além do show que a seleção feminina de ginástica artística deu nas Olimpíadas de Paris, as meninas também têm muito a ensinar. Durante as provas e entrevistas, Rebeca Andrade, Flavia Saraiva, Lorrane Oliveira, Jade Barbosa e Julia Soares demonstraram maturidade, habilidade de ter competições saudáveis e autocobrança na medida. Com isso, ensinam valiosas lições sobre saúde mental.

As lições de saúde mental das ginastas brasileiras

Ginastas brasileiras
Ginastas brasileiras nas Olimpíadas de Paris: Rebeca Andrade, Jade Barbosa, Lorrane Oliveira, Flavia Saraiva e Julia Soares (Crédito: Naomi Baker/Getty Images)

Nas Olimpíadas de Paris, o time brasileiro de ginástica artística deu show no ginásio e fora dele. Isso porque, além de terem trazido a primeira medalha brasileira da ginástica em grupo, duas pratas e um ouro com Rebeca Andrade, elas também demonstraram estar com a saúde mental em dia.

Em meio à competição, elas demonstraram respeito por outras competidoras, serenidade diante de resultados ruins, bom humor após erros em performances e mais condutas em que todos deveriam se espelhar. Isso foi muito notável para o público – e, em entrevista, Rebeca chegou a comentar sobre como se preparou para ser tão serena em meio à pressão.

“Converso muito com a minha psicóloga, tento cuidar ao máximo da cabeça e do corpo, ter equilíbrio para que consiga fazer minhas apresentações tranquila, sem pressão ou obrigação de voltar para casa com medalhas. […] Me esforcei ao máximo para esses resultados e sou muito grata à Aline, que é minha psicóloga, por essas conquistas”, disse ela ao “Jornal Nacional” (Rede Globo).

Confira abaixo algumas lições que a seleção brasileira de ginástica trouxe em Paris:

Ginastas brasileiras competem de forma saudável

Simone Biles, Rebeca Andrade e Jordan Chile no pódio do solo da ginástica em Paris (Crédito: GABRIEL BOUYS/AFP via Getty Images)

Apesar de ter se tornado a principal adversária de Simone Biles, a maior ginasta do mundo, Rebeca Andrade e a jovem norte-americana se tratam com muito carinho. Em entrevistas, ambas falaram sobre a rivalidade de forma saudável, afirmando inclusive que torcem uma para a outra. Além disso, as ginastas brasileiras também se inspiram na competidora norte-americana.

Ver outros competidores de forma saudável, sem demonizá-los ou focar em derrotá-los a todo custo, é benéfico para a saúde mental. É o que explica Livia Marques, psicóloga clínica especialista em terapia cognitiva comportamental e terapia do esquema, além de estudiosa sobre saúde mental negra.

“Quando a gente só foca em uma pessoa, naquilo que ela pode ou não conquistar, perdemos o foco daquilo que precisamos fazer. Se a competição não for saudável, isso trará prejuízos. Não atinge o outro – atinge a nós. Focamos energia e concentração naquilo que o outro está fazendo”, afirma a psicóloga.

Além disso, ela ainda lembra que Simone e Rebeca trazem uma bela lição à sociedade sobre mulheres negras. “Existe a ideia de que mulheres – acima de tudo mulheres negras – precisam estar o tempo todo guerreando para que sejam as únicas a estar nesses espaços. Mas a gente só se fortalece de forma coletiva. Não nos fortalecemos se uma quer derrubar a outra. Não é saudável para nossa existência ou resistência”, diz ela.

Time ensina limite para a autocobrança

Jade Barbosa (Crédito: KENZO TRIBOUILLARD/AFP via Getty Images)

Várias ginastas brasileiras já sofreram lesões sérias. Flavinha, por exemplo, cogitou desistir do esporte, mas se manteve firme diante do incentivo dos treinadores. Mesmo com a bagagem difícil e o fato de que não podem competir a vida toda, porém, elas não parecem se cobrar tanto quanto outros atletas brasileiros.

Ao assistir a outras competidoras, as meninas torcem por elas e raramente surgem ansiosas enquanto aguardam por suas notas. Além disso, quando caem ou não fazem a apresentação que desejavam, elas também não aparecem cabisbaixas – mas, sim, sorridentes apesar da situação.

Segundo Livia Marques, o que as meninas demonstram é uma autocobrança em níveis saudáveis. Segundo ela, ele é importante para que calculemos a melhor rota na direção de um objetivo – mas, em excesso, pode nos fazer invalidar tudo o que já conquistamos. Isso pode resultar em baixa autoestima, baixo rendimento, entre outras questões.

Ginastas brasileiras provam: não existe idade limite para o sucesso

Ginastas brasileiras
Jade Barbosa em 2007 (à esquerda) e nas Olimpíadas de Paris (à direita) em sua primeira vitória olímpica (Crédito: LIONEL BONAVENTURE/AFP via Getty Images)

Nas Olimpíadas de Paris, as ginastas brasileiras alcançaram um feito inédito. Pela primeira vez, o Brasil ganhou uma medalha na ginástica em equipe – e, com isso, a veterana Jade Barbosa realizou o sonho de ser medalhista olímpica.

Apesar de ter competido em diversas edições dos Jogos, Jade Barbosa era, até recentemente, mais uma veterana sem medalha olímpica. Agora, ela tem consigo um bronze com “gostinho de ouro” – e isso aconteceu aos 33 anos de idade.

No mundo do esporte, o avanço da idade é geralmente visto como passos dados na direção de um limite, devido à necessidade de parar cedo de competir. Entre quem não é atleta, muitos também enxergam os 30 como um limite para conquistas. Ao ganhar a 1ª medalha aos 33 anos, porém, Jade mostrou que isso não passa de uma crença limitante.

“Não é sobre idade! A gente precisa, como sociedade, pensar nisso. Ela tem toda uma trajetória, é gigante, contribui para essa equipe, traz exemplos. O fato de ter passado todos esses anos sem medalha não desqualifica a trajetória dela”, declara a psicóloga Livia Marques.

Aproveitar o presente: ginastas brasileiras tiram a missão de letra

Flavia Saraiva, uma das ginastas brasileiras (Crédito: Naomi Baker/Getty Images)

Mesmo quando caíram, se desequilibraram ou não entregaram apresentações perfeitas, as ginastas brasileiras mostraram, em Paris, que preferem aproveitar o presente a se martirizar.

A atleta Flavia Saraiva, por exemplo, chamou a atenção do público ao falar com humor sobre não ter feito as melhores provas da carreira nos Jogos de Paris. Além disso, ela enfatizou que, para ela, competir em uma Olimpíada já é uma vitória a ser celebrada. Isso, segundo a psicóloga, é extremamente positivo para a saúde mental.

“A Flavia traz o seguinte: ‘Eu fiz. Fiz, sim. E dei meu melhor!’. E ela ainda volta lá para torcer, aproveitar o momento que já idealizou há muito tempo. É sobre não desistir, sobre pensar em pontos de melhoria sem desqualificar aquilo que já fizemos até aquele momento. É importante que aproveitem a conquista, a vitória que é estar em uma Olimpíada. Isso também é vitória, isso também é atingir objetivos”, afirma a especialista.

Técnica para se acalmar em momentos de ansiedade

Rebeca Andrade com a medalha de ouro (Crédito: GABRIEL BOUYS/AFP via Getty Images)

Algo que chamou muita atenção na conduta de Rebeca Andrade foi a simplicidade da moça. Quando questionada, ainda em meio às olimpíadas, sobre o que faria ao voltar para casa, ela citou receitas que gostaria de testar – e o fato dela pensar em comida diante de desafios complexos e enquanto carrega nas costas conquistas inéditas foi celebrado.

É claro que, em momentos de crise, nem sempre é simples desviar os pensamentos. Ainda assim, ao lidar com ansiedade, forçar a mente a pensar em questões mundanas, pequenas e distantes do “problema” a ser enfrentado é uma técnica interessante. Isso vem, segundo a psicóloga, junto de um olhar para os fatos, sem pensar em cenários negativos que, até então, não são realidade.

“É importante entrar em um lugar de atenção com a gente. Retomar a atenção plena”, afirma.

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