Órgãos de saúde ao redor do mundo têm investigado o recente surto de hepatite em crianças e, até o momento, a principal suspeita é que o quadro esteja acontecendo por conta do adenovírus, um vírus comum na infância.
De acordo com o Ministério da Saúde, até o dia 13 de junho, 88 casos suspeitos foram registrados no Brasil. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), pelo menos 920 suspeitas de hepatite aguda infantil em 34 países foram registradas no mesmo período. Saiba mais sobre o cenário da doença a seguir.
O que é o surto de hepatite infantil?
O surto de hepatite infantil foi a disparada de casos da hepatite aguda grave em crianças sem causa específica. Segundo o hepatologista Rafael Ximenes, do centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, afirma ao Tá Saudável, o surto, decretado pela OMS recentemente, começou em meados de abril deste ano no Reino Unido — o país europeu registrou pelo menos 111 casos, especialmente em crianças e adolescentes na faixa etária dos 0 aos 16 anos até o fim de junho. Depois de surgir por lá, outros países passaram a reportar casos, como Espanha, Dinamarca, Itália. Em meados de maio, casos também passaram a ser reportados no Brasil.
Hepatite misteriosa é diferente de outras hepatites
O especialista ressalta que a preocupação dos órgãos de saúde se iniciou pois, nos casos observados, não foram identificadas as causas mais comuns da hepatite, como os vírus das hepatites A, B, C, D e E, medicamentos e hepatite autoimune.
“Foi observada uma associação numa grande proporção dos casos, em especial no Reino Unido, com um outro vírus, o adenovírus. Ainda não está totalmente claro se ele pode ser o responsável pelo aumento do número dos casos de hepatite aguda nas crianças e adolescentes, mas os órgãos de saúde estão trabalhando para obter a resposta”, explica.
Rafael afirma, ainda, que a hepatite aguda grave, com necessidade de internação, e até mesmo de transplante, é um evento pouco frequente na população, e justamente por isso é considerado um evento incomum.
“Além disso, caso se confirme que a causa seja o adenovírus, é algo inesperado que ele cause lesão hepática grave em crianças previamente saudáveis. Já eram descritos casos de lesão hepática pelo adenovírus em pessoas com a imunidade baixa, mas em crianças saudáveis ele costuma causar apenas infecções gastrintestinais, com vômitos e diarreia, por exemplo, ou infecções respiratórias”, ressalta.
Hepatite misteriosa no Brasil
O Ministério da Saúde também investigou sete mortes pela hepatite infantil no país. Até o dia 13 de junho, foram identificados 88 casos da doença nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Maranhão.
Causas do surto de hepatite
Órgãos de saúde acreditam que infecções por vírus, alguns medicamentos e toxinas podem estar por trás do surto. Além disso, a covid longa também levanta suspeitas de especialistas.
“A relação entre covid longa e o surto de hepatite infantil poderia se justificar por um quadro inflamatório persistente do trato gastrintestinal após a Covid-19 que, quando exposto ao adenovírus, leva a uma resposta imunológica exacerbada que inflama o fígado. Mas ainda não há estudos e dados que comprovem a hipótese”, esclarece Rafael Ximenes.
Adenovírus e hepatite infantil: qual a relação?
A Organização Mundial da Saúde afirma que, em muitos casos, a infecção por adenovírus foi identificada nas crianças que tiveram hepatite, e a relação entre os dois têm sido investigada.
O especialista acrescenta que uma das hipóteses é que o organismo das crianças tenha uma resposta inflamatória específica ao adenovírus por ser um agente infeccioso comum na infância, e por conta da imaturidade do sistema imunológico.
Transmissão da hepatite infantil
Caso o adenovírus seja realmente a causa do surto de hepatite infantil, os principais meios de transmissão se dão por via fecal-oral, e por via respiratória. Para prevenir o contágio, a OMS recomenda o uso de máscaras, higienização correta das mãos e alimentos e evitar contato com pessoas resfriadas.
O órgão de saúde recomenda que os responsáveis levem a criança a um médico, e se possível em um hepatologista infantil caso ela apresente indícios da infecção.
Hepatite em crianças: sintomas
As crianças que enfrentaram o quadro de hepatite aguda grave têm apresentado sintomas pouco específicos, como fraqueza, falta de apetite, desconfortos abdominais, diarreia e febre. Casos mais graves, de acordo com a OMS, são marcados por icterícia, urina escurecida, sonolência e até mesmo confusão mental.
A entidade de saúde divulgou, no fim do mês de junho, que 18 crianças morreram por conta da hepatite infantil ao redor do mundo desde o começo do surto. O órgão ressalta que também foram feitos pelo menos 45 transplantes de fígado devido à doença.
Surto de hepatite: idades que estão mais suscetíveis
O que chamou a atenção para a doença foi o fato de que a hepatite misteriosa atinge principalmente crianças e adolescentes na faixa etária dos 0 aos 16 anos, de acordo com a OMS.
Rafael explica que as instituições de saúde internacionais ainda não têm uma explicação para o fato de apenas crianças e adolescentes serem atingidas pelo surto, mas acredita-se que isso pode estar relacionado com a imaturidade do sistema imunológico infantil, ou com uma maior exposição ao agente causador, seja ele qual for.
O médico ressalta que as entidades de saúde devem se atentar ao surto de hepatite em crianças pelo potencial de gravidade de alguns casos, visto que algumas crianças que ficaram doentes precisaram do suporte de UTIs e até mesmo transplantes de fígado.
Tratamento da hepatite misteriosa
De acordo com Rafael Ximenes, o tratamento da doença consistem no controle dos sintomas e monitoramento das atividades do fígado. Caso o quadro avance, o transplante do órgão pode ser necessário.
Para proteger as crianças contra a doença, o especialista recomenda cuidados com a higiene, além de proteção com uso de máscaras e cuidados ao tossir e espirrar.
Como prevenir hepatite aguda em crianças
Caso o agente causador do surto de hepatite seja de fato o adenovírus, o essencial é cuidar da higiene para que a doença não se propague.
“Este é um vírus eliminado nas fezes do indivíduo infectado e que pode contaminar as mãos, água e alimentos. Então cuidados de higienização das mãos, uso de água tratada e filtrada ou fervida e cuidados na preparação de alimento, em especial crus, poderiam reduzir a transmissão. O adenovírus também pode ter transmissão respiratória, então o uso de máscaras e cobrir o nariz e a boca ao tossir ou espirrar seriam outras medidas de prevenção”, aconselha.
Vale lembrar também que não há uma vacina que seja capaz de prevenir a hepatite aguda grave, uma vez que ainda não se sabe qual seja o principal agente causador da doença.
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