O que é a condição cardíaca rara da filha de Juliano Cazarré? Especialista explica

por | jun 22, 2022 | Saúde

Ao dar as boas-vindas à nova filha, Maria Guilhermina, o ator Juliano Cazarré fez um longo desabafo sobre o fato de que, já no pré-natal, foi descoberta uma cardiopatia congênita. Agora, logo após o nascimento, Maria passou por uma cirurgia para corrigir o problema – que, conforme explica a cardiologista pediátrica Juliana Rodrigues Neves a Tá Saudável, apesar de ser uma doença complicada, pode ser revertida.

Juliano Cazarré revela nascimento da filha e doença rara da caçula

Usando seu perfil no Instagram, o ator Juliano Cazarré anunciou nesta quarta-feira (22), o nascimento de Maria Guilhermina, caçula de seu relacionamento com a esposa, Letícia Bastos. Em um post emocionado, o ator, que já é pai de cinco crianças, revelou que a pequena tem um problema cardíaco identificado durante a gestação – e, por isso, logo que nasceu, ela teve de ser encaminhada para uma cirurgia.

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“Maria Guilhermina chegou com um coração especial, dilatando também os nossos corações e os de todos ao seu redor! Nos exames pré-natais, descobrimos que ela teria uma cardiopatia congênita rara chamada Anomalia de Ebstein. Ao longo da gestação, os médicos perceberam que o caso dela seria um dos mais raros e graves dentro da anomalia e, por isso, decidimos vir para São Paulo para que ela pudesse nascer com uma equipe mais especializada”, disse ele.

Na sequência, o ator afirmou que a filha nasceu forte, surpreendendo os médicos, e que a cirurgia correu bem. Agora, a bebê está estável e “segue se recuperando e recebendo os melhores cuidados”. “Vamos seguir cuidando de tudo para que, em breve, possamos levá-la para casa”, escreveu o ator.

Anomalia de Ebstein: o que é e por que é grave

Conforme explica a cardiologista pediátrica Juliana Rodrigues Neves, diretora do Departamento de Intervenções em Cardiopatias Congênitas da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHC), a Anomalia de Ebstein é uma doença que faz a “porta de entrada” do coração, chamada válvula tricúspide, estar em um local diferente do habitual. Isso, por sua vez, dificulta que o sangue já “usado” retorne ao pulmão para ser devidamente oxigenado.

Coração
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Já rara, a doença é ainda mais incomum – e grave – em quadros como o da filha de Cazarré. “Na Anomalia de Ebstein, esta válvula está implantada mais baixo do que seria o normal, e a doença é mais grave quanto mais baixa for essa implantação da válvula. Tem várias formas anatômicas da anomalia, e a mais grave é a apresentação neonatal, porque é preciso intervenção logo após o nascimento, e porque, na forma neonatal, a válvula está tão baixa que impede a passagem de sangue para o pulmão”, pontua a cardiologista.

Nestes casos, segundo ela, há dois caminhos. Em alguns quadros, o recomendado é que se faça uma cirurgia de peito aberto na qual o médico responsável cria artificialmente uma passagem para que o sangue vá até o pulmão. Já em outros, um cateterismo é feito para instalar um stent (instrumento pequeno e metálico que, dentro de uma veia ou artéria, se expande, mantendo-a aberta) em uma via específica.

“Neste procedimento de cateterismo, nós colocamos um stent em uma veia que todo bebê tem dentro da barriga da mãe, o canal arterial, que tende a fechar após o nascimento. O stent impediria o fechamento do canal”, explica a diretora do SBHC, ressaltando que ainda há de se avaliar como está a passagem de sangue entre o lado esquerdo e o direito do coração. “Esta passagem deve ser ampla. Todo bebê tem esta passagem quando nasce e, na Anomalia de Ebstein, se ela não for ampla, deve ser ampliada seja por cateterismo ou cirurgia”, afirma.

Circulação sanguínea
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Casos como o de Maria Guilhermina, da Anomalia de Ebstein em sua apresentação neonatal, ocorrem, segundo a médica, em apenas um a cada 20 mil bebês nascidos vivos – e, apesar de geralmente ser grave, tudo depende do posicionamento da válvula tricúspide. “Tem bebês que nascem com a doença e têm a implantação da válvula um pouco mais próxima do que seria o normal, e aí não ocorre o impedimento da passagem do sangue. Em casos assim, o bebê pode ter uma vida normal, sendo acompanhado para definir uma abordagem cirúrgica mais tardia, na infância ou na vida adulta”, afirma.

Por fim, a especialista afirma que, apesar destas primeiras intervenções permitirem o crescimento da criança, eles são paliativos, e não definitivos. Isso significa, segundo ela, que são esperados mais procedimentos ao longo da vida, que podem tanto ajudar o coração a funcionar bem apenas usando o lado esquerdo, quanto reparar totalmente a anomalia em uma cirurgia reparadora. Em todos os casos, porém, o paciente deve seguir com acompanhamento cardiológico periódico.

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