Doença de pele que causa morte em gatos está se espalhando em humanos no Brasil

Uma grande incidência de  esporotricose vem se espalhando pelo Brasil, especialmente no estado do Rio de Janeiro, e chama atenção de dermatologistas, veterinários e pesquisadores da área de saúde. Trata-se de uma micose causada por fungo que atinge principalmente gatos, mas que também pode ser transmitida dos animais para pessoas e é possivelmente fatal.

Em 2016, mais de 13 mil felinos foram diagnosticados com a doença no município do Rio de Janeiro. Desde 1998, mais de 5 mil pessoas foram tratadas no Laboratório de Pesquisa Clínica em Dermatologia Infecciosa do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (INI/Fiocruz), também no Rio, que está estudando a enfermidade.

De acordo com o dermatologista Dr. Dayvison Freitas, do INI/Fiocruz, até 1997, era mais comum que a doença atingisse somente quem manuseava terra – habitat natural do fungo – com frequência, mas que, nos últimos anos, os gatos têm sido mais afetados e transmitido a doença. “Ainda não se sabe exatamente por que, mas gatos têm alguma falha na imunidade que os tornam mais suscetíveis à doença e como estão em contato constante com a terra para caçar ou enterrar dejetos, por exemplo, acabam sendo contaminados”, explica o médico.

Micose em gatos pode ser transmitida a humanos

Além de atingir felinos, a doença também pode contaminar pessoas. A transmissão acontece principalmente por mordidas e arranhões de gatos doentes, que acabam passando o fungo para a pele de humanos, e também por contato com terra e objetos contaminados. Por isso, é importante ficar atento a sinais que indiquem a doença nos animais.

Apesar de a maior parte dos casos estar concentrada no estado fluminense, Dr. Dayvison afirma que outros lugares, como a cidade de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e a Zona Leste da cidade de São Paulo, também vêm registrando um número crescente de ocorrências.

Sintomas: como identificar?

“O primeiro sintoma da doença no gato é a ferida aberta, que muitas pessoas confundem com machucados de brigas entre os animais. Além disso, é comum que o animal comece a espirrar muito por conta da irritação causada pelo fungo”, afirma o dermatologista.

Em humanos, o primeiro sintoma é o surgimento de uma bolinha de pus, semelhante a um pelo encravado, que vira rapidamente um caroço e estoura. “Se o gato arranhou a mão de uma pessoa, começa aparecer um caroço no local e, em sequência, diversos outros, formando uma fileira”, explica o Dr. Dayvison.

Riscos: há perigo?

De acordo com o médico, a doença geralmente fica restrita à pele e não tem outros efeitos no organismo. Em alguns casos, pode ser fatal, apesar de estes serem raros. “Se o paciente tem a imunidade muito baixa, como em casos de pessoas muito idosas, com AIDS ou fazendo tratamentos quimioterápicos, o fungo pode se espalhar pelo corpo, causando meningite, infecção nos ossos ou nos pulmões”, alerta o médico.

Dr. Dayvison ressalta que, até agora, nesses mais de 5 mil casos no INI/Fiocruz, foram registradas cerca de 10 mortes decorrentes da doença.

Prevenção

Se existir suspeita de que o gato está doente, é importante procurar um veterinário rapidamente e isolar o animal enquanto o tratamento é feito. Mas, para evitar a exposição dos animais, o melhor caminho é a responsabilidade. “O dono do gato precisa ser responsável por ele e ficar atento a sintomas que possam indicar problemas de saúde. É importante também higienizar os ambientes, utilizar luvas e ferramentas adequadas ao manusear animais contaminados ou mexer com a terra de locais onde há incidência de esporotricose”, alerta o médico.

Vale ressaltar também que não há necessidade de sacrificar animais com a doença e que, se o gato morrer infectado, o corpo deve ser cremado e não enterrado, já que o fungo pode se espalhar pela terra.

Tratamento

O principal tratamento é realizado com o antifúngico itraconazol, tanto em pessoas quanto em gatos, e deve ser prescrito por um médico dermatologista ou veterinário. No Rio de Janeiro, onde a doença tem se espalhado mais, o tratamento já está disponível em Postos de Saúde locais e com médicos dos Serviços de Atenção Básica do Programa Saúde da Família. Dependendo da gravidade do caso, o paciente pode ser encaminhado para o INI/Fiocruz. “É um tratamento demorado, pode levar meses para ser concluído, mas é efetivo e simples de ser realizado”, pontua o Dr. Dayvison.

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