Surto de hepatite infantil pode ter chegado à América Latina: o que já se sabe sobre o quadro

Monitorado pela Organização Mundial da Saúde desde 15 de abril, o surto misterioso de casos de hepatite grave em crianças segue se espalhando e pode ter recentemente chegado à América do Sul. Em dois comunicados, o ministério da saúde da Argentina informou recentemente que monitora alguns casos suspeitos – e, embora ainda não haja uma conclusão sobre as origens da onda de casos, a OMS tem divulgado algumas hipóteses para isso.

Onda de hepatite em crianças pode ter chegado à América Latina

Após diversos casos de hepatite grave em crianças sem causas aparentes serem registrados na Europa (especialmente no Reino Unido) e nos Estados Unidos, a OMS passou a monitorá-los e, até o dia 21 de abril, 169 ocorrências já haviam sido contabilizadas pelo órgão em 11 países. Recentemente, porém, comunicados do ministério da saúde da Argentina mostram que o problema pode ter deixado de ser algo exclusivo da Europa e dos Estados Unidos, chegando também à América do Sul.

Fígado
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Em 4 de maio, o órgão publicou uma nota curta afirmando que foi identificado em um hospital infantil da cidade de Rosário, em Santa Fé, o caso de uma criança de 8 anos com quadro confirmado como hepatite aguda grave de origem desconhecida. No dia seguinte, porém, o ministério voltou a público para detalhar a questão, afirmando que o que se tem, na realidade, é um total de oito casos de crianças com suspeita deste quadro, todos sob investigação de autoridades em epidemiologia.

Apesar de ter emitido o comunicado devido ao alerta feito anteriormente pela OMS, no entanto, o ministério da saúde argentino frisou que, a princípio, os casos são isolados, não apresentam conexão entre si e sua quantidade não foge do número de casos habitualmente notificados no país anualmente. “Em todos os anos se registram casos com quadros similares de hepatite aguda grávida sem diagnóstico”, diz a segunda nota sobre o assunto à imprensa.

Hepatite grave em crianças: o que já se sabe

  • Como é o quadro?

A hepatite, quadro caracterizado por inflamação no fígado, é geralmente causada pelos vírus hepatite A, B, C D e E ou por consumo exagerado de bebida alcoólica a longo prazo. Nos casos identificados no surto em questão, porém, nenhuma destas causas foi identificada, e é justamente isso que torna a questão tão alarmante.

Criança com dor de barriga
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Segundo a OMS, muitas das crianças afetadas apresentaram sintomas gastrointestinais (dores abdominais, diarreia, vômito), níveis elevados de enzimas do fígado e icterícia (aspecto amarelado na pele), todos sinais comuns da hepatite causada por vírus ou causas externas. Ao contrário do que acontece normalmente, porém, a maior parte dos pacientes não apresentou febre.

  • É perigoso?

Apesar de haver a possibilidade de tratar o quadro ou de o próprio organismo dar conta da doença, a hepatite pode, sim, evoluir para óbito – e, de acordo com informações da OMS, ao menos uma morte dentre os casos identificados de hepatite aguda em crianças sem causas aparentes já foi registrada.

  • Quais as possíveis causas?

De acordo tanto com a OMS quanto com o NHS, serviço de saúde pública do Reino Unido, a investigação aponta, atualmente, para a influência da infecção por um tipo de adenovírus no quadro de hepatite. Apesar de não ser comum ver a doença acontecer após um quadro de adenovírus em crianças previamente saudáveis, esta é a hipótese mais aceita até agora, e certos fatores podem ter contribuído para uma situação incomum ter passado a acontecer com mais frequência.

Exame de identificação do adenovírus
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Segundo o NHS, estuda-se a possibilidade de quadros prévios de Covid-19 e outras infecções antes da infecção pelo adenovírus contribuírem para o surgimento da hepatite. Além disso, é possível também que a baixa exposição do organismo destas crianças a vírus e outras doenças durante a pandemia possa ter mudado a susceptibilidade delas ao quadro – ou até que o genoma do adenovírus tenha mudado ao longo dos últimos anos.

Não há até agora, qualquer evidência de que o problema tenha ligação com a vacinação contra a Covid-19, especialmente porque os casos de hepatite aguda têm sido mais frequentes em crianças menores de cinco anos, e as vacinas ainda não foram recomendadas para esta faixa etária.

  • É possível prevenir?

Como a pista mais forte aponta para a relação entre a hepatite e a infecção pelo adenovírus, o NHS informa que a única técnica de prevenção, a princípio, é manter boas práticas de higiene pessoal. Lavar as mãos com frequência e orientar que crianças façam o mesmo fazem parte da prevenção contra este e outros vírus.

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