Maioria dos depressivos não sabe que tem a doença, que pode levar à morte

por | jun 30, 2016 | Saúde

A depressão sempre existiu na vida humana, mas nem sempre foi reconhecida como uma doença. Até hoje, muitos pacientes não recebem o tratamento adequado por ignorarem os sintomas ou simplesmente não saberem identificá-los. Um estudo feito a nível global apoiado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) revelou que, no Brasil, apenas 37% dos depressivos graves recebem algum tipo de tratamento, e que a maioria nem sabia da sua própria condição.

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O psiquiatra Dr. Fernando Portela, membro da Associação Brasileira de Psiquiatria, explica que existem dois tipos de depressão. A primeira é a reativa, que se manifesta devido a algum evento na vida do indivíduo que o deixou daquele jeito, como a perda de um ente querido ou de um emprego importante, e que eventualmente some de forma natural. O outro tipo é a doença em si, que não tem causa aparente e não necessariamente é desencadeada por um acontecimento triste. É uma condição pré-existente no indivíduo, que se diferencia da melancolia por ser um quadro prolongado e que independe da iniciativa do paciente. “O melancólico sabe que algo está errado e procura fazer alguma coisa para melhorar. A pessoa depressiva é tomada, é engolida pela doença”, define o psiquiatra.

O especialista descreve a depressão como um estado que dura pelo menos duas semanas em que o paciente perde o interesse nas coisas que anteriormente fazia. “O indivíduo se sente ansioso, pode apresentar perda de apetite ou fome maior do que o normal, perda do interesse sexual que antes tinha e dificuldade com o sono, passando a acordar muito cedo. Ele começa a se amofinar, não consegue sair desse estado e isso o deixa angustiado e preocupado”, descreve o especialista. “Nos casos mais agravados, o sujeito não sai mais de casa, acorda com dificuldade, o dia para ele é sombrio, e o grau de angústia chega a tal ponto que ele pode chegar ao suicídio”, completa.

Existem outras formas nas quais a doença pode se manifestar. Além da depressão menor e maior, descritas acima, existe também a distimia, condição em que o paciente se mostra constantemente irritado, sentindo-se insatisfeito com tudo, mostra baixo rendimento no trabalho e permanece em um estado de inquietude e insatisfação. Sua autoestima fica muito baixa, pois sente que não consegue trabalhar direito, nem satisfazer a família ou os amigos, e também apresenta falta de interesse em geral. A distimia só é diagnosticada quando o paciente apresenta os sintomas por, no mínimo, dois anos.

Outra variação da doença, que o Dr. Fernando descreve como sendo muito grave, é o transtorno bipolar, caracterizado pela mudança abrupta de humor. “Em um momento a pessoa está eufórica, falante, e no próximo cai em uma depressão profunda: não toma banho, não se cuida, não sai mais de casa e pode, inclusive, cometer suicídio”, descreve.

A depressão pode até causar dores físicas, como a lombar, articulares, enxaqueca, entre outras. Segundo o psiquiatra, as causas dessas reações ainda são um grande enigma, mas é possível que fatores imunológicos tenham participação.

O tratamento muitas vezes é acompanhado de visitas ao psicoterapeuta, mas o fundamental é a medicação, que, segundo Dr. Fernando, é a responsável por tirar o paciente da depressão. “O ponto mais importante é que o médico oriente o paciente sobre o que está acontecendo e deixe muito claro que o tratamento será longo. O antidepressivo não age da noite para o dia, geralmente leva de 15 dias a um mês para fazer efeito e o paciente se sentir bem. Mas o tratamento não acaba aí, pode se prolongar por meses, anos ou pela vida toda. O medicamento deve ser mantido até que os neurotransmissores sejam equilibrados”, explica. “O grande problema é quando o paciente abandona o tratamento antes de ficar estabilizado porque pensa que já está bem. Toda vez que ele tem uma recaída, é mais difícil de tratar”, alerta.

Força de vontade

Segundo Dr. Fernando, a “falta de força de vontade” é uma invenção de pessoas que ainda enxergam a depressão com preconceito e não a reconhecem como doença. “Isso só faz com que o depressivo sofra mais. Ele luta internamente para sair daquela situação, mas não consegue”, explica.

Ele explica que a participação da família é fundamental no diagnóstico e tratamento da doença. “Pode acontecer de a pessoa negar que está doente e se recusar a buscar ajuda médica. A família deve apoiá-la e oferecer ajuda, mas nunca abandoná-la. O deprimido não pode ficar sozinho, ele tem que se sentir apoiado, assistido, isso facilita bastante a evolução da doença”, orienta Dr. Fernando, que também recomenda o engajamento em atividades sociais ou mesmo voluntárias para que o paciente desenvolva os sentimentos de obrigação e compromisso.

Fique atenta aos sinais

Segundo a OMS, a pessoa que apresenta ao menos cinco dos seguintes sintomas é considerada depressiva:

Alteração do apetite

Alteração do sono

Desinteresse geral

Desinteresse sexual

Dificuldade de concentração

Baixa autoestima

Pensamentos relacionados à morte

Ansiedade com movimentos repetitivos (mexer constantemente as pernas, mãos, cabeça, etc.)

Paralisia geral (por exemplo, ficar na cama por dias)

Sentimento permanente de culpa e inutilidade

Fadiga ou perda de energia, diariamente

Alteração de peso não intencional