Depressão resistente, que não melhora com medicação, atinge 40% dos brasileiros

por | set 30, 2019 | Saúde

Um estudo realizado com pacientes da América Latina mostrou que 40% dos brasileiros apresentam a chamada depressão resistente, variação da doença que não responde ao tratamento medicamentoso comum e que apresenta maior risco de suicídio.

Realizada em quatro países – Brasil, Colômbia, Argentina e México -, a pesquisa analisou 1.475 pacientes de 33 serviços de atendimento clínico de psiquiatria, observando como é a resposta destas pessoas à medicação convencional usada no tratamento para a depressão.

Depressão persistente, que não melhora com remédios

Ao longo da pesquisa, observou-se que 30% dos pacientes do continente apresentam a depressão resistente. O Brasil foi o local em que se notou a maior taxa entre os países analisados. Dos pacientes que participaram da pesquisa, 40,4% têm o tipo específico da doença.

A chamada depressão resistente acontece quando a pessoa não responde às doses do medicamento prescrito no tempo esperado.

“Às vezes, ocorrem erros de prescrição – o paciente usa uma supradose ou troca o medicamento em um tempo muito curto. Mas, em geral, a depressão resistente ocorre quando ele não responde às doses adequadas no tempo adequado”, afirma Humberto Correa, um dos autores da pesquisa e professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Vale lembrar que o tempo necessário para que um antidepressivo faça efeito pode variar, mas, no geral, o esperado é que em seis semanas seus resultados sejam notados.

De acordo com o médico, pacientes com este tipo da doença são mais difíceis de se tratar e apresentam sintomas da depressão que são mais duradouros.

Correa destaca também o fato de casos de depressão persistente estarem associados a mais comorbidades clínicas, como a diabetes e a hipertensão. “Além disso, o prognóstico dessas outras doenças vai piorar e vai aumentar o risco de suicídio”, adiciona o psiquiatra.

O estudo, que acompanhou por um ano os pacientes em meio a baterias de exames realizados a cada três meses, notou que que a proporção de mulheres com depressão resistente é maior do que homens.

Pessoas mais velhas do que a média de idade do grupo analisado (45,56 anos) e divorciados/separados e viúvos também se destacaram entre os que apresentaram a depressão persistente.

Tratamento para a depressão resistente

O tratamento para a depressão resistente, assim como a tradicional, não deixa de ser por meio de remédios.

Segundo Correa, o que acontece neste caso é que o tratamento da doença pode recorrer à associação de diferentes medicamentos, combinando antidepressivos ou fármacos que potencializam o principal antidepressivo.

“Esses pacientes usarão de dois a quatro medicamentos. Se não melhorarem com o tratamento medicamentoso, há outras opções, como eletroconvulsoterapia – uso seguro de corrente elétrica no cérebro para estimular atividades específicas –, estimulação magnética, entre outros”, explica o médico.

Existe ainda a possibilidade do uso de um spray nasal com um medicamento específico, em conjunto ao antidepressivo, recentemente aprovado nos Estados Unidos e previsto para ser disponibilizado no Brasil em 2020.

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