Remédio caro via SUS, canabidiol: como é o tratamento de Guta Stresser para enfrentar a esclerose

por | set 14, 2022 | Saúde

Em janeiro de 2021, a atriz Guta Stresser foi diagnosticada com esclerose múltipla e, após revelar o diagnóstico ao público, já em 2022, se tornou um grande símbolo de otimismo pela forma como enfrenta a doença. Desde que descobriu a doença, ela trata os sintomas da esclerose múltipla em várias frentes – e, em entrevista, revelou que utiliza não apenas um medicamento caríssimo fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) como um medicamento extraído da cannabis sativa, planta da maconha. Conheça o tratamento que Guta Stresser faz contra a esclerose múltipla.

Tratamento de Guta Stresser contra esclerose múltipla

Doença neurológica autoimune, a esclerose múltipla (EM) afeta a bainha de mielina, estrutura que funciona como “capa” dos neurônios. Conforme o próprio corpo ataca esta estrutura, a transmissão de impulsos nervosos é prejudicada e, com isso, o paciente enfrenta sintomas como dormência, falta de força, tremores, movimentos involuntários, problemas de memória, de fala, entre outros.

Ainda hoje, a EM não tem cura, mas pode, com o auxílio de alguns tratamentos, ficar “adormecida” – algo que, conforme revelou Guta Stresser em entrevista ao veículo ” O Globo“, tem acontecido com ela. Segundo a atriz, exames recentes mostram que suas lesões cerebrais estão estacionadas e, portanto, a doença não está em processo de evolução, tudo graças a duas modalidades terapêuticas que ela vem utilizando há pouco mais de um ano.

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Quando revelou o diagnóstico de esclerose múltipla, Guta afirmou utilizar um medicamento para EM fornecido pelo SUS, bem como canabidiol, substância terapêutica extraída da planta da maconha que é muito utilizada para amenizar especialmente sintomas neurológicos e dor. Ao “Globo”, a eterna Bebel de “A Grande Família” (Rede Globo) revelou que o medicamento em questão é o Fumarato de Dimetila – que, apesar de muito usado no combate à doença, é bastante caro e de difícil acesso. Custando cerca de R$ 6 mil mensais, porém, ele passou a ser oferecido pelo sistema público de saúde de forma gratuita em 2020.

Medicamentos e canabidiol contra EM: como funcionam

Como a esclerose múltipla não tem cura, o tratamento tem como principal objetivo reduzir as crises provocadas pela condição. Entre os remédios mais comuns indicados pelos médicos na terapia contra a EM estão o Avonex, o Copaxone, o Ocrevus e o Tysabr, que são os chamados medicamentos modificadores de doença.

Administrados via oral ou injetável, estes remédios ajudam a mudar o desenvolvimento da EM ao agir diretamente no sistema imunológico, limitando a doença e desacelerando a progressão. Guta Stresser lembra que existem vários tipos de medicamentos para tratar a esclerose múltipla, uma vez que ela se apresenta de diferentes formas nos pacientes. Sendo assim, nem toda pessoa se adapta bem ao mesmo tratamento. “No começo, por exemplo, tive uma reação e fiquei com a pele muito vermelha, sentindo calor. Minha médica falou para insistir e, com o tempo, fui me adaptando”, afirmou a atriz.

Remédios
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Além do tratamento com medicamentos modificadores da doença, Guta ainda faz uso de canabidiol, um dos componentes medicinais extraídos da cannabis sativa, planta da maconha, liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde dezembro de 2019.

Ainda que a Cannabis seja uma droga ilícita em vários países, incluindo o Brasil, nem todos os componentes da planta estão ligados a efeitos danosos. De acordo com Saulo Nader, neurologista do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, as duas substâncias derivadas da planta da maconha que estão sendo utilizadas para fins medicinais ( canabidiol e o THC) não são os “vilões” entre as mais de 1,7 mil substâncias presentes na Cannabis.

Segundo a psiquiatra Eliane Nunes, diretora-geral da Sociedade Brasileira de Estudos da Cannabis (SBEC), estas duas substâncias podem ser usadas em quadros variados devido a diferenças em seus efeitos. “Basicamente, o canabidiol tem uma função mais sedativa, enquanto o THC tem uma função mais antidepressiva”, resume ela.

Uma das maiores dúvidas quanto ao uso medicinal da cannabis é se os remédios têm o mesmo efeito que fumar maconha, mas isso, segundo especialistas, não acontece. O canabidiol e o THC são duas substâncias nas quais foram encontradas funções terapêuticas e, de longe, não são a maior causa de dependência da erva fumada. Sendo assim, os remédios não provocam o “barato” proporcionado pelo uso recreativo da maconha. Além disso, medicamentos do gênero só são obtidos a partir de receituários bem controlados.

A gama de doenças que podem ter remédios à base de cannabis como aliados em seus tratamentos é grande, incluindo mais de 50 males, explica a psiquiatra. “Ela pode ajudar no câncer, doenças autoimunes, doenças degenerativas cerebrais, etc.”.

Além disso, o neurologista afirma ainda que este tipo de tratamento não substitui os outros, apenas entra como um aliado. “São para pessoas que, com remédios existentes, ainda não estão com controle adequado da doença. São poucos os casos em que a gente precisaria lançar mão do canabidiol, mas, para estas pessoas que não têm mais opção, ele é muito bem-vindo para acrescentar no tratamento”, conclui.

As palavras do médico vão ao encontro da opinião de Guta Stresser. Ao falar sobre o uso da “maconha medicinal” em seu tratamento contra esclerose múltipla, a atriz declarou: “O canabidiol entra mais como um amigo. Acredito muito na potência da cannabis na redução de determinados problemas. Ouço muitos relatos de pessoas que sentem o mesmo com seu uso”.

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