Como casos assintomáticos e leves espalham COVID-19 e põem todos em risco

por | mar 19, 2020 | Saúde

Como boa parte das pessoas com COVID-19 apresenta sintomas leves e mal requer atendimento médico para se recuperar, uma grande porcentagem dos quadros acaba não sendo notificada – e, embora muita gente não esteja levando a pandemia a sério por este motivo, estudos e especialistas apontam que pacientes assim têm um papel bastante expressivo na disseminação do novo coronavírus.

Casos não documentados de COVID-19 podem ser os maiores transmissores

De acordo com o site da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 80% das pessoas infectadas por SARS-CoV-2, o novo coronavírus, se recuperam sem precisar de cuidados médicos e, no Brasil, a orientação para pessoas que estão com sintomas leves é a de não sair de casa para não sobrecarregar hospitais. Com isso, é esperado (e sabido) que diversos casos não sejam documentados.

O fato de um caso não ser documentado por ter sintomas muito leves e não requerer atendimento emergencial, porém, não faz com que a pessoa fique impossibilitada de transmitir a doença – e tanto estudos quanto médicos estão alertando para o fato de que boa parte das infecções documentadas são causadas por aquelas não documentadas.

É o caso, por exemplo, de um estudo publicado na plataforma “Science”, que, a partir de dados da epidemia chinesa, revelou que 79% dos casos documentados tiveram origem em pacientes não notificados. Embora cálculos demonstrem que estas pessoas não são tão contagiosas quanto aquelas com sintomas mais expressivos (sua capacidade de transmissão é cerca de 55%), elas representam 86% do total de casos, uma quantidade bastante grande.

Isso, segundo o infectologista João Prats da BP, a Beneficência Portuguesa de São Paulo, ocorre porque, ao apresentar sinais brandos da infecção, muita gente mal percebe que está doente e não se resguarda, fazendo com que o vírus circule entre familiares, colegas de trabalho, amigos e, posteriormente, passe para pessoas que estão fora de seus círculos sociais.

“Geralmente quem tem a doença leve, como crianças e pessoas saudáveis, pode, por ter esses sintomas leves, ter contato com familiares e achar que está tudo bem. Nem percebem que estão doentes”, diz o médico, lembrando que, apesar de a doença ser branda na maior parte dos casos, estas pessoas também podem ter contato com indivíduos mais frágeis.

Além do fato de que pessoas com sintomas leves têm sido apontadas como grandes transmissoras de COVID-19, outros estudos apontaram ainda que os pacientes em geral (de quadros brandos ou graves) podem transmitir a infecção antes que a tosse seca, a febre e outros sintomas comuns do novo coronavírus apareçam.

Conforme demonstra outro estudo, realizado por pesquisadores da Universidade do Texas e cuja publicação prévia foi discutida no site da instituição, de 450 pessoas infectadas com COVID-19, 10% adquiriram a doença a partir de pessoas que estavam infectadas, mas ainda não haviam desenvolvido os sintomas.

Fora isso, diversas pessoas que contraem o vírus não irão desenvolver qualquer tipo de sintomas, mas, mesmo assim, podem transmitir a doença. Segundo o médico, é possível que estas pessoas tenham uma quantidade pequena de vírus no organismo e, como não tossem ou espirram, é mais difícil que haja transmissão, mas, ainda assim, o compartilhamento de objetos como copos e talheres pode ocasionar o contágio.

A importância do isolamento e do distanciamento social

Tanto pelo fato de que pessoas assintomáticas ou pré-sintomáticas podem transmitir a doença (a partir, por exemplo, do compartilhamento de objetos pessoais) quanto pelo fato de que boa parte dos casos não será identificada, o distanciamento social orientado por órgãos de saúde é de extrema importância, e Prats enfatiza isso.

“Se essas pessoas estão com sintomas muito leves, elas pode nem achar que estão doentes, não procurar o médico e não ficar em isolamento. Podem acabar contaminando sem querer principalmente as pessoas de alto risco”, diz ele, se referindo a idosos, portadores de diabetes, doenças cardiovasculares e respiratórias, e imunodeprimidas.

“O distanciamento social acaba sendo uma medida interessante para evitar esse tipo de contaminação”, explica, lembrando que fazer isso no começo da epidemia é essencial. Isso porque, apesar de vírus terem uma taxa básica de transmissão estabelecida, ela acaba mudando em situações como a atual, aumentando de acordo com o momento da epidemia.

A taxa de transmissão de um vírus consiste no número de pessoas para as quais um paciente infectado pode transmitir a doença e, ainda que a do novo coronavírus fique em torno de 2,7 (isto é, cada pessoa infectada transmite o vírus para, aproximadamente, outras três), Prats afirma que ela cresce conforme o contágio se intensifica. “Nessa fase da transmissão exponencial, quando começa a ter transmissão comunitária, esse número pode chegar a 5, 7”, esclarece.

Por este motivo, o médico volta a enfatizar a importância da quarentena. “A nossa ideia com o isolamento é realmente reduzir ao máximo [as transmissões], tentando fazer com que a taxa chegue a menos que 1 e a epidemia não se sustente mais”, conclui.

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