Aula de gastronomia para crianças com síndrome

por | jun 30, 2016 | Saúde

Os benefícios do ato de cozinhar não se limitam apenas ao prazer da degustação. É sabido que a prática também é uma indicação terapêutica. Mais do que isso, pode ser um meio para a autonomia, autoestima e desenvolvimento de jovens e adultos com deficiências intelectuais.

Leia também:

Exame de sangue pode detectar síndrome de Down

Exames podem prever 90% dos casos de síndrome de Down

Exame DNA Livre Fetal: o que é e como é feito

É isso, aliás, que, há sete anos, a ONG Chefs Especiais vem fazendo. Nesse tempo, 300 pessoas já participaram do projeto, que oferece aulas gratuitas de culinária. São pratos simples, mas que já foram ensinados por renomados chefs, como Olivier Anquier e Henrique Fogaça.

Mais de 300 adolescentes e adultos com algum tipo de deficiência intelectual já se sujaram de farinha na ONG  Chefs Especiais – Revista Bianchini

“Nosso foco é a autonomia e a autoestima”, conta Simone Berti, idealizadora do projeto ao lado do marido, Márcio Berti. Além dos chefs, há, ainda, acompanhamento de profissionais especializados para atender às necessidades dos alunos. Nas aulas, explica Simone, são ensinadas receitas que eles mesmos podem reproduzir em casa.

“Você larga uma faca nas mãos de seu filho pequeno? Não. Somente quando você o treinou, mostrou os perigos que aquele objeto pode causar. Assim também é com o fogo. Claro que para tudo isso, mesmo aqueles mais preparados, há necessidade de serem assistidos, mesmo que de longe. Cada caso é um caso. Há alunos que têm todas as condições para elaborar tudo sozinho e há aqueles que precisam de ajuda, como qualquer outro indivíduo que descobre algo novo na vida.”

Mas Simone acrescenta: a meta de construir o instituto foi por conta dos retornos além da cozinha. De acordo com ela, há muitas histórias de melhorias na aprendizagem escolar, nos estímulos corpóreos, na autoestima e até em tratamentos quimioterápicos, entre outros. “Para eles, às vezes, conseguir quebrar um ovo sozinho é um desafio vencido”, relata.

História de vida

Juliana Gonçalves, 17 anos, fez mais do que quebrar um ovo. Aluna da ONG há um ano, foram muitas as cascas quebradas e retiradas nesse período, principalmente quanto à sua socialização. “Juliana tem Síndrome de Down. Conheci o projeto através da indicação da APAE e me interessou muito despertar autonomia na minha filha, pois, infelizmente, não estarei aqui para sempre e minha obrigação é dar direcionamento para que ela possa ter a própria vida, o mais independente possível”, conta Isadora Renê Gonçalves, mãe da adolescente.

“Juliana não gostava de dividir nada. Era muito arisca a regras e, hoje, ela encara sem problemas qualquer regra imposta. A Ju sabe dividir e sabe que ela é muito importante, mas que nem sempre pode ser o centro das atenções”, acrescenta. Mesmo com os bons resultados, a ONG precisa de ajuda.

Durante um longo tempo, o casal Simone e Márcio Berti conseguiu seguir em frente com o projeto apenas com mobilização social. Recentemente inauguraram uma sede no Pacaembu, em São Paulo, e mesmo com o apoio de algumas empresas do ramo não é fácil bancar os custos de R$ 30 mil mensais. “Agora, com a inauguração de nossa sede, precisamos de empresas parceiras e contribuições financeiras e em serviços”, pede Simone.

Isso, contudo, não é motivo para desistirem, pelo contrário, ainda há novidades. “A maior dificuldade é dar os primeiros passos e angariar fundos necessários para estruturar como se deve um espaço adequado. O instituto tem os projetos Down Cooking e Eficientes (para crianças com  deficiência física de 10 a 15 anos), além de outros que levam conhecimento, interação e capacitação, que serão realizados a partir de outubro com grandes parceiros. Um trabalho desses, você faz pela dor ou pelo amor”, resume Simone. “E amor nós temos de sobra”.

Conheça outros conteúdos da revista Bianchini.