Verão sem câncer de pele!

por | jun 30, 2016 | Alimentação

Todo verão é a mesma coisa. “Cuidado com o câncer de pele!”. Dá-lhe campanha para combatê-lo, mas os números não dão trégua – cada vez mais brasileiros são vítimas da doença, que corresponde a 25% dos tumores malignos registrados no país, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca). “O câncer de pele é mesmo o de maior incidência, mais comum até do que o de mama e o de próstata”, afirma Cláudio Lerer, professor do Serviço de Pós-Graduação de Dermatologia da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro. E olha que não é por falta de aviso dos dermatologistas! Muita gente insiste, ainda, nos mesmos erros. No entanto, quando o assunto é cuidado com a pele, não se pode relaxar. Proteja-se, desde já, para evitar problemas futuros e aproveite não só o verão, mas todas as estações do ano, com saúde!

Os vilões

Os tipos mais comuns de câncer de pele, que correspondem a 90% dos casos, são justamente os decorrentes da intensa exposição à luz do dia ao longo da vida, ou seja, provocados pelo efeito cumulativo da radiação solar. Por isso, o sol continua sendo o inimigo número um da pele (e não estamos falando apenas do câncer!). Ele também é o culpado, de acordo com o dermatologista Cláudio Lerer, por cerca de 70% do envelhecimento deste que é o maior órgão do corpo humano. Isso porque emite dois tipos de radiação ultravioleta. “O raio UVA , de aging, é responsável pelo envelhecimento, enquanto o UVB, de burning, é o que queima e traz o risco de câncer”, esclarece Cláudio Lerer.

Percebo que as pessoas têm muito medo de ir ao médico e ouvir o que não desejam, mas esquecem que, quanto mais cedo o câncer for diagnosticado, mais fácil será tratá-lo. O medo só faz passar da hora. Câncer pode ter, sim, cura

Outro fator de risco é a genética, como explica a dermatologista Renata Domingues: “Costumo dizer que câncer não é para quem quer, é para quem pode. É lógico que existem os vários fatores de risco que todas as pessoas, sem exceção, devem evitar, mas a propensão genética também conta”. Justamente por isso, se você mesma já teve câncer, nada a impede de ter novamente. Também é importante saber se na sua família existem ou existiram casos da doença, porque eles entram nos cálculos do risco de desenvolvê-la. A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), aliás, criou um teste que calcula esse risco. Para saber qual é o seu, clique aqui e descubra.

A cor da pele também conta – e muito – na propensão a desenvolver a doença. “Ela é muito mais comum na pele clara. Quanto mais branca, maior o risco”, afirma Cyro Festa Neto, dermatologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), o que faz com que loiros e loiras de olhos claros precisem ficar ainda mais alertas. Pessoas com esse tipo físico, que ficam facilmente vermelhas e descascam quando se expõem ao sol, têm muito pouca concentração de melanina, responsável pela proteção do DNA da célula da pele. No entanto, atenção, o câncer não escolhe cor. Ele também pode aparecer em homens e mulheres de pele negra, apesar de ser mais raro.

De olhos bem abertos

São três os tipos mais comuns de câncer: o carcinoma basocelular é o mais freqüente e, ainda bem, o menos grave, porque não invade outros tecidos. “Ele, assim como o segundo tipo mais comum de câncer, o carcinoma espinocelular, costumam aparecer a partir dos 50 anos de idade e se caracterizam por lesões pequenas, que vão crescendo lentamente, e por feridas que sangram e não cicatrizam”, alerta Cyro Neto. Já o melanoma é o câncer mais grave, porque dá metástase em um piscar de olhos. “Ele se manifesta normalmente como uma pinta que muda de cor, tamanho ou forma”, explica Cyro. E pode afetar tanto jovens a partir de 30 anos de idade, como, mais raramente, crianças.

As áreas do corpo em que a doença costuma aparecer variam de homem para mulher. “Nos homens, por exemplo, o câncer pode se desenvolver no lábio inferior, enquanto nas mulheres é mais difícil aparecer nessa região, porque elas adoram usar batom, que, bem ou mal, as deixam mais protegidas do sol”, explica o dermatologista Cláudio Lerer. E assim seguem as comparações: no sexo masculino, o câncer de pele também pode aparecer com freqüência nas costas, já que nenhum marmanjo na praia, no clube ou seja onde for, deixa outro cidadão passar protetor em suas costas. “Além disso, ainda existe aquela mentalidade de que ‘creme’ é coisa de mulher”, destaca Cyro Neto.

Outra desvantagem dos homens é que eles geralmente não têm cabelo para cobrir as orelhas. Por isso, não é raro ver o câncer surgindo nessa região. Se forem carecas, é tiro e queda a doença dar o ar da graça (ou melhor, desgraça). Mas, tanto em homens quanto em mulheres, ele é comum no couro cabeludo. “A área pode até ser protegida pelo cabelo, mas nunca totalmente”, explica Cláudio Lerer.

O placar parece a favor da mulherada, mas, meninas, não se animem. Vivendo num país tropical como o nosso, é quase impossível sairmos de casa sem um shortinho, saia, vestido ou blusa de alcinha. Aí, já viu, né? Ficamos expostas ao sol quase por completo e, se não estivermos protegidas, ele certamente fará seus estragos. Não à toa, o câncer nas mulheres é muito comum nas pernas e nos braços, que geralmente deixamos descobertos – ainda mais no verão! Em negros e negras, é preciso dar atenção aos lábios, à palma das mãos e à planta dos pés, regiões onde há menos produção de melanina.

Se examine!

Saber reconhecer quando uma pinta, mancha ou sinal podem ser considerados “suspeitos” é um ponto ganho contra a doença. Lembra-se do auto-exame da mama? Então, o mesmo vale para a pele. “Não tem jeito, temos que observar as nossas pintas para sempre”, diz o dermatologista Cyro Neto. Ficando familiarizada com a superfície normal da sua pele, você conseguirá notar facilmente o aparecimento de algo estranho. Mas, “sem neurose”, enfatizam os dermatologistas.

Para o auto-exame ser completo, siga os seguintes passos: no espelho, se observe de frente, de costas e os lados direito e esquerdo; dobre os cotovelos e olhe cuidadosamente as mãos, antebraços, braços e axilas; examine as partes da frente, de trás e dos lados das pernas, além da região genital;
sentada, examine atentamente a planta e o peito dos pés, assim como entre os dedos; depois, vasculhe o couro cabeludo, pescoço e orelhas. Finalmente, examine as nádegas. Fique de olho, também, nas manchas ou sinais em áreas de atrito, como embaixo do elástico do sutiã, da calcinha, regiões que são depiladas e, no caso dos homens, atenção à barba, que está em constante atrito com a gilete.

Feridas na pele que demoram a cicatrizar, variação de tamanho, cor, forma, altura ou textura de pintas ou sinais, manchas que coçam, ardem, descamam ou sagram – qualquer um desses aspectos que, à princípio, parecem inocentes, pode ser um sinal de alerta e motivo parar procurar o dermatologista, pois pode se tratar de um câncer de pele. Para o melanoma, existe até uma regrinha de identificação, a do ABCD, conforme explica e alerta o dermatologista Cyro Neto: ” A de assimetria, B de bordas irregulares, C de cor variável e D de diâmetro. Se você perceber alguma lesão na sua pele com uma metade diferente da outra, contorno mal definido, várias cores e diâmetro maior do que 6 mm, não deixe de procurar um dermatologista o mais rápido possível”.

É isso mesmo. Se algum sinal chamar a sua atenção, não hesite em procurar orientação médica. É o dermatologista quem tem o olho clinicamente treinado para diagnosticar qualquer problema na sua pele, sendo essencial visitá-lo ao menos uma vez por ano. As mais branquinhas podem encurtar o intervalo para seis meses, assim como quem já teve câncer. No consultório, sua pele será examinada e, se houver alguma suspeita de câncer não confirmada apenas a olho nu, uma biópsia deverá ser feita pelo médico, ou seja, um pedacinho da mancha ou sinal será retirado para análise laboratorial. No entanto, a chamada dermatoscopia é um novo tipo de exame que identifica a existência e a possibilidade de desenvolvimento de tumores em pintas, verrugas e manchas, sem a necessidade de cortar a pele ou provocar qualquer outro tipo de desconforto. Um aparelho faz a leitura da pele, ampliando-a em até 40 vezes.

Tem cura!

“Percebo que as pessoas têm muito medo de ir ao médico e ouvir o que não desejam, mas esquecem que, quanto mais cedo o câncer for diagnosticado, mais fácil será tratá-lo. O medo só faz passar da hora. Câncer pode ter, sim, cura”, destaca Cláudio Lerer. Os tratamentos são variados e dependem de fatores como tipo de câncer, tamanho, região afetada, idade do paciente etc. Vão desde a tradicional cirurgia, no próprio consultório médico, até a moderna terapia fotodinâmica.

A cirurgia é indicada para os melanomas que, por serem mais profundos, só podem ser tratados dessa forma. Eles precisam, inclusive, serem removidos com uma margem de segurança. “Retiramos entre 1 e 2 cm de pele para além das bordas da lesão e, se o câncer estiver no estágio inicial, não é preciso nem recorrer à quimioterapia ou radioterapia”, tranqüiliza Cláudio Lerer. Já a terapia fotodinânima é a opção mais recente de tratamento para os carcinomas. “Um creme especial é colocado na lesão e ativado por uma luz vermelha de onda específica, estimulando a formação de substâncias que destroem as células tumorais”, explica Cláudio. O procedimento é realizado em duas sessões com intervalo de uma semana, sem anestesia nem marcas ou cicatrizes.

Outras opções são a crioterapia e a imunoterapia. A primeira técnica consiste em congelar as lesões e áreas ao redor com nitrogênio líquido, provocando a morte do tecido. No entanto, esse procedimento pode resultar em perda de pigmentação da pele e depressão no local onde estava o câncer. Já a imunoterapia é, segundo o dermatologista Cyro Neto, um tratamento que utiliza pomadas na lesão cancerígena para estimular a reação do organismo.

O verdadeiro combate

Os tratamentos podem até ser simples, mas o câncer não é. Portanto, o melhor e mais inteligente a fazer é mesmo prevenir, a começar pelos cuidados com o sol. “Não existe fotoproteção ideal, mas sim uma soma de fotoproteções, desde a infância”, afirma Cyro Neto. Tome nota dos principais cuidados!

– Evitar exposição solar entre 10h e 15h. “No entanto, lembre-se, às 7h a radiação UVB pode até estar diminuída, mas a UVA, do envelhecimento, está lá”, alerta Cláudio Lerer. Por isso a importância do filtro.

– Passar protetor solar com FPS 15, no mínimo, sempre que se expor ao sol e não apenas quando for à praia. “O hábito de passar protetor solar deve fazer parte do nosso dia-a-dia. Se ele entra na nossa rotina, como tomar banho e escovar os dentes, aí não fica chato. É isso que devemos ensinar aos nossos filhos desde pequenos”, aconselha Cláudio. No entanto, de acordo com ele, só depois de seis meses o filtro é liberado para os bebês.

Além disso, segundo a dermatologista Renata Domingues, não basta aplicar o filtro apenas uma vez e pronto. “É preciso repassá-lo de duas em duas horas e, se estiver na praia ou na piscina, sempre que sair da água, mesmo que o produto seja à prova d’água”, frisa. Outros fatores como o suor e a areia que gruda na pele também acabam retirando a camada protetora do produto. Se você estiver na sombra, ótimo, mas, ainda assim, não pode dispensar o filtro, já que pegamos não só o sol que vem de cima, mas também os raios que são refletidos pelos lados. “Na praia, por exemplo, a areia reflete 30% da luz. Já a neve reflete ainda mais, 90%, mas a diferença é que, no frio, estamos todos cobertos”, compara Cláudio Lerer.

“O mormaço também queima. 90% da radiação ultravioleta passa pela nuvem branca”, completa. Entretanto, segundo o dermatologista, a preocupação não é apenas com a luz do sol, mas também com a de casa, do escritório… “Cada oito ou 10 horas debaixo de luz fluorescente equivale a 15 ou 30 minutos de luz do dia”, compara. E se você pensa em fugir do litoral para a serra, achando que vai estar mais protegida lá em cima, ledo engano. Cláudio conta que o sol da montanha queima mais. “A cada 300m que se sobe, o percentual de ultravioleta aumenta em 4%”, revela.

– Usar bonés, chapéus, óculos-escuros e levar barraca quando for à praia. “Para roupas, opte por tecido de algodão, que bloqueia a radiação solar melhor do que o tecido sintético”, aconselha Cláudio Lerer. Hoje em dia, existem até tecidos e óculos escuros com fotoproteção. Para a praia, as melhores barracas, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia, são as feitas de algodão ou lona, que absorvem 50% da radiação ultravioleta. As de nylon formam uma barreira pouco confiável: 95% dos raios UV ultrapassam o material.

– Esqueça a idéia de que bronzeado significa saúde, porque é justamente o contrário. “O bronzeado nada mais é do que um pedido de socorro da pele. As células, ao serem expostas ao sol por muito tempo, produzem muita melanina para proteger o seu DNA. Se bronzeou, é porque o filtro falhou”, afirma Renata Domingues. Ela diz que é importante, sim, pegar sol, porque faz bem (desde que não naquela tal faixa de horário entre 10h e 15h), mas que essa história de ficar deitada tomando banho de sol é coisa do passado. “Hoje, precisamos ter em mente que isso não é saudável”, afirma. Bronzeamento artificial, nem pensar! “É radiação ultravioleta pura”, alerta Renata. A prática, além disso, é contra-indicada pela Sociedade Brasileira de Dermatologia.

O importante, portanto, é saber aproveitar os dias ensolarados, as férias na praia e as atividades ao ar livre sem prejudicar a saúde. De olho na pele, bom verão!