Respirando saúde

por | jun 30, 2016 | Alimentação

Todo ano, o inverno traz seus assuntos típicos para as rodinhas de conversa: a promoção de uma pousada na serra que alguém descobriu, a fulana do lado que não sabe se vestir no frio, os quilos que se ganharam com o último queijos e vinhos e, claro, receitinhas caseiras para aplacar as gripes e alergias de época. Em relação a esse ultimo tema, quase tudo o que é dito é conversa pra assoar nariz de boi. Problemas respiratórios fazem mesmo parte da estação do frio e, para lidar com eles, é preciso muito cuidado, principalmente com a prevenção. E estar atenta aos sintomas, porque eles podem denunciar problemas mais sérios do que simples viroses sazonais.

Na maior parte das vezes, as alergias e infecções respiratórias costumam atender por um conjunto básico de sintomas. E não é preciso ser médico para saber, pelo menos por alto, do que se trata ao perceber a presença da tosse, do chiado no peito, coriza, espirros, coceiras e falta de ar. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia, cerca de 30% da população sofre com esses problemas no inverno. Embora eles existam durante o ano todo, nessa época a incidência é maior em função das inversões térmicas, que facilitam a concentração de poluentes nas camadas mais baixas da atmosfera, portanto, mais próximas dos nossos narizes. Isso só agrava as causas principais das gripes, refriados e alergias, que são as infecções virais.

Na alergia, o paciente fica sensível a substâncias como pólens, pêlos de animais, fungos e, principalmente, os ácaros. Esses bichinhos, parentes microscópicos das aranhas, são os principais agentes das alergias respiratórias. “Eles adoram ambientes quentes e úmidos e estão sempre fazendo parte da poeira doméstica. Se encontram com mais facilidade no quarto de dormir, em locais como o travesseiro, cobertores, casacos, cortinas e tapetes”, explica o alergista Jorge Andrade Pinto, do Hospital das Clínicas de Minas Gerais. Para acabar com essa farra, são necessárias algumas medidas preventivas, como manter a casa bem ventilada e ensolarada. Na hora de limpar, nada de varrer e levantar a poeira, prefira o pano úmido. “O aspirador também pode ser usado, mas preferencialmente quando o alérgico não estiver em casa, porque o aparelho também levanta poeira”, acrescenta o médico. Tirar casacos e cobertores do armário com antecedência ao uso e lavá-los também é importante.

Para quem tem o problema com freqüência, medidas mais ofensivas são necessárias, como encapar colchões e travesseiros com capas de plástico, para que sejam lavadas quinzenalmente, além de evitar no quarto objetos que acumulem poeira, como livros e bichinhos de pelúcia. Sobre os sprays e aparelhinhos elétricos que prometem acabar de vez com os ácaros, o pneumologista Paulo Augusto Camargos, da UFMG, comenta que eles podem não ser tão eficazes assim. “Essas e outras formas de controlar mofos e ácaros podem levar a família a se acomodar, tomando ainda menos medidas na área de limpeza do ambiente”, diz ele.

Gripes e resfriados, apesar de, para muita gente, parecem bobagens corriqueiras, merecem também muita atenção, principalmente com relação ao tratamento sintomático, quase sempre marcado pela automedicação. Remédios para o problema são muito usados, mas falta comprovação científica sobre sua eficácia na literatura médica. Todos os especialistas recomendam que se evite o uso de descongestionantes, antitussígenos e antiinflamatórios. Cama, vitamina C e analgésicos simples, como o paracetamol, para aliviar as dores e a febre, ainda são as melhores soluções para os sintomas. “As gripes e resfriados são doenças autolimitadas, ou seja, se curam sozinhas, e tendem a desaparecer em uma semana, sem tratamento ou complicações. Talvez, uma maior repercussão clínica possa ocorrer nas infecções pelo vírus Influenza, com febre alta, dor muscular mais intensa, mal-estar, conjuntivite e faringite, além de coriza e tosse”, comenta o pneumologista Clemax Couto Sant’Anna, vice-presidente da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro. É bom lembrar, no entanto, que é importante estar atenta aos sintomas a à duração dos mesmos. Se, em uma semana, eles não se desaparecerem ou se atenuarem, vale uma visita a um especialista.

Novamente, prevenção é a alma da saúde no caso das doenças respiratórias. Ela pode começar com uma boa alimentação, equilibrada em vitaminas, e na prática de exercícios físicos. Outra ótima solução para quem não quer cair de cama é a vacina contra a gripe. “Ela tem dado resultados excelentes, por mais que, em algumas pessoas, gere uma pequena indisposição no dia seguinte à vacinação. Mas depois, é pelo menos um ano inteiro sem esse tipo de problema”, assegura o pneumologista Décio Pieronte, lembrando, entretanto, que é importante uma análise profissional para que o tratamento seja seguro e eficaz. No mais é se cuidar para aproveitar o que o inverno tem de bom, como até mesmo cobertor e caminha. Mas com a saúde no lugar.