O perigo da rubéola

por | jun 30, 2016 | Alimentação

Na lista de doenças infantis contagiosas, como sarampo, catapora e caxumba, a rubéola é mais uma daquelas doenças bobas, a princípio inofensivas, que dão e logo passam, como a gripe, mas que pode se tornar um verdadeiro problema para as futuras mães. Transmitida por um vírus, a rubéola, que leva esse nome por conta do aspecto avermelhado que a pele da pessoa contaminada pode assumir, é uma ameaça quando identificada durante a gestação, porque pode afetar a saúde do bebê ainda no útero. Todo cuidado é pouco, mas, com ela, a melhor saída realmente é a prevenção.

O aumento nos casos de rubéola vem assustando o país, Por isso, entre 9 de agosto e 12 de setembro acontecerá a maior campanha gratuita contra a doença já feita. A intenção é imunizar, só em São Paulo, 13,5 milhões de pessoas entre 20 e 39 anos. Os números para todo país podem chegar a até 70 milhões de pessoas Segundo Marta Heloisa Lopes, professora do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), se não nos tornarmos conscientes do nosso dever de erradicar a doença, ela só tende a continuar afetando cada vez mais pessoas – homens, mulheres e crianças (principalmente entre cinco e nove anos de idade).

Se você não se lembra se já tomou ou não a vacina, não pense duas vezes: tome de novo que não fará nenhum mal

Longe de tosses e espirros

“Os surtos da doença podem ocorrer em qualquer época do ano, mas são mais comuns no frio devido à proximidade das pessoas em ambientes fechados”, esclarece o infectologista Edimilson Migowski, do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG / UFRJ). Basta a pessoa doente tossir ou espirrar para espalhar pelo ar perdigotos contaminados com o vírus. As secreções respiratórias são, justamente, a principal via de transmissão da doença.

É mesmo como a gripe: bobeou, pegou! Mas a pediatra Eliane Matos, da Assessoria Clínica de Bio-Manguinhos / Fiocruz, tranqüiliza: “É pouco freqüente a transmissão através do contato com objetos recém-contaminados por secreções de nariz, boca e garganta ou por sangue, urina ou fezes dos doentes”. De qualquer forma, é bom não facilitar, não é mesmo? Uma outra forma de contaminação é a da mãe para o filho, ainda no útero, através da placenta. É quando a doença ganha outro nome – síndrome da rubéola congênita – e preocupa, porque se torna grave para a criança que está por nascer.

“A gravidade é maior quanto menor for o tempo de gestação”, afirma Edimilson Migowski. Segundo o infectologista, no primeiro trimestre de gestação, a rubéola pode provocar desde aborto espontâneo até más-formações congênitas do feto, como catarata, microcefalia, lesões oculares, retardo mental e cardiopatia. Quando a rubéola ocorre mais próxima dos nove meses de gestação, pode haver surdez na criança, percebida, quem sabe, apenas anos mais tarde. “Uma criança com rubéola congênita deverá ser acompanhada por muitos anos, mesmo que aparentemente não tenha alterações”, enfatiza o médico.

Não se deixe enganar

Dores de garganta, de cabeça, febre, mal-estar, ínguas… Alguma semelhança com outras doenças? Não é mera coincidência. Na rubéola, esses sintomas surgem logo nos primeiros três dias, após uma ou três semanas de incubação do vírus, mas são sintomas também comuns a muitos tipos de infecções. A rubéola é mesmo traiçoeira, podendo ser facilmente confundida com resfriados, gripes, mononucleose e até mesmo dengue.

Se ocorre vermelhidão da pele, ela costuma durar até sete dias. Mas, entre 50% e 75% dos contaminados pelo vírus da rubéola não apresentam sintomas. Aí que mora o perigo, pois muita gente não sabe que está com rubéola e pode espalhar o vírus. “Fiquem certas de que o mais clássico em rubéola não é o mais freqüente. Íngua no pescoço, exantema (pele pintadinha), febre, mal-estar e artralgia (dor nas juntas) podem não estar presentes”, alerta o infectologista Edimilson Migowski.

Portanto, a forma mais segura de dar o diagnóstico da doença é através de exames complementares, já que o exame clínico, a olho nu, por si só não basta para dar a certeza da contaminação. Se você trabalha em escritório ou vive perto de muitas mulheres em idade fértil, então certamente o médico irá pedir uma sorologia para a rubéola. Ou seja, um exame de sangue através do qual o médico pode definitivamente constatar se você está ou não com a doença.

De acordo com o primeiro secretário da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), Renato Kfouri, é importante, também, lembrar que a pessoa contaminada é uma fonte ambulante de vírus mesmo antes de adoecer. “Somos capazes de transmiti-lo mesmo um dia antes de adoecermos e até seis dias depois de nos recuperarmos”, ressalta o médico. Nada mais importante, então, do que evitar o contágio! Até mesmo porque, ainda que sendo uma doença de evolução favorável, complicações podem surgir no meio do caminho. “Há dados numéricos de manifestações hemorrágicas em um para cada três mil casos”, diz Maria Heloisa Lopes, da USP. No entanto, você não vai querer contar com as estatísticas se não precisa nem pensar em estar nelas!

Uma picadinha

Analgésicos e antitérmicos são tudo o que você pode usar para aliviar os possíveis sintomas. No mais, com muito repouso em casa, o organismo vai se recuperando sozinho e, aos poucos, se defendendo e criando imunidade contra o vírus da rubéola. Mas, por que sofrer e remediar se é tão simples prevenir? Com uma picadinha, a promessa de erradicação da rubéola é a vacina (tríplice viral: contra rubéola, sarampo e caxumba). Ela pode ser tomada gratuitamente nos postos de saúde – literalmente não custa nada! E a eficácia é alta, em torno de 95%.

Indica-se uma dose ao se completar um ano de vida e uma segunda dose entre quatro e seis anos de idade. “Se você não se lembra se já tomou ou não a vacina, não pense duas vezes: tome de novo que não fará nenhum mal”, explica o médico Renato Kfouri, da Sbim. E completa: “Se a rubéola pegar a mulher de surpresa durante a gravidez e ela ainda não estiver imunizada contra a doença, não há o que fazer para tentar poupar o feto das conseqüências. A única solução para evitar problemas é se vacinar antes de engravidar, porque vacina é preventiva e não curativa”. Após a vacinação, recomenda-se esperar um mês para engravidar.

Quem não pode tomar

A vacina é muito importante, aliás, essencial, porém fique atenta às contra-indicações!

– crianças com menos de um ano de idade

– pessoas com deficiência imunológica grave ou deficiência imunológica induzida por algum tipo de tratamento / remédios

– pessoas com reação alérgica grave aos componentes da vacina

– pessoas com histórico de hipersensibilidade a ovos de codorna

– gestantes

– pessoas com doença febril aguda

– pessoas que tenham recebido outras vacinas de vírus vivo (vacina oral contra a pólio, vacina contra varicela, etc) em menos de 15 dias

Prevenir-se contra a rubéola é fácil, e da sua boa vontade para tomar a vacina pode depender a saúde de muitos adultos e crianças, até mesmo antes de nascerem. Sem contar a sua. Se cuida!