Um artigo publicado por médicos franceses revelou um caso de possível transmissão de coronavírus dentro do útero de uma grávida. O relatório foi publicado na revista Nature Communications.
Transmissão de coronavírus pelo útero
De acordo com os autores do artigo, o caso aconteceu na gravidez de uma mulher de 23 anos, internada no hospital universitário Antoine Béclère, na França.
Até o diagnóstico de COVID-19, a jovem passava bem, mas dois dias antes de procurar o hospital, começou a apresentar uma tosse severa e febre de 38,6°C.
A partir de um exame de RT-PCR foi verificado que a jovem estava com COVID-19. De acordo com o médicos, amostras do vírus SARS-CoV-2 foram encontrados no sangue, secreções nasais e vaginais.
Três dias depois da internação da jovem, o bebê passou a apresentar alterações na frequência cardíaca. Consequentemente, os médicos decidiram realizar uma cesariana.
Durante o parto, o líquido amniótico – material que envolve o bebê no útero – foi recolhido sem que nenhuma membrana que envolvia o bebê fosse rompida. A partir dele foi realizado um teste de COVID-19 e o resultado foi positivo.
Após o parto, o bebê foi transferido para uma área de isolamento e um exame de RT-PCR também foi realizado nele. O teste confirmou positivo para COVID-19 – tanto o exame realizado na primeira hora de vida do bebê quando nos testes repetidos três e 18 dias depois.
Durante o tempo que esteve no hospital, o bebê apresentou irritabilidade e falta de apetite. Exames também mostraram inflamações no cérebro, alterações no tônus muscular e na motricidade.
Felizmente, após dois meses, o bebê apresentou melhora neurológica, redução da lesão cerebral e avanço nos demais exames clínicos.
Diante do caso da jovem de 23 anos e seu bebê, os médicos franceses observaram que este foi um caso de transmissão do novo coronavírus via placenta. Após o parto, esta estrutura também foi analisada pelos cientistas e grandes amostras do vírus foram descobertas.
No relatório, os médicos lembram que outros casos de potencial transmissão perinatal foram descritos recentemente, mas apresentaram vários problemas não abordados, como a não detecção do SARS-CoV-2 em neonatos, ou relataram apenas a presença de anticorpos específicos, ou a não explicação de como ocorria a via de transmissão (se era pela placenta, pelo líquido amniótico ou pelo sangue materno).
Para facilitar o trabalho da comunidade médica em descobrir possíveis casos de transmissão de mães para bebês, os autores lembraram de um recém-lançado sistema de classificação para a definição de caso de infecção por SARS-CoV-2 em mulheres grávidas, fetos e recém-nascidos.
“De acordo com esse sistema de classificação, uma infecção congênita neonatal é considerada comprovada se o vírus for detectado no líquido amniótico coletado antes da ruptura das membranas ou no sangue colhido no início da vida. Portanto, o nosso caso se qualifica totalmente como SARS-CoV-2 transmitido congenitamente.”
Quanto à mãe e o bebê estudados neste caso, o artigo mostra que mulher teve alta seis dias após o parto; o bebê não utilizou medicamentos, como antivirais, nem realizou outro tipo de tratamento específico. Ele se recuperou gradualmente até a alta, 18 dias depois do nascimento.