Tratamento para paraplegia, Polilaminina

Cientistas brasileiros criam tratamento que devolve movimentos a pessoas com paraplegia

Esse tratamento para paraplegia inédito no mundo se baseia na Polilaminina, substância produzida pela placenta no desenvolvimento fetal que foi estudada para estes fins por 25 anos

Uma iniciativa totalmente brasileira com 25 anos de pesquisa e resultados únicos pode mudar totalmente a vida de pessoas que perderam os movimentos por lesões na coluna vertebral. A chamada Polilaminina, substância que participa do desenvolvimento do sistema nervoso na formação do feto, é capaz de fazer pacientes paraplégicos se recuperarem – e, agora, ela está no caminho para virar um medicamento.

Cientistas brasileiros descobrem tratamento para paraplegia

Tratamento para paraplegia, Polilaminina
(Crédito: Reprodução/Rede Globo)

Após mais de 25 anos de pesquisa liderada pela professora e bióloga Tatiana Coelho de Sampaio, chege do Laboratório de Biologia da Matriz Extracelular, no Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), uma substância que pode mudar a vida de pessoas com paraplegia está em vias de se tornar um medicamento.

Se trata da Polilaminina, substância produzida pela placenta que participa do desenvolvimento fetal. Ela forma uma espécie de “malha” que impulsiona a troca de informações entre os neurônios, algo seguido pela escassez nela no organismo. Durante a pesquisa, Tatiana trabalhou na coleta e reintrodução da Polilaminina no corpo, e os resultados obtidos em testes com animais e humanos, impressiona.

Tatiana Coelho de Sampaio (Crédito: Reprodução/Rede Globo)

Diante de uma lesão na coluna vertebral, por exemplo, a Polilaminina ajuda o axônio, parte mais longa do neurônio (célula do sistema nervoso responsável por transmitir impulsos e “comandar” o corpo) a criar novos “caminhos”. Dessa forma, o trajeto pelo qual passam impulsos elétricos enviados pelo cérebro é recriado – e partes do corpo anteriormente paralisadas podem reganhar movimento.

Tratamento para paraplegia funcionou em testes

Ainda em fase inicial de testes, a Polilaminina já mudou a vida de animais e pessoas. Em 2021, por exemplo, uma farmacêutica brasileira testou a substância em seis cães que tinham lesões antigas na coluna vertebral, e quatro deles recuperaram os movimentos. Um dos casos mais impressionantes, porém, é o de Bruno Drummond de Freitas.

Em 2018, o bancário sofreu um grave acidente de carro e teve como consequência uma lesão cervical com esmagamento completo de parte da medula espinhal. Após ser socorrido e operado, ele acordou sem conseguir mexer a maior parte do corpo. “Braço, aqui, eu conseguia fazer esse movimento. Dedos da mão, pés, perna, quadril, abdômen, nada mexia”, disse ele ao “Jornal Nacional” (Rede Globo).

(Crédito: Reprodução/Rede Globo)

O que ele não sabia ainda, porém, é que logo ao chegar no hospital, a equipe médica foi autorizada a incluir Bruno em um estudo acadêmico sobre esse tratamento para paraplegia com a Polilaminina. A substância foi reintroduzida no corpo do bancário – e, semanas depois, ele já apresentou uma melhora inicial, mexendo o dedão do pé.

Segundo Tatiana, o que parecia mínimo era, na realidade, a prova de que o sistema nervoso de Bruno estava se “reconstruindo”.

Tratamento para paraplegia, Polilaminina
Bruno Drummond de Freitas (Crédito: Reprodução/Rede Globo)

“Para mexer o dedão do pé, a gente precisa de dois neurônios. Um que está no cérebro vai se comunicar com o segundo, que está na medula espinhal, dentro da coluna. O segundo neurônio vai sair da coluna e vai até o dedão do pé para levar a informação para que ele se mexe. Em uma lesão, a comunicação entre esses dois neurônios é interrompida. O que a gente descobriu foi uma maneira de fazer com que essa conexão se restabeleça”, declarou a bióloga também no “Jornal Nacional”.

O estudo, que incluiu pesquisadores, fisioterapeutas, médicos e alunos da UFRJ sob o financiamento da Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), também testou a substância em outros pacientes. Na reportagem, Silvânia, Guilherme e Nilma, anteriormente paralisados, surgiram demonstrando na prática os avanços que tiveram com a Polilaminina.

Funciona em qualquer lesão?

Tratamento para paraplegia, Polilaminina
Outras pessoas que fizeram uso do tratamento (Crédito: Reprodução/Rede Globo)

A Polilaminina foi testada tanto em lesões recentes quanto em lesões antigas, e houve bons resultados em ambos os casos. Os efeitos mais expressivos, no entanto, foram observados quando a aplicação aconteceu em até 24 horas após o trauma na coluna vertebral. Esse tratamento exige apenas uma dose, mas não acaba com a necessidade de terapias para rabilitação.

Quando a Polilaminina vira medicamento?

A Cristália, laboratório farmacêutico brasileiro, já está na corrida para transformar a Polilaminina em medicamento e disponibilizá-la à população em parceria com a UFRJ. Atualmente, a empresa aguarda autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para iniciar a fase 1 de estudos.

Essa fase, que deve envolver mais 5 pacientes, é uma etapa necessária para assegurar não só a eficácia, mas a segurança do tratamento.

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