Histerectomia é o nome dado à cirurgia de retirada do útero, procedimento agressivo, mas necessário para o tratamento de algumas doenças. A operação pode extrair parcialmente ou completamente o órgão, além de suas estruturas anexas, como os ovários e as tubas uterinas. A seguir, entenda tudo sobre tirar o útero.
Cirurgia de retirada do útero: quando é preciso?
A ginecologista Bárbara Murayama, do Hospital 9 de Julho, explica quais são os acometimentos em que o útero pode ser retirado:
Adenomiose
Adenomiose é uma doença parecida com a endometriose cujo único tratamento definitivo é a retirada do útero. O problema faz com que pedaços do endométrio (revestimento interno do órgão descamado mensalmente, criando a menstruação) invadam o tecido muscular uterino, denominado miométrio.
Sem uma causa definida, é possível que essa condição – que pode trazer sintomas como dores agudas e sangramentos menstruais exagerados segundo informações da Mayo Clinic – passe conforme a menopausa chega, mas, caso a mulher esteja sentindo um desconforto muito severo, apesar de tratamentos hormonais ajudarem, apenas a remoção do útero é capaz de curá-la.
Câncer
A indicação da cirurgia também prevalece para alguns casos de câncer de colo de útero, ovário ou endométrio. A indicação dependerá do quadro apresentado e de uma ampla conversa entre médico e paciente sobre os prós e contras desse tratamento. Os tipos de câncer ginecológico que podem levar à retirada do útero são:

- Câncer de colo de útero
De acordo com informações do Instituto Nacional do Câncer, o Inca, este tipo de câncer está entre os tipos mais fatais para mulheres no Brasil, sendo também um dos mais comuns entre a população feminina. Ele ocorre a partir de mutações genéticas nas células desta região – algo que normalmente está relacionado à presença de uma doença sexualmente transmissível. “Em 99% dos casos, a doença está relacionada ao vírus HPV, por isso a maneira que temos para prevenir e diminuir o número de casos é reduzir consideravelmente o número de parceiros sexuais, usar o preservativo e fazer os exames ginecológicos periodicamente”, explica o oncologista Alexandre Fonseca. Segundo ele, esses exames devem começar a partir da primeira menstruação.
Outro ponto importante destacado por ele é o da existência de uma vacina contra o HPV – que, por sua vez, é mais eficaz quando aplicada na mulher antes de ela ter sua primeira relação sexual. “Elas têm maior possibilidade de desenvolver anticorpos de proteção ao HPV”, esclarece o especialista.
- Câncer de endométrio
Mais comum em mulheres de idade mais avançada, o câncer de endométrio afeta a membrana responsável por revestir a parede uterina e é um dos tipos mais frequentes de tumor no corpo uterino. Ao contrário de outros tipos da doença, porém, esse câncer não possui exames preventivos e, por esse motivo, é essencial atentar para seu principal sintoma: sangramentos incomuns. “O principal sintoma desse tipo de câncer é o sangramento anormal, sobretudo após a menopausa. Para comprovar o diagnóstico, deve ser realizada uma biópsia do endométrio, especialmente se ele estiver alterado”, explica Fonseca, ressaltando que qualquer sangramento incomum, especialmente após a menopausa, deve ser devidamente investigado para avaliar a possibilidade de se tratar de um câncer de endométrio.
- Câncer de ovário
Ainda que não seja tão comentado como o câncer de mama, o câncer de ovário é mais comum que ele, com aproximadamente 6,2 mil novos casos por ano no Brasil de acordo com informações do Inca. Além disso, segundo outro levantamento divulgado pelo mesmo órgão, ele também é um dos tipos de cânceres ginecológicos que mais matam – algo que se deve a seus sintomas pouco específicos.

Esse tipo de tumor se desenvolve nos ovários e tem dois tipos mais comuns; enquanto o germinativo é mais frequente em mulheres jovens, o epitelial normalmente acomete mulheres que já passaram dos 40 anos, sendo o primeiro tipo menos severo que o segundo. Quando ele extrapola o órgão, pode facilmente levar a paciente à metástase, estágio no qual muitas descobrem a doença.
Além de boa parte das mulheres fazerem a descoberta do câncer quando ele já está em um grau avançado, a ginecologista Angélica Nogueira afirma que entre 70% a 80% delas não vive mais do que cinco anos após o diagnóstico – então, sendo assim, é extremamente importante investigar qualquer um dos seguintes sintomas caso eles apareçam repentinamente e persistam: vontade constante de urinar, dor na região pélvica, inchaço anormal da região abdominal enjoo e sensação de saciedade mesmo no início de uma refeição
Miomas
Miomas são tumores benignos que se formam no útero de mulheres em idade fértil. A histerectomia é recomendada se o tratamento não invasivo para Mioma não surtir efeito, a mulher não pretender engravidar e o tumor causar muita dor, sangramento ou comprimir outros órgãos. Caso o mioma seja exageradamente grande, pode inclusive ser necessário o tipo mais invasivo de histerectomia, ou seja, a retirada do útero a partir de uma incisão feita na região abdominal.
Sangramentos misteriosos
Segundo informações da Mayo Clinic, um sangramento vaginal anormal pode estar relacionado a várias condições de saúde que, inclusive, podem não ter ligação com o aparelho reprodutivo. Além de poder ser sintoma de cânceres ginecológicos, ele também pode se dar a partir da síndrome do ovário policístico, doenças sexualmente transmissíveis, algum trauma devido a lesões na vagina ou no colo do útero e até distúrbios como hipertireoidismo e hipotireoidismo
A ginecologista Bárbara Murayama explica que, independente da causa, pacientes com sangramentos anormais, perigosos e que não respondem a outros métodos, como tratamento hormonal e cirurgias pouco invasivas, devem considerar retirar o útero.
Prolapso uterino
Ainda de acordo com a Mayo Clinic, outro caso em que pode ser considerado fazer uma histerectomia é quando há um prolapso uterino, condição que ocorre a partir do estiramento ou enfraquecimento da musculatura do assoalho pélvico, que sustenta tanto os órgãos do aparelho reprodutor quanto outros órgãos que ficam perto. Quando isso acontece, o útero pode deslizar até a vagina e até sair por ela.
Apesar de poder acontecer com mulheres de todas as idades, o prolapso uterino ocorre com mais frequência entre mulheres que estão no período após a menopausa e que tiveram um ou mais partos vaginais ao longo da vida. Quando é leve, essa condição não requer tratamento específico, mas, conforme incomoda a mulher, se agrava ou gera outros problemas de saúde, é necessário conciliar o problema.
Além dos exercícios de kegel (também conhecidos como pompoarismo) e medicamentos poderem ajudar nesse processo, alguns casos requerem o que é chamado de inserção pessária – ou seja, o uso de um anel de borracha implantado na região íntima de forma a sustentar o útero e a bexiga – ou, dependendo da gravidade, a histerectomia ou a colpocleisis (fechamento da vagina).
Dores pélvicas crônicas
Em casos bem menos frequentes, é possível que a paciente sofra de dores abdominais crônicas que não cessam a partir de tratamentos convencionais. Segundo a Mayo Clinic, se for comprovado que a dor vem de uma enfermidade uterina, a histerectomia pode, em último caso, a histerectomia também se torna uma opção. Aqui, porém, é fundamental uma análise profunda e multidisciplinar, além de um diagnóstico preciso.
Como é feita a cirurgia de retirada do útero?

O procedimento pode ser realizado por quatro técnicas. Entenda cada uma:
Aberta
Por ser mais invasivo que os demais, esse método é pouco adotado. Consiste em uma grande incisão no abdômen pela qual o órgão é extraído, e é uma opção avaliada em casos, por exemplo, da existência de miomas muito grandes.
Laparoscópica e/ou robótica
Na cirurgia de retirada do útero por videolaparoscopia o abdômen é acessado por meio de pequenos cortes e uma pequena câmera para visualização interna.
Já nos procedimentos mais modernos, além da câmera, são empregues braços mecânicos para manipulação local, que fornecem grande precisão ao cirurgião.
Em alguns casos, o útero é solto e fragmentado via laparoscopia, mas retirado pela vagina.
Vaginal
Mais simples, esse método não envolve cortes e nem deixa cicatrizes, visto que toda a manipulação dos órgãos ocorre por via vaginal. Apesar de pouco agressiva, não é indicado para todas as condições pois não fornece ampla visão da cavidade uterina. Ela é recomendada, por exemplo, nos casos de pacientes que têm tecidos previamente operados.
Recuperação
O tempo de recuperação após a cirurgia de retirada do útero dependerá do método utilizado; no procedimento vaginal, um dos menos invasivos, o tempo para retorno das atividades rotineiras pode ser de até quatro semanas.
Embora as recomendações variem para cada método e paciente (sendo indicado buscar auxílio médico), em geral, de acordo com informações da Mayo Clinic, o período de recuperação envolve uso de medicamentos para dor e é possível que a paciente apresente sangramentos durante vários dias após a histerectomia.
Ainda que a paciente se sinta devidamente recuperada, não é recomendado que ela levante pesos maiores que 9 kg nem tenha relações sexuais durante um período de seis semanas após a cirurgia. Caso a dor continue por muito tempo ou a mulher tenha muitas náuseas, vômitos e até hemorragias, é importante comunicar o médico responsável pelo procedimento.
Resultados
Além de melhorar a dor, a retirada do útero evita sangramentos e elimina tumores. A vida sexual do paciente também pode ganhar mais qualidade, visto que não existirão mais sintomas incômodos na relação.
Todavia, ela apresenta consequências que devem ser debatidas com o médico.
Consequências da retirada do útero

O procedimento faz com que a mulher deixe de menstruar e fique infértil definitivamente. Se os ovários forem preservados, a liberação de hormônios continuará, apesar de não haver menstruação. Isso significa que a mulher não terá uma menopausa precoce nem todos os sintomas que surgem com ela, como secura vagina, calores e sudorese exagerada.
No entanto, se as estruturas forem extraídas, a mulher entrará na menopausa e, se não houver contraindicação, poderá fazer reposição hormonal. Além disso, a retirada dos ovários acaba com a produção de estrogênio, hormônio que tem ação benéfica na prevenção de doenças do coração e osteoporose.
De acordo com a Mayo Clinic, também é possível que a mulher sofra emocionalmente devido ao fato de que está infértil, portanto também é adequado que ela busque auxílio psicológico caso sinta essa necessidade.
É perigosa? Veja riscosAssim como quaisquer outros procedimentos cirúrgicos, a histerectomia apresenta riscos. Entre eles, estão trombose, lesões em órgãos e fístulas (rompimento dos pontos e consequente hemorragia). A longo prazo, de acordo com informações da Mayo Clinic, alguns estudos mostram que a paciente também pode sofrer com doenças cardíacas ou que afetam os vasos sanguíneo, além de certas condições metabólicas, especialmente se a histerectomia for realizada quando a mulher tem mais de 35 anos de idade.
Entretanto, pré e pós-operatórios adequados reduzem os riscos.
Cirurgia no útero
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