Tecnologia do exame de autismo já foi aprovada nos Estados Unidos e é benéfica a longo prazo, visto que quanto mais cedo o tratamento começa, mais proveitoso ele tende a ser
As características do autismo em crianças podem levar anos até que se tornem minimamente perceptíveis. Além disso, o diagnóstico também pode demorar muito para ser fechado, algo que reduz as chances de a criança receber tratamentos em uma idade propensa para melhores resultados. Com isso em mente, cientistas criaram um exame de autismo que identifica se a criança faz parte do espectro autista em apenas 12 minutos.
Veja abaixo como funciona esse exame inovador para autismo, que não tem previsão para chegar ao Brasil, mas já tem transformado a vida de muitas crianças nos Estados Unidos.
Exame de autismo promete diagnóstico em 12 minutos

Desenvolvido pelo Marcus Autism Center, um dos maiores centros de tratamento e pesquisa sobre autismo nos Estados Unidos, um exame inovador promete diagnosticar esse transtorno muito cedo em crianças. Ele é destinado a crianças entre 1 ano e 4 meses a 2 anos e meio – e permite adiantar em meses o diagnóstico, permitindo algo muito incomum: a descoberta do autismo antes dos 3 anos de idade.
A tecnologia do exame, chamada de EarliPoint Evaluation, é uma versão “resumida” da avaliação clínica comum. É o que explica o neurocientista brasileiro Ami Klin, que trabalha no local e ajudou no desenvolvimento do método. Segundo ele, em uma consulta de 40 a 60 minutos com uma criança, é possível pontuar de três e a cinco comportamentos que podem indicar autismo. Já essa tecnologia consegue apontar centenas ou milhares de comportamentos em apenas 12 minutos.
Como funciona o exame de autismo por vídeo

O exame em questão é feito em uma sala cheia de brinquedos e câmeras. Além disso, no centro dela, a criança encontra uma tela na qual assistirá a 14 vídeos curtos, com cerca de um minuto cada. Essa tela também é dotada de câmeras, e serve para captar os movimentos oculares da criança que está sendo examinada.
Segundo Ami Klin, a chave para o sucesso do exame está no fato de que crianças neurodivergentes tendem a focar o olhar em situações diferentes das que chamam mais a atenção de crianças neurotípicas. Em vez de olhar diretamente para o rosto de um bebê no vídeo, por exemplo, ela tende a fixar o olhar em algum detalhe “secundário”, como algum objeto em cena.
“Elas têm a exposição à mesma situação, mas o que estão aprendendo é uma coisa completamente diferente. E isso não acontece uma vez, acontece centenas, se não milhares de vezes em um período de 10 a 12 minutos”, declarou ele em entrevista ao “Fantástico” (Rede Globo).

Diagnóstico de autismo pelo exame é preciso?
Para que pudesse receber a aprovação do Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador norte-americano semelhante à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o exame precisava ser devidamente testado. Segundo os desenvolvedores, os resultados obtidos por eles foram, portanto, comparados a análises convencionais das mesmas crianças.
O resultado mostrou que a tecnologia foi capaz de prever os apontamentos feitos por clínicos com um nível alto de precisão. Sendo assim, o exame foi aprovado para uso em 2023 e vem adiantando o diagnóstico de autismo em crianças desde então.

Vantagem do exame
Muitas vezes, os sinais típicos do autismo começam a aparecer apenas quando a criança já está em idade escolar e passa a apresentar dificuldades de aprendizado. Isso, no entanto, tende a reduzir a eficácia dos tratamentos – que, se realizados quando há maior neuroplasticidade (ou seja, capacidade dos neurônios de “aprender” funções), podem beneficiar o bem-estar da criança no futuro.
“Quando você já chega na idade escolar sem ter se beneficiado do tratamento precoce, naquele momento o que você vai estar tratando é menos o autismo do que as associações do autismo sem tratamento, como o atraso intelectual, como o atraso de linguagem, assim como também os comportamentos difíceis que as nossas crianças têm. Esses comportamentos podem isolar a criança de toda a comunidade”, afirmou o neurocientista.
Sendo assim, o exame possibilita a descoberta precoce do autismo, permitindo que a criança seja exposta a técnicas de tratamento desde cedo.