
Já ouviu falar sobre o sangramento tipo borra de café? Esse é o termo que denomina o que é conhecido pelas mulheres como uma espécie de menstruação de cor mais escura, quase amarronzada. Esse fenômeno causa preocupação e gera dúvidas, que são agora esclarecidas pelo ginecologista e obstetra Dr. Rafael Botelho, médico do Hospital do Coração (HCor).
O que é?
Segundo o especialista, essa conhecida menstruação com sangue marrom não é necessariamente uma menstruação e o que faz mudar a cor do sangue menstrual é o tempo que ele permanece no interior da vagina. “O sangramento mais escuro é um sangramento de pouca intensidade.
Diferente de quando a mulher está menstruada, que o volume de sangue é grande e sai continuamente, ele vem em pequena quantidade. Com isso, fica mais tempo na vagina e não se exterioriza tão rapidamente. Esse contato prolongado com o canal vaginal faz com que aconteça uma degradação natural que modifica a cor”, explica o Botelho.
Anticoncepcional

A causa mais comum para essa espécie de menstruação borra de café são os remédios anticoncepcionais de baixa dosagem hormonal. O que acontece é que os baixos níveis de hormônios das pílulas podem provocar o que é conhecido como escape, que é um sangramento que acontece antes do fim da cartela do anticoncepcional e pode adquirir essa tonalidade. De acordo com o médico, esse tipo de causa não oferece risco à mulher. “Nesses casos, a solução é corrigir a dosagem da pílula e o ciclo se normaliza”.
É sempre importante lembrar, porém, que qualquer alteração no tipo de pílula anticoncepcional usada pela mulher deve ser devidamente orientada por um médico, já que alguns princípios ativos não têm uma boa afinidade com determinados organismo e trocar o medicamento por conta própria pode ser bastante perigoso.
Pode ser gravidez?
Esse também pode ser um dos primeiros sinais de gravidez. É ocasionado quando o óvulo fecundado se fixa na parede do endométrio. “Quando ele chega lá, é como se fizesse um buraquinho para se fixar. É o que chamamos de nidação. Nesse momento, a paciente pode ter um sangramento desse tipo”.
Apesar de esse tipo de secreção marrom na gravidez ser algo comum há alguns cenários em que ele merece atenção. Primeiramente, enquanto esse corrimento com sangue é normal no início do período gestacional, indicando a implantação do embrião, não é normal que se note esse tipo de secreção não deve aparecer em outros momentos da gravidez – especialmente se ela já estiver mais avançada.
Além dessa situação (que requer um acompanhamento médico para analisar as causas), essa secreção escura na gravidez é normal de apenas um jeito. Se ele se apresentar apenas como um corrimento ralo de tonalidade escurecida, provavelmente não há com o que se preocupar, mas caso ele venha em grande quantidade, é muito persistente, cheira mal ou ocorra acompanhado de ardência e coceira na vagina, é possível que a mulher esteja com uma infecção.
Secreção marrom depois do parto
Apesar de a menstruação não voltar a ocorrer logo após a mulher dar à luz, o período pós-parto é sempre marcado por uma descarga vaginal que, apesar de atingir diversas tonalidades com o passar das semanas no puerpério, costuma começar com uma coloração mais escurecida.
Chamara de lóquio, essa descarga se trata da eliminação de restos de sangue, muco, bactérias, restos de membranas placentárias e tecidos dos quais o útero precisa se livrar no processo de normalização do aparelho reprodutor após o parto – e, ainda que isso seja natural, é preciso prestar atenção em como o quadro se desenvolve.
Em geral, o lóquio começa a descer com uma coloração avermelhada e, com o passar dos dias (aproximadamente cinco contando a partir do parto), começa a mudar de cor, assumindo uma tonalidade mais castanha que puxa para o marrom. Isso, porém, não deve durar por muito tempo; em torno do décimo dia pós-parto, ela tende a se tornar amarelada, ficando cada vez mais esbranquiçada até sumir.
Se logo no primeiro dia após o parto a mulher notar coágulos muito grandes de sangue sendo liberados, perceber um cheiro ruim acompanhando a secreção (em qualquer momento da descarga do lóquio) ou notar que o corrimento escuro pós-parto aumenta ou continua na mesma intensidade durante um período muito prolongado, é indicado investigar junto a um especialista para entender a causa.
Endometriose e outras causas
A endometriose – quadro que afeta cerca de 15% das mulheres entre os 15 e os 45 anos e ocorre quando o tecido que recobre o interior do útero passa a crescer fora dele – também é uma possível causa, já que ela provoca alterações no ciclo menstrual e, entre outras irregularidades, pode diminuir o fluxo. Também pode surgir em mulheres que tenham lesão ou mioma no colo do útero. Tomar pílula do dia seguinte também pode causar esse efeito colateral.

É perigoso?
O ginecologista pondera e afirma que essa menstruação marrom e pouca não merece tanta preocupação. “Não necessariamente significa que é uma coisa ruim. A mulher não precisa se desesperar. O mais indicado é procurar um médico quando esse quadro acontecer, para investigar o que pode estar causando a mudança de cor do sangue”, tranquiliza.
Também é importante prestar atenção em quanto tempo esse quadro dura. De acordo com o ginecologista Edilson Ogeda, esse corrimento marrom só é normal caso não se prolongue por muitos dias; caso isso continue por mais de uma semana, o médico recomenda investigar a situação junto de um especialista.
Assim como a secreção escura que pode ter relação com o início de uma gravidez, qualquer outro tipo de corrimento borra de café deve vir de forma específica. Caso ele aconteça acompanhado de um cheiro mais forte que o comum, em quantidade exagerada e simultâneo a sintomas como coceira na vulva e ardência na vagina ou na região genial em geral, também é bom investigar.
Outros tipos e cores de menstruação

Ainda que a menstruação borra de café seja uma das que mais preocupa e gera dúvidas, ela não é o único tipo de sangramento menstrual que foge do “comum” e gera inquietação. Confira abaixo o que significa cada uma das tonalidades de sangue menstrual e saiba quando e normal e quando você deve se preocupar:
Menstruação com sangue vivo
Enquanto o sangramento mais escuro indica que o sangue ficou mais tempo retido, envelhecendo até se tornar marrom, o sangramento mais vivo é completamente natural e indica apenas que, desde que saiu do útero, não envelheceu muito nem sofreu tanto com a ação de agentes coagulantes que tendem a modificar sua aparência.
Menstruação escura (cor de vinho)
O processo que faz a menstruação ganhar essa tonalidade mais escura é o mesmo que o aproxima da cor de borra de café. Em geral, ela indica um fluxo menor, já que, quando a quantidade é menor, é natural que o fluido demore mais a “descer”, envelhecendo e se tornando cada vez mais escuro com o passar do tempo.
Em geral, esta é a característica do sangue no começo e no final da menstruação, e, caso ela persista durante todos os dias desse período, é indicado investigar a possibilidade de haver alguma doença como a endometriose criando esse quadro.
Menstruação com pedacinhos de “pele”
Quando a mulher está menstruada, é sinal de que o óvulo liberado durante o ciclo não foi fecundado, e tanto ele quanto toda a “preparação” do aparelho reprodutor para alojar um possível embrião é descartada em forma de sangramento menstrual. Ao contrário do que muita gente pensa, porém, essa secreção não inclui apenas sangue e não há nada de errado em notar pedacinhos de “pele” ali.
De acordo com o ginecologista Celso Luiz Borrelli, como o processo da menstruação inclui o descolamento do endométrio – ou seja, tecido que recobre a parte interna do útero – é totalmente natural que esses pedaços de tecido estejam presentes no fluxo menstrual. A quantidade, porém, costuma variar de mulher para mulher.
Menstruação com coágulos

Algo que certamente assusta muitas mulheres da primeira vez que aparecem são os coágulos, “bolhas” de sangue e tecido de tamanhos variados que podem surgir junto do sangramento menstrual. Segundo Borrelli, a formação desses coágulos ocorre porque, dependendo da posição em que a mulher fica, o sangue pode acumular no canal vaginal e coagular – um processo natural do organismo.
Geralmente, esta é uma característica mais presente na menstruação de mulheres que têm um fluxo mais intenso e é absolutamente natural, mas, em alguns casos, é uma boa ideia investigar. Isso porque, quando aparecem de maneira repentina ou excessiva, podem estar indicando o desenvolvimento de alguma doença relacionada ao sistema reprodutor.
Em geral, a indicação é a de observar e conhecer o ciclo menstrual para levar qualquer anormalidade ao médico e investigá-la.
Menstruação com pouco e muito sangue
De acordo com o ginecologista, assim como ter um fluxo mais leve ser algo natural, ter um sangramento mais intenso e notar uma súbita redução na quantidade de sangue que desce também é comum. Conforme explica, alterações hormonais normais da puberdade e do início da menopausa podem ser responsáveis por isso, ao lado, é claro, dos anticoncepcionais, que tendem a afinar o endométrio e diminuir a intensidade do sangramento menstrual.
Os ajustes hormonais que ocorrem nas duas épocas citadas pelo especialista também podem ser responsáveis por um aumento na intensidade do fluxo menstrual e, em geral, também é normal que algumas mulheres tenham uma quantidade maior de sangramento que outras – mas isso merece um cuidado especial em determinadas situações.
Caso a mulher tenha um fluxo naturalmente intenso, que dure mais de oito dias e a faça passar mal durante a menstruação, pode ser que ela tenha alguma alteração hematológica que deve ser investigada para buscar possíveis soluções para o problema. Fora isso, se a mulher tiver um tipo de fluxo e ele repentinamente se tornar muito intenso, também é preciso procurar ajuda especializada.
Menstruação curta e longa
Segundo Borrelli, menstruar por poucos dias também é algo que costuma ter relação com o uso de anticoncepcionais que, ao afinar a parede do útero, proporcionam um fluxo fraco e, consequentemente, um período menstrual bem mais curto. Já quando ele dura muitos dias, os motivos podem ser variados.
Conforme explica o ginecologista, algumas mulheres naturalmente têm fluxos mais longos e intensos que podem ser fruto de uma variação hormonal ou hematológica, indicando possíveis doenças e tornando necessária a investigação do quadro. Outro fator que pode fazer a duração da menstruação aumentar é o uso da pílula do dia seguinte, que pode interferir no tempo de duração do ciclo.
Menstruação que tem cheiro
Até ser expelida, a menstruação passa por diversos processos dentro do aparelho reprodutor – algo que, segundo Borrelli, faz com que esse sangramento tenha um odor diferente do sangue que sai, por exemplo, de uma ferida. Além de ter um cheiro característico, ele pode se intensificar conforme passa muito tempo contido no absorvente (já que, combinado aos químicos presentes ali e oxidado pelo contato com o ar, ele também é alterado).
Algumas pessoas também podem notar o odor de ferro na menstruação – e isso, segundo o ginecologista, também é completamente normal. Isso porque, como o sangue é composto por hemoglobina e essa substância contém ferro, é possível que, com pouco tempo de deterioração, ela pode apresentar esse cheiro característico.
Ainda que alguns odores sejam naturais, outros requerem atenção. Segundo o médico, caso a menstruação apresente um cheiro muito forte que lembra o de peixe podre, é importante investigar, já que essa característica pode indicar uma infecção bacteriana chamada de vaginose.