
O médico chinês Li Wenliang, responsável por identificar e alertar outros médicos sobre a doença misteriosa que se espalhava pela cidade de Wuhan (China) em dezembro de 2019 e que, agora, sabemos se tratar do novo coronavírus, está internado em estado crítico após contrair o vírus de um paciente.
Li Wenliang, médico que alertou sobre o coronavírus, está em estado grave
Alguns veículos de imprensa e também a Organização Mundial da Saúde (OMS) chegaram a noticiar a morte do profissional nesta quinta-feira (6), mas a informação foi corrigida pelo Hospital Central de Wuhan, onde ele está internado. A instituição esclareceu a situação através de um post em seu perfil oficial na rede social chinesa Weibo.

“Na luta contra a epidemia de pneumonia da nova infecção por coronavírus, o oftalmologista do nosso hospital, Li Wenliang, infelizmente foi infectado, [está] atualmente em estado crítico e tentando seu melhor para se recuperar”, diz o post.
Após o pronunciamento do hospital, a OMS retomou o assunto, publicando um tweet em que afirma não ter informações concretas sobre a morte do médico.
At today's #2019nCoV media briefing @DrMikeRyan was asked about reports that Dr Li Wenliang had passed away, and he expressed condolences.
WHO has no information on the status of Dr Li. pic.twitter.com/59UzWpcfa7
— World Health Organization (WHO) (@WHO) February 6, 2020
” Hoje na coletiva sobre o 2019-nCoV, Mike Ryan foi questionando sobre notícias de que o Dr. Li Wenliang havia falecido, e ele expressou suas condolências. A OMS não tem informações sobre o status do Dr. Li“.
Li Wenliang foi reprimido ao alertar sobre a doença
Em 30 de dezembro de 2019, Li usou um aplicativo de mensagens, o WeChat, para comunicar seus colegas médicos sobre diagnósticos preocupantes feitos no Hospital Central de Wuhan, onde ele trabalhava. Segundo informações da “CNN”, que entrevistou o médico, o alerta afirmava que sete pessoas haviam sido admitidas na instituição com uma condição respiratória grave, e que isso o deixara preocupado.
Os pacientes em questão manifestavam sintomas parecidos com os da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS), doença que, segundo a “Food and Drug Administration (FDA, a vigilância sanitária norte-americana) também foi identificada na China no fim de 2002 e se espalhou pelo mundo, resultando em mais de 8 mil casos e cerca de 800 mortes.
This Wuhan doctor was targeted by police for trying to blow the whistle on the deadly coronavirus in the early weeks of the outbreak.
Then, after unwittingly treating a patient who had the virus, he caught it too. https://t.co/rqHIRBMtAO
— CNN (@CNN) February 4, 2020
Apesar de a SARS ser uma doença considerada pela FDA como erradicada desde 2004, os colegas de Li se preocuparam com o alerta do médico e passaram a mensagem adiante, fazendo com que a situação começasse a ser noticiada e preocupasse a população de Wuhan, na China. Apesar de a preocupação do oftalmologista não ser injustificada, porém, as autoridades locais o penalizaram pelo “alarde”.
Nas mensagens, Li afirmava que amostras dos pacientes em questão haviam dado positivo para SARS – algo explicado pelo fato de que, apesar de o 2019-nCoV não ser o mesmo vírus causador da epidemia nos anos 2000, eles pertencem à mesma família, a do coronavírus. A polícia, no entanto, viu o primeiro alerta como a propagação de um rumor, e o médico teve de fazer um comunicado admitindo “mau comportamento”.
A penalização de Li aconteceu dias após as autoridades locais alertarem a OMS sobre o surto de coronavírus – e, segundo informações atualizadas da organização, a doença fez, desde então, fez mais de 28 mil casos na China (onde também já matou mais de 560 pessoas) e se espalhou por 24 países, contabilizando mais de 220 casos fora do país asiático.
