O câncer de intestino tem uma série de fatores de risco totalmente ou parcialmente evitáveis, e um simples exame feito na idade correta pode identificá-lo precocemente, aumentando as chances de cura
O câncer colorretal é o terceiro tipo mais comum da doença no mundo e, entre os que causam mais mortes, ele ocupa o segundo lugar do ranking. Por isso, é essencial entender as possíveis causas desse tipo de câncer, bem como as formas de preveni-lo (especialmente entre quem tem risco aumentado).
Veja abaixo como descobrir se você tem risco médio ou alto para câncer de intestino, quais são as causas evitáveis dessa doença e de que forma é possível preveni-la ou garantir que o diagnóstico seja precoce.
Câncer de intestino: causas, prevenção e mais

O câncer colorretal, que afetou artistas como a cantora Preta Gil e o ator Chadwick Boseman, de “Pantera Negra”, é um dos mais frequentes e mais letais do mundo. Segundo a OMS, estima-se que haja um aumento de 63% nos casos e 73% nas mortes por essa doença até 2024. Além disso, estudos indicam um aumento consistente dos casos em pessoas com menos de 50 anos apesar de ele ser mais frequente fora dessa faixa etária.
O que muita gente não sabe, no entanto, é que a maioria dos casos com detecção precoce alcançam a remissão da doença. Além disso, há causas evitáveis, bem como protocolos de prevenção detalhados e efetivos.
Causas do câncer colorretal

Há uma série de possíveis causas para o câncer colorretal. Nem sempre pessoas que tem algum fator de risco desenvolve a doença, mas esses fatores aumentam as chances de ela acontecer. Conheça os principais abaixo e veja quais são evitáveis:
Doenças inflamatórias no intestino – parcialmente evitável
A ocorrência de algumas doenças no próprio intestino aumentam a chance de se ter câncer colorretal. É o caso, por exemplo, da doença de Crohn e da colite ulcerativa. Isso porque uma inflamação crônica no intestino tende a danificar as células que revestem internamente esse órgão. Com o tempo, esses danos podem levar a mutações genéticas que evoluem para tumores.
Isso é especialmente real em casos nos quais a doença em questão fica sem tratamento por um período prolongado. Pessoas com inflamações intestinais crônicas ativas por um período de oito a dez anos, por exemplo, têm risco bastante alto de ter câncer colorretal.
Síndromes genéticas
Algumas síndromes genéticas, como Polipose Adenomatosa Familiar (FAP) e a síndrome de Lynch, podem elevar o risco de ter esse tipo de câncer. A primeira, por exemplo, é caracterizada pelo surgimento de centenas a milhares de pólipos intestinais – e quase 100% dos pacientes com essa síndrome desenvolvem câncer colorretal quando os pólipos não são removidos.
Já a síndrome de Lynch é caracterizada por uma falha do organismo em reparar o DNA das células quando acontece algum dano. Assim, as mutações se acumulam, aumentando o risco de câncer em vários lugares do corpo, como no intestino, no endométrio e nos ovários.
Histórico familiar ou pessoal da doença
Quem já teve câncer colorretal anteriormente é bem mais propenso a ter a doença novamente do que quem nunca a teve. Além disso, pessoas com parentes de primeiro grau que foram diagnosticados com a doença antes dos 60 anos de idade também têm risco aumentado.
Presença de pólipos intestinais – parcialmente evitável
Pólipos intestinais são crescimentos anormais do revestimento interno do intestino, que se projetam para o interior desse órgão. Na maior parte das vezes, eles são benignos – mas, a depender da fisiologia dessas estruturas, elas podem ser consideradas lesões pré-cancerosas.
Mesmo pessoas que não têm doenças genéticas como a Polipose Adenomatosa Familiar podem ter pólipos intestinais. Os riscos de tê-los aumentam com o passar dos anos, com a ingestão muito frequente de carne vermelha, baixa ingestão de fibras, tabagismo ou com inflamações intestinais crônicas.
Ao localizar um pólipo, algo feito durante o exame de colonoscopia, médicos costumam removê-lo e cauterizar o local para prevenir que ele se torne um câncer.
Infecções específicas – parcialmente evitável
A infecção por alguns vírus e bactérias também contribuem para a ocorrência de câncer colorretal. É o caso, por exemplo, do HPV, que aumenta as chances de câncer anal e retal. Tambem é o caso da bactéria Streptococcus gallolyticus, que causa endocardite infecciosa e um quadro assintomático no intestino.
No segundo caso, quando a infecção é identificada, médicos podem sugerir uma investigação de pólipos intestinais. Isso porque a associação dessa bactéria com o câncer colorretal varia entre 25% e 80%.
Atividade sexual sem uso de preservativos – evitável
Praticar sexo anal sem utilizar preservativos facilita a transmissão do HPV. Esse vírus, por sua vez, está ligado a um aumento nas chances de desenvolver câncer anal ou retal.
Alimentação desequilibrada – evitável
A alimentação é um dos principais fatores de risco para câncer no intestino. A carne vermelha ou processada, por exemplo, tende a produzir compostos perigosos para a saúde quando preparadas em altas temperaturas. Sendo assim, uma dieta muito rica nesses alimentos pode propiciar o câncer.
Além disso, a baixa ingestão de vegetais e fibras também é um fator de risco. Isso porque as fibras são essenciais para a formação do bolo fecal e o bom funcionamento do intestino. Quando ficam escassas, o volume e o trânsito intestinal diminuem, fazendo com que a mucosa do intestino passe mais tempo em contato com substâncias cancerígenas.
Fibras também são úteis para manter a flora intestinal equilibrada, com as bactérias benéficas em boa quantidade. Isso é essencial para evitar, por exemplo, inflamações intestinais, que também são fator de risco para a doença.
Abuso de álcool e tabagismo – evitável
Tanto o álcool quanto o cigarro têm substâncias que podem causar dano ao DNA das células, além de inflamações e alterações metabólicas. Dessa forma, beber demais ou ter o hábito de fumar também aumentam o risco de ter câncer de intestino.
Risco médio ou alto de câncer de intestino

Antes de pensar nas causas e na prevenção, é importante que as pessoas conheçam o risco que têm de desenvolver a doença. Isso varia de acordo com uma série de fatores, como diagnósticos de algumas síndromes, ocorrência de câncer em parentes de primeiro grau, histórico pessoal de câncer e mais.
Uma pessoa com risco médio de desenvolver câncer colorretal é aquela que não tem fatores de risco adicionais para além dos que costumam assolar boa parte da população. É o caso, por exemplo, de quem tem uma rotina alimentar desequilibrada, com grande presença de carne vermelha e pobre em vegetais e fibras.
Essas pessoas, no entanto, não têm histórico pessoal de pólipos ou câncer colorretal, histórico familiar da doença em parentes de primeiro grau antes dos 60 anos, doenças inflamatórias intestinais (como Crohn) nem síndromes genéticas conhecidas, como Polipose Adenomatosa Familiar (FAP) ou síndrome de Lynch.
Já uma pessoa com risco alto de desenvolver a doença é aquela que tem um ou mais fatores de risco ligados à doença. Além de se alimentar mal e ser sedentária, é uma pessoa que tem, por exemplo, histórico familiar da doença, doenças inflamatórias no intestino ou alguma das síndromes citadas.
Outra população que tem risco aumentado de ter esse tipo de câncer no reto, porção final do intestino, é aquela que convive com HPV (Papilomavírus humano). Ainda que esse vírus seja mais responsável pelo câncer anal, ele também aparece como causa do câncer retal em cerca de 20% dos casos de adenocarcinoma.
Entender qual é o nível de risco que se corre de ter a doença é essencial para definir a estratégia de rastreio. Isso porque uma pessoa de risco médio, por exemplo, pode iniciar o exame de rastreio – a colonoscopia – apenas aos 45 anos. Enquanto isso, pessoas com alto risco precisam de medidas mais precoces e até mudanças no estilo de vida.
Prevenção de câncer de intestino

Estudos estimam que manter um estilo de vida saudável e manter o rastreamento por colonoscopia em dia conforme indicação médica pode prevenir até 61% dos casos de câncer no intestino. Enquanto isso, o rastreamento da doença é capaz de reduzir a mortalidade por câncer colorretal em até 43%. Isso ainda pode ser complementado pela adoção de certos hábitos e o tratamento de problemas de saúde pré-existentes.
Veja abaixo formas de prevenir o câncer colorretal ou aumentar as chances de cura dele após o diagnóstico:
Alimentação e estilo de vida saudáveis
Para prevenir esse câncer, indica-se uma dieta equilibrada, que seja rica em fibras, vegetais e laticínios. Em contrapartida, é importante evitar o consumo exagerado de carnes vermelhas, alimentos ultraprocessados e gordurosos e álcool.
Além disso, ter um corpo ativo e com peso saudável também são fatores que ajudam. Sendo assim, é importante praticar atividades físicas regularmente, ingerir uma quantidade boa de água diariamente, parar de fumar e moderar o consumo de álcool.
Vacinação contra HPV
A vacina do HPV é uma ótima forma de prevenir a infecção pelo vírus, que é um fator de risco para câncer retal e anal. Pelo Sistema Único de Saúde (SUS), essa vacina está disponível para meninas e meninos de 9 a 14 anos e mulheres e homens que têm HIV. Além disso, pessoas que não completaram o esquema vacinal nessa idade e têm HIV, sofreram abuso sexual, têm o sistema imunológico comprometido ou utilizam Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) também podem se vacinar pelo SUS entre os 15 e os 45 anos.
A vacina também está disponível no particular e é indicada para quem não tomou as doses necessárias na pré-adolescência. É essencial conversar com um médico de confiança para entender a necessidade da imunização fora da faixa etária.
Exames de rastreamento
A colonoscopia é um exame muito útil na detecção de câncer no intestino. Com o paciente sedado, médicos fazem algo como uma endoscopia que começa pelo ânus e percorre todo o intestino, identificando e, por vezes, até retirando pólipos pré-cancerígenos.
Pessoas de risco médio devem começar a fazer colonoscopias a partir dos 45 anos. A frequência é, geralmente, definida após os resultados do exame. Já pessoas que têm alto risco de desenvolver a doença tendem a precisar de periodicidade individualizada e devem consultar um médico para saber quando iniciar e quando repetir o exame.