Vira e mexe a apresentadora Bela Gil ensina receitas naturais que viram polêmica em suas redes sociais. Foi assim com o uso de cúrcuma para escovar os dentes e com o método de higiene íntima com óleo de gergelim. A última fórmula ensinada pela naturalista tem como objetivo afastar o mosquito Aedes aegypti – transmissor do vírus zika, causador da microcefalia em bebês – durante a gestação. Mas será que funciona mesmo ou pode acabar impedindo a proteção adequada?
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Receita de repelente caseiro da Bela Gil
Na última semana, Bela Gil usou seu Instagram para dizer para seus seguidores que o uso de repelentes industrializados contra mosquitos por gestantes pode alterar o desenvolvimento do feto. Como de costume, ela aproveitou para ensinar algumas receitas de repelentes caseiros:
https://www.instagram.com/p/-2TpbyJocF
“Muitos, assim como eu, se preocupam com os componentes ativos dos repelentes comerciais como o DEET que é toxico, podendo levar a danos neurológicos a longo prazo. E para quem está grávida, o uso excessivo desses repelentes pode prejudicar a saúde do bebê (para se proteger do Aedes aegypti se recomenda passar o repelente mais de 3 vezes por dia, uma quantidade excessiva para as grávidas). Por isso também faço o repelente em casa. Essas duas opções já são bem conhecidas; uma com cravo e outra com citronela que contém essências que afastam os mosquitos. Outras opções que gosto muito são: o uso de óleo na pele, pois forma uma barreira física contra os mosquitos, misturar óleos essenciais de lavanda, cravo ou citronela com óleos naturais, o uso do óleo de neem (uma planta indiana muito eficaz colo repelente), misturar gotas de complexo B no óleo e comer bastante inhame!!!! Vale a pena experimentar”.
Mais uma vez, os comentários de Bela geraram polêmica entre seus seguidores. Enquanto alguns agradeceram pela informação, outros se revoltaram com a falta de embasamento da dica. “Estou grávida, sou farmacêutica e acho uma irresponsabilidade essa sua publicação sem nenhuma evidência científica, expondo as grávidas”, disse uma usuária da rede social.
Conversamos com especialistas para entender se as afirmações de Bela fazem sentido ou expõem as gestantes a riscos, uma vez que elas poderiam trocar métodos eficazes (repelentes industrializados) por outros menos eficientes e se tornarem mais suscetíveis ao zika vírus e à microcefalia. Veja a seguir o que eles disseram.
Repelente para grávida: pode ou não?

A dermatologista Camila Simon, da clínica Camila Simon, explica que, segundo estudos científicos, o DEET citado por Bela Gil só é capaz de causar alterações no desenvolvimento do feto quando estiver em concentrações maiores que 50%. “No repelente ele está em, no máximo, 14% e é considerado seguro”.
A grande vantagem do uso de repelentes com DEET está no tempo de duração. “Ele dura aproximadamente 6 horas na pele e deve ser aplicado, no máximo 3, vezes ao dia”, orienta Camila. Além desse, existem outros princípios ativos, como a Icaridina, que dura por até 10 horas, e o IR 35/35, que também é eficaz, mas têm repelência mais curta.
A especialista explica que não há contraindicação para o uso de repelentes durante a gestação e ressalta que, em tempos de surto de microcefalia causado pelo zika vírus (transmitido pelo mosquito Aedes aegypti), é preciso pesar as consequências de não usar um repelente de insetos comprovadamente adequado.
Como usar repelente
A dermatologista conta também que o uso de repelente é comumente feito da maneira errada, isso porque muitos aplicam sobre a pele, ao invés de espirrá-lo sobre as roupas. “O produto forma um halo de repelência de cerca de 4 cm ao redor do corpo, caso você coloque roupas por cima da pele, elas abafarão o produto e diminuirão a eficácia”. Além disso, o recomendado é aplicar o repelente quando você já passou todos os produtos tópicos de costume, como hidratante e protetor solar.
Citronela e cravo para afastar a dengue

Camila Simon conta que o principal problema de usar óleos essenciais de citronela e cravo como repelentes de insetos é o curto tempo de duração de seus efeitos. “Em média, eles são eficientes por apenas 15 minutos”. Além disso, eles são capazes de gerar um incômodo ao mosquito, mas não o suficiente para impedir que ele pique.
O farmacêutico Fernando Costa, professor doutor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo, explica ainda que a principal substância repelente presente na citronela é o geraniol, que fica contido no óleo essencial na folha da planta. Por isso, cultivá-la em casa não é o suficiente para espantar os insetos, o indicado é mesmo usar o óleo essencial extraído industrialmente diretamente sobre a pele.
Com o óleo de neem, também citado pela apresentadora, acontece o mesmo: não há comprovação científica de que ele seja capaz de impedir a picada do Aedes aegypti.
Passar óleos essenciais na pele

Segundo Bela Gil, passar óleos essenciais na pele forma uma barreira física, que impede a picada do mosquito. De acordo com Camila Simon, isso não ocorre. “Nem as roupas são consideradas barreiras físicas adequadas contra mosquitos, que podem picar através de alguns tipos de tecidos”, explica. “Com os óleos, isso também não vai acontecer”.
Comer inhame e vitamina B

O inhame é fonte de vitamina B, nutriente que, quando ingerido, pode fazer com que o corpo exale um odor incômodo aos mosquitos. Esse fato é comprovado pela ciência. No entanto, de acordo a nutricionista Rosana Perim, não é possível adquirir a quantidade necessária de vitamina B para afastar o mosquito através da alimentação,tampouco a relação é cientificamente comprovada.