Você sabe QUEM é você? Não, não estou perguntando o seu nome ou a sua idade, mas quem você é. Geralmente, usamos nossos atributos externos para nos descrevermos: sou Isabela, 33 anos, professora, brasileira… E acredito que o apego a estes atributos seja um dos grandes causadores de nossos sofrimentos. O que acontecerá à Isabela ao se dar conta que não tem mais 33 anos, não tiver mais alunos ou for exilada?
Passamos a vida sem entrar em contato com nosso verdadeiro Ser. Vivemos na superfície de nossa existência e acabamos por nos sentir na solidão, mesmo se rodeados por outras pessoas, pois a real solidão é quando se está vazio de si mesmo. Mas tal vazio pode ser preenchido pela espiritualidade – não com o automatismo da religião, mas, sim, da fé no seu verdadeiro Ser. Mesmo que a gente você não acredite em Deus, você deve acreditar na sua existência, pois sabe que está vivo, certo? Então, este é o ponto de partida para a descoberta do seu mundo interno.
Quando estamos em contato com o nosso verdadeiro Ser navegamos pela vida com serenidade e com uma certa alegria interna
Esta é a proposta da yoga, nos guiar pelo nosso misterioso mundo interior para, ao final, nos fundirmos com o absoluto, ou seja, com nós mesmos. E é exatamente neste ponto que existe um grande mal-entendido, pois muitos acreditam que, para trilharmos o lado espiritual de nossas vidas, temos que abandonar nossa vidinha mundana. Na realidade, esta distinção nem existe, pois o espiritual permeia tudo.
Não existem dois mundos separados e excludentes, o que acontece é que vamos passar a enxergar uma realidade que sempre esteve à nossa frente, mas que não conseguíamos ver. É como se estivéssemos olhando através de uma janela e, num determinado momento, ao percebermos que ela está bem suja, resolvêssemos limpá-la. Para nossa surpresa, ao olharmos novamente através dela, descobrimos a existência de um lindo jardim que estava ali o tempo todo, mas que a poeira da vidraça não nos permitia enxergar.
Depois vem a outra confusão – achar que um Ser evoluído espiritualmente será bonzinho e sorridente o tempo todo, ou que não sentiremos dor. Ser “zen” virou sinônimo de apatia. Quem foi que falou que isto é sinônimo de espiritualidade? Cada um de nós tem uma função a cumprir, um dharma, e ser verdadeiro ao seu dharma não é uma tarefa simples. É preciso força, coragem e a confiança em si mesmo para poder cumprir com o seu destino.
Como crescerão nossas crianças se as educarmos somente com a palavra sim e sorrisos bondosos? Temos que aprender a viver neste mundo como atores, entrando no jogo sem perturbar o nosso mundo interno. Cumprindo nossa verdadeira vocação, lembrando que tudo faz parte de um grande jogo cósmico. Ciente que tudo está exatamente como deveria estar, mesmo que no momento nos pareça muito cruel.
Quando estamos em contato com o nosso verdadeiro Ser navegamos pela vida com serenidade e com uma certa alegria interna. Somos capazes de nos submetermos aos caprichos da vida sem perder a equanimidade. Dor e sofrimento não são sinônimos, é muito possível sentir a dor e não lhe dar permissão para que ela te faça sofrer. E este aprendizado começa quando decidimos nos encontrar.
Namaste!
Isabela Fortes é professora de Iyengar Yoga, sócia e coordenadora do Nirvana. Estudou e morou no Ashram de Meditação Siddha Yoga em Ganeshpuri, Índia, em Nova York, EUA, onde iniciou seu aprendizado de meditação e Hatha Yoga e de onde continua obtendo inspiração.