Mente livre > Se enxergar sob outro olhar

por | jun 30, 2016 | Alimentação

Quando assistimos a um filme de nossa infância, temos a estranha sensação de que aquela pessoa ali, com nosso rosto, voz e gestos, é muito diferente do que somos hoje. Há, simultaneamente, uma identificação e um estranhamento. Esta é a capacidade que a meditação tem. De nos fazer enxergar a nós mesmos, só que de fora, sem julgamentos.

Dentro de todos nós existe a mesma essência. Perceber isso através da meditação faz com que não discriminemos os outros pela bagagem cultural, pela aparência, ou por qualquer outra característica externa

Para ajudar a compreender a sensação de meditar, o professor Maurício Salem compara: “Imagine um rio no qual a água corre constantemente. A água é como o seu pensamento – não pára de fluir. Para chegar à nascente do rio, você tem duas opções. Ou observa o rio de fora dele, caminhando ao longo de seu curso e sabendo aonde quer chegar, ou vai pelo meio do rio, lutando contra a corrente. Se for pelo meio do rio, a água vai te levar – da mesma forma que os pensamentos nos levam”, compara Maurício Salem. “Aceite que os pensamentos existem, mas saiba enxergá-los de fora, com um novo olhar”, sugere o professor.

A capacidade de se enxergar com este novo olhar é o principal objetivo da meditação. É como se ver à distância, ver o que dentro de você está alinhado com o que se acredita. É por isso que a meditação assusta muitas pessoas. “Passamos a enxergar as coisas com mais clareza e simplicidade. A ver o que é essencial – e que muitas vezes não condiz com a forma como temos agido”, revela Mauricio. A partir deste distanciamento, então, conseguimos deixar de lado os preconceitos. “Dentro de todos nós existe a mesma essência. Perceber isso através da meditação faz com que não discriminemos os outros pela bagagem cultural, pela aparência, ou por qualquer outra característica externa”, acredita Maurício.

Será que eu meditei?

Você fez tudo conforme o figurino. Seguiu as regras e dicas, e sentiu alguma coisa diferente. Mas a dúvida continua: será que eu meditei? A professora de Hatha Yoga Isabela Fortes ajuda a responder a pergunta. “Muitas pessoas acham que meditam, mas na verdade estão fazendo o Dharana. O Dharana é um estado de concentração, não é meditação”, diferencia. Para ter certeza de que a meditação aconteceu, é preciso que, durante ela, se desligue da obrigação. “Quem medita não sabe disso na hora. Para meditar, é preciso estar totalmente focado num estado alterado de consciência. A pessoa só vai saber depois”, explica Isabela.

Fazer uma análise de seus sentidos após também ajuda. Se eles estiveram presentes durante a meditação, é sinal de que você ainda não chegou lá. “Ao meditar, você tem seus sentidos sob controle sem se deixar envolver pelos sentidos mundanos. Imagine, por exemplo, que durante uma aula de meditação você sinta um cheiro de café na sala. A mente interpreta esse sentido, dando início a uma corrente de pensamentos. Isso acontece quando os sentidos não estão controlados”. Mais um sinal de que, não!, você não está meditando.