Ginástica passiva: vale a pena?

“Não é feitiçaria, é tecnologia!”, diz a sex symbol Joana Prado, encarnada na personagem da Feiticeira, anunciando um aparelho que promete fazer milagres com o seu corpo: coxas, barriga e braços durinhos sem fazer muito esforço. Os choquinhos que enrijecem a musculatura viraram mania entre as mulheres que alegam “não ter tempo para malhar”, mas muitos especialistas contestam a ação desses aparelhos e garantem que nada se compara à atividade física convencional. Mas, enfim, quem tem razão?

Há algum tempo as clínicas de estética vêm utilizando instrumentos de estimulação muscular por meio de correntes elétricas — chamada de estimulação isométrica —, que são usados pela fisioterapia. Esse tipo de “tratamento” já se mostrou bem eficaz em programas de reabilitação física para manter o tônus e evitar a hipotrofia dos músculos, principalmente em casos reumáticos e ortopédicos, mas quando o assunto é beleza a coisa muda de figura. Segundo o médico Robson Luís de Bem, especialista em medicina desportiva, a ginástica passiva com estímulos elétricos até ajuda a melhorar o tônus muscular, mas não faz grande diferença para quem busca um corpo mais definido e trabalhado. “Para que tivesse algum efeito estético visível, você precisaria trabalhar um número maior de fibras do que esses aparelhos conseguem. De maneira alguma ele substitui o exercício físico normal, pois você consegue mobilizar uma massa muscular muito maior”, diz ele. No entanto, a fisioterapeuta-estética Bianca Ribeiro, da Clínica Fisiobelle, no Rio de Janeiro, garante que os aparelhos profissionais de estimulação (Estimulação Russa, Sculpteur etc) combatem sim a flacidez e até ajudam a melhorar a circulação, diminuindo a celulite.

Como funcionam os aparelhos de ginástica passiva?

Você prende, com água ou gel, os eletrodos em posições estratégicas no corpo, para trabalhar um grupo muscular específico. Em geral, eles dão choques de 30 mini-ampères, o que não chega a ser uma tortura. A corrente é interrompida várias vezes e provoca a estimulação dos nervos motores, que, por sua vez, causam as contrações musculares involuntárias. O estímulo elétrico é modulado de acordo com o músculo que você quer trabalhar. Enquanto isso, você pode estar deitada assistindo à sua novela favorita ou lendo uma revista. Pode parecer o Éden para aquelas que sonham em ficar com o corpo da Scheila Carvalho sem suar a camisa, mas o fisioterapeuta José Luiz Fernandes afirma que esse é um sonho impossível se você não fizer nenhum exercício aeróbico e uma bela dieta para acompanhar. “Isso que mostram na tevê não existe! Eles até têm um efeito, pois têm uma base fisiológica, mas não pode ser feito desse modo e sozinhos não fazem nada. Além disso, é preciso procurar o auxílio de um fisioterapeuta antes, pois não pode haver saturação dos músculos”, afirma José Luiz.

O professor de educação física da Body Tech, no Rio de Janeiro, Alexandre Rodrigues diz que o estímulo involuntário de maneira alguma tem o mesmo efeito de uma ginástica ativa, porque a prática de esporte não se resume só a buscar um corpo perfeito mas também a saúde e qualidade de vida. O médico Robson de Bem concorda. “Nós, médicos, sempre indicamos a prática de um exercício físico para melhorar a qualidade de vida, socializar e diminuir o estresse. Na ginástica passiva você não tem nada disso”, afirma. Os aparelhinhos “mágicos” também não garantem o ganho de força, tampouco aquela barriguinha de tanque de lavar roupa. Para tornear os músculos, só mesmo as boas e velhas musculação e ginástica localizada. Foi a essa conclusão que a dentista Márcia Perez chegou, depois de usar o Elysée Belt (R$ 350,00) por quase seis meses. “Caí no conto do vigário mesmo. Fiz tudo direitinho, mas meu bumbum não levantou de jeito nenhum. No final das contas, não tem nada como ir à academia e malhar muito”, conta ela.

A advogada Juliana Moraes, que pratica esportes desde que era pequena, diz que usa o Tua Excel (R$ 330,00) quando vai viajar e que “ele segura a onda bem”. “Como eu pratico muito esporte, tenho medo de ficar parada e perder o tônus, por isso o meu treinador indicou que eu usasse só para dar uma manutenção. Mas jamais deixei de ter uma boa alimentação e de fazer exercícios”, conta. Para o personal trainner João Marcelo Ribas, essa é a única utilidade desses aparelhinhos, pois podem ajudar a manter o tônus ganho com uma boa malhação. “Para vocês terem uma idéia, eles são boas opções para os paraplégicos, por exemplo. A ginástica passiva evita a hipoatrofia e dá uma forcinha para os atletas quando ele têm que ficar um ou dois dias com pouca atividade física, ou quando estão machucados”, afirma João Marcelo. Segundo a fisioterapeuta Patrícia Bayma, eles também podem ser usados em pessoas com problema nas articulações e com dificuldades de conseguir boa amplitude nos movimentos. “A estimulação provocada por aparelhos só trabalha com a “largura” do músculo e não com o comprimento, por isso não há fortalecimento”, explica ela.

O resumo da ópera é: nada – absolutamente nada – substitui os benefícios do esporte e da atividade física. Para ter um corpo durinho e saudável, não tem como escapar das abdominais, da musculação, dos exercícios aeróbicos e de uma dieta superbalanceada. Se você resolver optar por usar a ginástica passiva como complemento, no entanto, não deixe de procurar um médico ou fisioterapeuta para fazer um programa de uso, definindo o tempo e a intensidade. Lembre-se de que se os aparelhos forem mal utilizados, podem ocorrer lesões nas fibras musculares. De acordo com Patrícia Bayma, os exercícios isométricos não devem ser feitos por pessoas hipertensas ou com problemas cardiovasculares.

Os aparelhos mais usados

Há uma diferença muito grande entre os aparelhos usados em clínicas de estética e os portáteis. Segundo a fisioterapeuta Bianca Ribeiro, estes últimos têm uma potência muito baixa e não são práticos, pois trabalham regiões muito isoladas e você precisa ficar horas para trabalhar o corpo inteiro.

Corrente Russa – Usado em clínicas. Trabalham as fibras vermelhas, brancas e intermediárias, com uma potência de 50 Hz. A fisioterapeuta Bianca Ribeiro indica o uso três vezes por semana, até 17 minutos. As sessões ficam em torno de R$ 50,00.

Sculpteur – Também é de uso profissional. É preciso um mínimo de 10 sessões de 20 minutos. Os pacotes ficam entre R$ 150, 00 e R$ 360,00.

Compex Fitness – Portátil. É comercializado pela Compex do Brasil e sai por salgados R$ 1,8 mil.

Elysée Belt – Portátil. É vendido pelo telefone, por comércio eletrônico e em lojas de eletrodomésticos. Custa aproximadamente R$ 350, 00, com 8 eletrodos.

Tua Excel – Portátil. Tem dois programas de trabalho específicos:

o “Tone”, que exercita os músculos com contrações prolongadas seguidas de pausas de relaxamento breves, e o “Slim”, programa para emagrecimento das zonas adiposas, com um exercício rápido (contrações breves seguidas de pausas de relaxamento, também breves). R$ 330,00

Tua You and Me – Portátil. É superpequeno e tem só dois eletrodos. Custa R$ 110,00.

Agradecimentos

Patrícia Bayma – fisioterapeuta

Tel.: (24) 519-0824

José Luiz O. Fernandes – fisioterapeuta

Tel.: (11) 5084-2898

Robson Luís de Bem – médico desportista

Tel.: (21) 2205-9841

Clínica Fisiobelle

Av. das Américas, 500 bl 16, sala 214. Barra.

Tel.: (21) 2494-5937

Body Tech Club

Rua Visconde de Piarajá, 201. Ipanema.

Tel: (21) 2523-3898