Perda de peso rápida pode vir acompanhada de prejuízos à saúde na dieta do chef Henrique Fogaça
Em apenas três meses, o chef Henrique Fogaça perdeu pelo menos 16 kg. A principal mudança foi na alimentação.
“80% fazendo uma dieta praticamente isenta de carboidrato e 20% exercício físico”, escreveu no Instagram. Ele seguiu a chamada “dieta da selva”, que é baseada em gorduras, frutas e 0% de alimentos industrializados – o que pode ser um desafio grande nos dias de hoje.
Riscos da dieta da selva
“Nem tudo que parece natural é seguro”, diz alerta do Conselho Federal de Nutrição sobre a dieta da selva.
Membro da Câmara Técnica do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região, a nutricionista Thelma Feltrin* lista ao Tá Saudável efeitos colaterais que podem surgir no curto a longo prazo com uma alimentação tão restritiva:
- • deficiência de nutrientes
- • aumento do colesterol e triglicérides
- • alteração do ácido úrico
- • danos a quem tem doença renal com sintomas ou silenciosa
- • reganho de peso a longo prazo
- • prejuízo à imunidade
O Conselho Federal de Nutrição afirma ainda que a saúde não deve ser guiada por tendências, mas por ciência e responsabilidade.
O perigo dos ultraprocessados

Além de reduzir drasticamente o carboidrato, a dieta da selva também busca eliminar os alimentos industrializados.
Neste ponto, é importante entender o processamento da comida que chega à nossa mesa.
O Guia Alimentar da População Brasileira divide os alimentos em diferentes categorias de acordo com o tipo de processamento empregado na produção:
- • in natura ou minimamente processado: têm nenhuma ou mínima alteração após deixarem a natureza
- Ex.: frutas frescas vendidas na feira e arroz embalado
- • processados: têm adição de sal, açúcar ou outra substância de uso culinário como óleo ou vinagre
- Ex.: extrato de tomate e atum enlatado
- • ultraprocessado: muitos ingredientes, incluindo sal, açúcar, óleos, gorduras e substâncias de uso exclusivamente industrial
- Ex.: macarrão instantâneo e biscoito ou bolacha recheados
Thelma explica que nem todo industrializado é ruim, o problema está no nível de processamento.
Alimentos in natura ou minimamente processados devem ser a base da nossa alimentação em qualquer tipo de dieta.
Já quanto mais processado, menos devemos consumir. Os ultraprocessados são os alimentos que devem ser realmente evitados.
Mas Thelma afirma que não precisa de “neura”. Quando o consumo é uma exceção e não uma regra, não vai causar danos ao organismo.
A dica aqui é olhar a lista de ingredientes do produto no rótulo. Quando o alimento é minimamente processado, a maior parte da população conhece e entende os alimentos usados na produção.
Mas a dieta da selva restringe não só os produtos industrializados. Ela vai além.
Dietas restritivas

Thelma entende a dieta da selva dentro de um ciclo de dietas restritivas que vão e voltam de tempos em tempos.
As dietas Atkins e cetogênica, por exemplo, também restringem drasticamente o carboidrato e usam a gordura como fonte principal de energia.
“O que a gente vê é uma busca por perda de peso rápida. As notícias sobre essas dietas já destacam a redução de peso em curto período. Mas ninguém vai mostrar daqui um tempo como a pessoa fica.”
Dieta brasileira já é boa

Até o tradicional arroz e feijão do brasileiro é taxado de vilão. Há quem defenda que o carboidrato proveniente da dupla possa ser substituído pelo de frutas. Mas a comparação é injusta para a nutricionista.
“Nem todo carboidrato é igual. A fruta vai ter frutose, que é um carboidrato simples, rapidamente absorvido. Quando você vai para o arroz e feijão, além de ter carboidrato, tem proteína também, de origem vegetal, além de outros nutrientes.”
O arroz e feijão não é defendido só pela questão cultural, mas também pelo valor nutritivo.
Problema do carboidrato é o excesso
Agora, quando falamos em carboidratos, há de fato um vilão: o excesso.
“Mas as pessoas vão muito no extremo ao tirar todo o carboidrato, como se ele fosse o grande vilão da vida. O que a gente precisa, na verdade, é um equilíbrio no consumo desses alimentos.”
O PF brasileiro mostra equilíbrio até nas cores do prato. Tem o arroz e feijão, que complementam, a proteína e a verdura. Um prato diversificado e colorido.
Já dietas restritivas tendem a ser monótonas, perdendo até o colorido.
Proteína é isso tudo mesmo?

Não é difícil perceber que estamos vivendo um “boom” de proteína. Já existe até vinho low carb com proteína adicionada.
Mas, considerando a população em geral e uma pessoa saudável, já adulta, não gestante, Thelma não vê necessidade dessa corrida atrás das “metas de proteína”.
“A gente está consumindo proteína como se ela fosse o nutriente mais importante que a gente precisa. Acho que nós estamos vendo uma onda – que logo vai passar, espero eu -, desse alto consumo e com a própria indústria ofertando muito suplementos.”
Para a nutricionista, o foco deveria ser entender a necessidade individual de cada um.
O que fazer antes de iniciar uma dieta?

O mais indicado é buscar ajuda de um profissional para uma avaliação da saúde antes de iniciar qualquer mudança drástica na alimentação ou suplementação.
“Toda dieta deve ser orientada por um nutricionista. Um nutricionista mais consciente não vai partir para as dietas radicais, mas ele pode esclarecer para o paciente uma alternativa para uma redução de peso sustentável, duradoura e saudável”, completa a especialista.
Este conteúdo contém informações de entrevista realizada com a nutricionista Thelma Feltrin (CRN 3 5960), do Conselho Federal de Nutrição, e do Guia Alimentar para a População Brasileira.









