Por Redação
Você sabia que o Brasil é um dos maiores consumidores mundiais de medicamentos para emagrecer? Mais de 40% da nossa população vive com sobrepeso e mais de 10% sofre com os efeitos da obesidade. Para enfrentar o problema, muitas pessoas correm para o consultório médico o que resulta em três recomendações: reeducação alimentar, prática regular de atividades físicas e remédio para emagrecer.
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Pois agora um dos medicamentos mais populares para perda de peso, a Sibutramina, está na mira de autoridades sanitárias de todo o mundo. O motivo? Um estudo feito na Europa, que envolveu 10 mil pacientes durante seis anos, apontou que os riscos em seu uso parecem ser muito maiores do que os benefícios.
Problemas cardiovasculares
Concluído em 2009, o estudo Sibutramine Cardiovascular Outcomes (SCOUT) mostrou um crescimento de 16% das chances de desenvolvimento de problemas cardiovasculares, como infarto do miocárdio, parada cardíaca e derrame entre os pacientes obesos ou com sobrepeso que usam medicamentos à base de Sibutramina. De acordo com as autoridades sanitárias da Europa, a perda de peso resultante do uso desses medicamentos é bem pequena – em média, de dois a quatro quilos. Ou seja: afeta a saúde e não resolve o problema.
O resultado repercutiu em vários países. Nos Estados Unidos, mesmo com pedidos de grupos de defesa de consumidores para que os produtos sejam retirados do mercado, o órgão responsável pela regulação de medicamentos, a Food & Drug Administration (FDA), pediu aos fabricantes que coloquem na bula a contraindicação do uso em pacientes com histórico de doenças cardiovasculares. Na Europa, a decisão foi radical: no dia 21 de janeiro deste ano, a Agência Européia de Medicamentos (EMEA) proibiu o uso da Sibutramina no continente.
No Brasil a situação está sendo avaliada. No ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), recebeu 37 notificações sobre reações adversas decorrentes do uso da Sibutramina, sendo 14 delas referentes a problemas cardiovasculares. Ninguém morreu, mas foi dado o alerta. Em nosso país, a bula dos medicamentos com Sibutramina fala da possibilidade de haver efeitos adversos sobre o coração, porém a única contraindicação se dirige a pessoas com histórico de distúrbios alimentares, como a anorexia.
Porém, depois que a EMEA soltou o comunicado sobre a proibição da Sibutramina na Europa, a ANVISA enviou um alerta a médicos e farmacêuticos e ampliou o perfil dos pacientes que não devem usar a substância. Agora ela não pode mais ser prescrita a pacientes obesos com problemas ou antecedentes de doenças cardio e cerebrovasculares e também a quem é obeso, sofre de diabetes mellitus tipo 2 e apresenta risco de desenvolvimento de problemas cardiovasculares. Ainda assim, a Câmara Técnica de Medicamentos da ANVISA vai se reunir para analisar se amplia as contraindicações ou proíbe de vez a Sibutramina no Brasil.
Mas, afinal, o que é a Sibutramina?
Criada como antidepressivo nos anos 80, a Sibutramina começou a ser receitada como coadjuvante em terapias de emagrecimento em 1997 após o aval do FDA, nos Estados Unidos. A droga comercializada com os nomes de Reductil e Meridia age no sistema nervoso central, estimulando a sensação de saciedade e fazendo a pessoa sentir vontade de comer menos. ‘O medicamento à base de Sibutramina promove a sensação de plenitude gástrica, ou seja, com pouca ingestão de comida a pessoa fica saciada. Ela não perde o apetite, apenas fica satisfeita mais rapidamente’, explica o endocrinologista Ricardo Botticini Peres, do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo.
O público-alvo da Sibutramina, segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, são pessoas com obesidade mórbida ou Índice de Massa Corporal igual ou superior a 30 kg/m² e que não conseguem emagrecer apenas com planos alimentares e atividades físicas, desde que não apresentem predisposição a doenças cardiovasculares.
Como qualquer medicamento que necessite de recomendação médica e retenção de receita para a venda, a Sibutramina precisa ser usada com muito critério, pois seus efeitos colaterais são numerosos. Entre eles: dores de cabeça, tonturas, sonolência, dores nas articulações e nos músculos, náusea, boca seca, irritação no estômago, constipação (intestino preso), dores menstruais e elevação da pressão sanguínea.
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Em alguns pacientes, porém, os efeitos podem ser bem mais graves: ataque apoplético (coágulo ou hemorragia nos vasos sanguíneos), arritmia cardíaca, dores no peito, problemas para urinar, alterações mentais e de humor, parestesia (sensações como frio, calor e formigamento na pele), alterações na visão, edemas (inchaços), falta de ar e hemiplegia (paralisia de um dos lados do corpo), entre outros. Se um deles aparecer, é preciso procurar atendimento médico imediatamente.
Como atua sobre o sistema nervoso central, a Sibutramina pode provocar transtornos psíquicos em quem tenha predisposição a eles ou agravar um quadro já existente. Pessoas obesas que sofrem com problemas mentais ou bipolaridade, por exemplo, não podem usar o medicamento, pois ele pode resultar em desestabilização do humor.
Muito antes de toda a polêmica sobre a Sibutramina começar, o setor de Farmacovigilância do Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo soltou, em 2002, um alerta terapêutico para informar sobre esses riscos. Naquele ano, havia recebido 29 notificações de efeitos psíquicos provavelmente causados pela substância, 11 desses pacientes mostraram problemas psiquiátricos. Entre as reações percebidas houve depressão, alucinações, sensação de morte iminente, desvios de conduta, pensamento acelerado, redução do senso crítico e comportamentos de risco, entre outros.
Apesar dos efeitos colaterais, o uso cauteloso do medicamento é defendido pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. ‘A Sibutramina é comercializada há mais de dez anos e não há evidências de que sua prescrição criteriosa, apenas para pacientes sem contraindicações formais, ocasione o aumento de eventos cardiovasculares. Como a obesidade é um dos maiores problemas de saúde pública é necessário lançar mão de todos os recursos terapêuticos seguros e consagrados por pesquisas científicas com o objetivo de combatê-la’, afirma o presidente da Sociedade, Dr. Ricardo Meirelles. Segundo ele, os pacientes que participaram do estudo europeu já tinham predisposição a doenças cardiovasculares e, portanto, não seriam normalmente indicados para o tratamento com a Sibutramina.
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Já o Dr. Ricardo Botticini Peres, do Hospital Albert Einstein, diz que é possível que a Sibutramina cause problemas cardiovasculares até em quem não apresenta predisposição para eles. ‘A substância também pode causar alterações nesses pacientes pois aumenta a freqüência cardíaca e a pressão arterial sistêmica’, diz. Ainda assim, ressalta que é preciso esperar novos estudos. ‘Existem estudos americanos em andamento que divergem do europeu, mas a cautela é não indicar a Sibutramina em pacientes com risco coronariano ou hipertensão arterial não controlada. Os pacientes precisam ser alertados sobre estes problemas até que haja uma definição da ANVISA ou do FDA americano’, afirma.
O remédio é indispensável ao tratamento?
Segundo os médicos entrevistados, não. Ambos defendem que o tratamento deve ser personalizado, com a adoção de hábitos saudáveis de vida, com alimentação equilibrada e prática de atividades físicas. ‘Os medicamentos, quando necessários, devem ser considerados apenas como coadjuvantes terapêuticos e prescritos criteriosamente’, ressalta o Dr. Ricardo Meirelles. O mesmo raciocínio é adotado pelo Dr. Ricardo Botticini, do Einstein. ‘Toda a abordagem para o tratamento da obesidade passa pela reeducação alimentar e a prática de exercícios. O uso de medicação pode ser necessário, mas é secundário no tratamento’, sublinha.
Então, se você acha que está bem acima do peso e precisa fazer as pazes urgentemente com a balança, procure um médico especializado. E um alerta: automedicação, especialmente com Sibutramina, jamais.