Após um trauma na região do rosto causado por um golpe ou um acidente, é natural sentir dores na mandíbula, mas e quando a dor surge sem uma causa aparente? Para muitos, esta dor ou tensão na área que vai desde o queixo às orelhas se manifesta na hora de comer, ao falar por muito tempo e em inúmeras outras situações corriqueiras – e há uma série de possíveis razões a se investigar diante deste problema.
Dor na mandíbula: o que pode ser?
Para entender melhor as causas da dor na mandíbula, é preciso, primeiramente, entender esta estrutura. Popularmente chamada de maxilar, a mandíbula é o único osso móvel da cabeça, tem o formato que lembra um “U” e é responsável por movimentos que permitem a fala, a mastigação e outros. Para se mover, porém, ela se liga ao crânio pela chamada articulação temporomandibular (ATM) – e é aqui que a maior parte das dores tem origem.

A ATM, por sua vez, é a única articulação do corpo que é interligada, ou seja, tem os dois lados se movimentando sempre ao mesmo tempo. Além de ser um mecanismo complexo, ela também envolve os dentes – e, como tanto eles quanto esta área do corpo estão muito sujeitos a uma série de modificações, problemas e até acidentes, há uma série de possíveis causas para a chamada disfunção da ATM ou disfunção temporomandibular (DTM), causadora das tão frequentes “dores na mandíbula”.
Possíveis causas da dor na mandíbula
Reunimos informações de renomados órgãos e instituições de saúde, como o Ministério da Saúde, o setor de fisioterapia musculoesquelética do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS), a Mayo Clinic e a Cleveland Clinic, para explicar o que pode estar por trás dessas dores.
Vale lembrar que elas podem estar acompanhadas por sintomas como estalos, zumbidos no ouvido, dores de cabeça, barulho próximo à orelha ao abrir e fechar a boca, desgaste dental excessivo, travamento do maxilar inferior, tonturas e vertigens.
Mordida desalinhada
Para que toda a estrutura composta pela ATM, a mandíbula e o maxilar superior funcione da forma correta, é preciso que a mordida – forma como os dentes superiores e inferiores se encaixam – esteja devidamente alinhada. Problemas como mordida aberta e prognatismo (queixo projetado para frente causando mordida cruzada), por exemplo, podem gerar uma DTM, causando dor;
Falta de dentes
Como o desalinho da mordida compromete o funcionamento da ATM e das estruturas em que ela está ligada, a falta de dentes está entre as possíveis causas da DTM. Isso porque, conforme um espaço se abre na arcada dentária, é possível que ela se modifique para reacomodar a mordida, desalinhando-a e gerando os sintomas do problema;
Aperto ou ranger de dentes (bruxismo) de dia ou à noite
Problema comum especialmente em pessoas ansiosas, o bruxismo (ranger de dentes noturno) e o aperto constante dos dentes ao longo do dia em momentos de tensão ou concentração contribuem com o desgaste da ATM a longo prazo. Isso, por sua vez, pode causar um deslocamento do disco que “encaixa” os ossos nesta articulação e minimiza o impacto dos movimentos, gerando, assim, uma DTM.
Artrite na ATM
Entre seus diversos tipos (infecciosa, traumática, reumatoide e degenerativa), a artrite, problema que causa inflamação nas articulações, tem entre seus sintomas dor e rigidez nas mesmas, constituindo mais uma possível causa para uma disfunção da ATM (e da dor mandibular).
Trauma na região do rosto
Levar um soco ou uma bolada, cair de forma a bater o rosto no chão ou sofrer um acidente no qual o rosto é submetido a algum tipo de impacto podem atrapalhar o funcionamento normal da ATM e dos maxilares, causando então a dor.
Estresse crônico ou ligado a um evento traumático
Quando nos estressamos, é comum isso se manifestar fisicamente com uma mordida apertada e tensão muscular em todo o corpo. Em excesso, isso pode desencadear o desgaste da ATM, gerando uma disfunção que causa dor.
Má postura
O funcionamento da ATM e da mandíbula de forma geral também são afetados pela postura, que “muda” a forma como os dentes se encaixam, mesmo que temporariamente. Por isso, ter o hábito de ficar em certas posições (como com as costas curvadas e a cabeça projetada para frente, descansando o queixo na mão, segurar o telefone entre a cabeça e o ombro, etc) também pode ser responsável por uma DTM e, consequentemente, dor na mandíbula.
Maus hábitos relacionados à boca (mastigar lápis, roer unhas, etc)
Assim como o apertar e o ranger de dentes, ter maus hábitos como o de morder objetos constantemente, mascar muito chiclete, roer unhas, entre outros, também contribuem com o desalinho do maxilar e o desgaste da ATM, gerando, a longo prazo, dor.

Uso excessivo da mandíbula (para cantar, tocar instrumentos de sopro, etc)
Frequentemente, uma DTM (e a dor mandibular ligada à ela) está relacionada com o uso excessivo desta estrutura. Isso, por sua vez, é comum entre pessoas que cantam muito ou tocam instrumentos de sopro.
Próteses mal adaptadas ou “gastas”
Quando não são feitas ou colocadas adequadamente, ou passam por um desgaste físico por falta de manutenção, próteses também podem ocasionar o desalinho da mordida, gerando então uma DTM.
Dor na mandíbula sem relação com a ATM
Por vezes, porém, a dor na mandíbula não está relacionada a uma DTM, e sim isoladamente com o que ocorre dentro da boca. É possível, por exemplo, que males ligados aos dentes, como problemas de canal, gerem este desconforto. Nestes casos, a dor é mais localizada e tende a não vir acompanhada de problemas como rigidez, estalos, entre outros.
Como tratar dor na mandíbula
Em geral, o tratamento para dor na mandíbula depende da causa da DTM. Sendo assim, é possível que o paciente seja orientado a identificar gatilhos de tensão e hábitos impróprios, usar medicamentos para dor, fazer compressas quentes no local, reavaliar uma prótese dental, restaurar a arcada após a perda de um ou mais dentes, entre outros.
Caso o desgaste da ATM já tenha ocorrido ou o problema seja estrutural (como uma mordida aberta ou cruzada), profissionais da ortodontia podem recomendar o uso de aparelhos para melhora do alinhamento bucal, e até procedimentos cirúrgicos em casos mais extremos.
Se o problema não melhora naturalmente, mas não é preocupante, é possível também usar placas que protegem as estruturas ao suavizar o bruxismo, ou até aplicar toxina botulínica em certos músculos do maxilar para paralisar parcialmente o movimento e impedir que a tensão causada por estresse ou outros aumente o desgaste da ATM.

É importante lembrar, porém, que apenas médicos e cirurgiões-dentistas devidamente habilitados podem fazer o diagnóstico de condições como as citadas, bem como a indicação de tratamentos e remédios.