“Epidemia da dança”: como distúrbio mental fez 400 pessoas dançaram por meses em 1518?

Em um dia qualquer de julho de 1518, em Estrasburgo, cidade do nordeste da França, uma mulher chamada Frau Troffea começou a dançar pelas ruas, sem qualquer motivo aparente e ou mesmo música ao redor.

Mas logo a energia e suposta “alegria” da mulher passariam a causar grande estranheza, já que ela não parou de se contorcer, girar e sacudir por vários dias seguidos. Como se não bastasse, a dança se tornou algo contagiante: dentro de uma semana, cerca de 30 outras pessoas se juntaram a ela e, em apenas um mês, mais de 400 pessoas estavam dançando pelas ruas.

Assim começou a “epidemia da dança”, um fenômeno macabro, bizarro e que até hoje deixa historiadores em dúvida.

O que foi a “epidemia da dança” na França

Notas médicas da época, sermões religiosos, crônicas e até mesmo publicações oficiais do conselho municipal de Estrasburgo fazem parte dos documentos históricos que relatam a “epidemia da dança” de 1518.

Descartando qualquer hipótese mística, astrológica ou sobrenatural, o conselho de médicos concluiu que a dança era sintoma de uma doença provocada por “sangue quente”. Para tentar controlar a epidemia e curar as vítimas, as autoridades decidiram abrir salões em locais afastados para que as pessoas pudessem continuar dançando. A medida, claro, não deu muito certo.

Documentos mostram que muitos desmaiavam de cansaço e que, no auge da epidemia, cerca de 15 pessoas morriam por dia de ataques cardíacos, derrames cerebrais ou exaustão. O estranho episódio não terminou até setembro, quando os dançarinos foram levados a um santuário no topo de uma montanha para rezar por absolvição.

Ilustração que retrata
Wikimedia Commons

O que teria causado a “epidemia da dança”

A “epidemia da dança” que tomou conta de Estrasburgo pode soar como uma lenda, mas está bem documentada nos registros históricos do século XVI.

Em um artigo para o jornal The Guardian, de julho de 2018, John Waller, autor de “A Time to Dance, A Time to Die: The Extraordinary Story of the Dancing Plague of 1518″, livro sobre o assunto, conta que, por um bom tempo, acreditou-se que o estranho acontecimento teria sido resultado de ergotismo, uma doença causada por toxinas produzidas por fungos presentes no centeio e outros cereais. Afinal, a condição pode induzir alucinações aterrorizantes e espasmos violentos.

Porém, segundo o pesquisador, é muito improvável que as vítimas pudessem dançar sem parar se estivessem com a doença. A hipótese de subversão religiosa também foi descartada, já que os registros deixam claro que os dançarinos não estavam felizes ou se divertindo de alguma forma.

A explicação mais plausível, de acordo com Waller, é que o povo de Estrasburgo foi vítima de doenças psicogênicas em massa, o que costumava ser chamado de “histeria coletiva”. Um distúrbio psicogênico é qualquer perturbação ou sintoma que tem sua origem no funcionamento psicológico. Refere-se a problemas que podem surgir a partir de conflitos e de dificuldades emocionais.

E segundo o autor, a vida em Estrasburgo no início dos anos 1500 era bastante propícia a doenças psicogênicas, já que grande parte da população vivia em situação de miséria e era assombrada por conflitos sociais e religiosos.

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