Uma em cada quatro mulheres atendidas em hospitais durante o parto ou a cesárea assumem terem sido vítima de violência obstétrica. O problema atinge todas as regiões do país e não faz distinção de classe social. E foi exatamente para fazer esta denúncia e dar passos rumo à mudança deste cenário que a fotógrafa Carla Raiter e a produtora cultural Caroline Ferreira decidiram se unir.
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Fruto é o projeto “1:4 retratos da violência obstétrica”, que reúne fotos e relatos de mulheres que passaram por situações violentas enquanto davam a luz, e tem a intenção de causar a reflexão e conscientizar as pessoas sobre a necessidade da humanização do atendimento.
Violência Obstétrica
Rotineira nos hospitais brasileiros, violência obstétrica são considerados todos os procedimentos, físicos ou não, pelos quais as mulheres passam na gestação trabalho de parto, parto e pós-parto e abortamento que não são preconizados pelos princípios da humanização e da medicina baseada em evidências.
Agressões verbais, recusa de atendimento, privação de acompanhante, lavagem intestinal, jejum obrigatório, episiotomia, separação de mãe e bebê saudável, introdução de chupeta e complemento sem autorização estão entre as práticas mais comuns.
Denuncie
Para denunciar violências na hora do parto, solicite o prontuário médico no hospital e procure a Defensoria Pública do município. Além disso, encaminhe uma carta detalhando os procedimentos e envie para a Ouvidoria do Hospital, para a Secretaria Municipal de Saúde, para a Secretaria Estadual de Saúde e, em casos de planos de saúde, para a Diretoria do Plano de Saúde.
1:4 – fotos da violência obstétrica
‘O pai foi despachado, não poderia acompanhar, não poderia ficar na porta. Cruelmente, não lhe deram opção e, se continuasse insistindo, o segurança estava bem ali.’
‘Eu devia estar feliz, minha filha ia nascer! Em vez disso, só pensava em quando aquele calvário acabaria, quando eu poderia ficar em paz, quando haveria silêncio e privacidade.’
‘Eu morria de sede. Às nove ou dez da noite, tudo que eu pedia, aos berros, era um copo d’água. Mas a doutora negou. Ríspida, grosseira e com a cara enfiada no meio das minhas pernas. Disse que podia fazer mal depois, na hora de nascer.’
‘A nova enfermeira do corredor ignorou todos os pedidos de ajuda que fizemos – eu e a outra mãe do mesmo quarto. Parecia que, a menos que estivéssemos morrendo, não merecíamos cuidado.’
‘Ela ficava dizendo: anda senhora, levanta. Para de se fazer de vítima.’
‘Eu olhava em volta e só via rostos estranhos, meu marido tinha sumido e meu bebê não estava mais lá. A médica mal-educada me mandou ficar quieta, disse que tinha que tirar a placenta e me finalizar.’
‘Tenho vontade de chorar dizendo isso. […] Durante cerca de 11 meses eu senti como se fosse rasgar o local da cicatriz.’
‘Sua placenta está em grau 3. Eu recomendo que você agenda uma cesárea hoje. Seu bebê está bem agora, mas a gente não sabe como vai estar daqui a pouco, e você sabe… seu bebezinho não quer morrer.
‘Eu me senti invadida, […] tive meu órgão dilacerado e reconstruído mecanicamente.’
‘Ela me deixou ali no corredor do hospital, ainda tremendo, vestida com a mesma camisola ensanguentada molhada, sem cobertor e sem responder minhas perguntas.’
‘Ela empurrou a cabeça da bebê de volta pra dentro. Eu dizia pra ela parar, porque a cabeça já havia coroado; ela me disse que eram normas do hospital, e eu não entendia o que ela queria dizer com aquilo.’
‘As palavras que eu e meu marido ouvimos do médico foram: no parto normal sua bexiga pode sair pra fora e sua pélvis vai ficar dilacerada.’
‘Com 37 semanas ele resolveu fazer um exame de toque e disse que eu estava com 3 dedos de dilatação, que meu bebê nasceria naquele dia. Sugeriu, então, já que eu me recusava a fazer a cesariana, descolar minha bolsa para que eu não corresse o risco de entrar em trabalho de parto de madrugada, porque ele talvez não poderia me atender.’
‘Deitei e ainda questionei novamente, porque eu já havia falado em todos o pré-natal que eu não queria episiotomia. Mas não adiantou. Deitei, coloquei os pés nos apoios, ele fez a episiotomia. Meu marido nesse momento questionou: – não cortou muito, doutor? e ele fez que não com a cabeça.’