Tylenol na gravidez causa autismo? Entenda o que está por trás da fala de Trump sobre o remédio

Segundo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Tylenol e autismo estariam ligados – mas estudos robustos e instituições renomadas já derrubaram essa hipótese

Um recente anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reascendeu uma suposição antiga. Em um discurso, o político relacionou o uso de Paracetamol (Tylenol) na gravidez ao que chamou de “epidemia de autismo” – e, apesar de estudos já terem correlacionado

Trump relaciona autismo e Tylenol: o que é real?

Tylenol e autismo
(Crédito: RONALDO SCHEMIDT/AFP via Getty Images)

Recentemente, o presidente Donald Trump afirmou ter descoberto a causa da “epidemia de autismo”, forma como se refere ao aumento no número de diagnósticos do transtorno nos Estados Unidos nas últimas décadas. Segundo ele, a causa seria o uso do medicamento Tylenol durante a gravidez, algo que resultaria em crianças com autismo.

Em uma coletiva de imprensa realizada na Casa Branca, ele afirmou crer que o medicamento é perigoso e deixou uma orientação. “Recomendamos fortemente que as mulheres limitem o uso de Tylenol durante a gravidez, a menos que seja clinicamente necessário”.

Além do presidente, a Food and Drug Administration (FDA), órgão semelhante à Agência Nacional de Vigilância Sanitária no país, afirmou estar trabalhando para mudanças na bula do medicamento. Citando alguns estudos, o órgão afirma que a possível ligação entre o remédio e o autismo devem estar claras no rótulo, informando usuários.

Tylenol causa autismo? Entenda o que dizem os estudos

Tylenol e autismo
(Crédito: RONALDO SCHEMIDT/AFP via Getty Images)

O Tylenol, nome comercial do Paracetamol, é um medicamento que age contra dores e febre. Ele é, inclusive, um dos únicos recomendados para mulheres grávidas devido ao fato de que outros medicamentos parecidos, como Ibuprofeno e Aspirina, por exemplo, trazem riscos à gestação.

Mas, afinal, de onde vêm as suspeitas sobre a relação entre Tylenol e autismo? No passado, estudos observacionais realmente reportaram uma suposta associação entre o uso do remédio no pré-natal e o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Os estudos em questão são baseados em associações. Associações podem ser feitas ao observar que dois eventos costumam acontecer juntos, ou um logo após o outro. Essas associações, no entanto, não são suficientes para comprovar que existe uma relação de causa e consequência. Estudos assim costumam apontar a necessidade de se investigar mais a fundo algum tema – e utilizando técnicas diferentes.

Com isso, após pesquisas observacionais levantarem a hipótese, estudos mais robustos, que trazem análises controladas incluindo irmãos e outras variáveis importantes, também avaliaram a questão. A conclusão desse novo corpo de estudos foi de que não há evidências suficientes para afirmar que Tylenol causa autismo.

Um dos trabalhos mais robustos e importantes, inclusive, é bastante recente. Publicado em 2024 no renomado periódico científico JAMA, ele avaliou dados de mais de 185 mil crianças que foram expostas ao Paracetamol durante a gestação. Com base nessa análise, não foram encontrados indícios de que o uso do remédio aumenta os riscos de desenvolver TEA, TDAH ou quaisquer outros danos cognitivos.

Autoridades médicas se manifestam sobre Tylenol e autismo após fala de Trump

Tylenol e autismo
(Crédito: RONALDO SCHEMIDT/AFP via Getty Images)

A fala do presidente Donald Trump sobre a suposta relação entre Tylenol e autismo causou manifestações por parte de diversas autoridades em saúde. À imprensa estrangeira, a Organização Mundial de Saúde (OMS), por exemplo, declarou que as evidências sobre essa ligação são inconsistentes.

Já segundo o Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas (ACOG), que se posicionou em nota, a substância é segura para gestantes desde que usado conforme as orientações presentes na bula.

Além disso, o NHS, sistema público de saúde do Reino Unido, refutou as afirmações de Trump, afirmando que não há evidências de que tomar Paracetamol na gravidez causa autismo em crianças. O órgão também orientou que gestantes sigam as recomendações clínicas relacionadas ao uso do medicamento na gravidez.

O mesmo foi feito inclusive por instituições ligadas aos estudos do TEA e outros transtornos semelhantes. Um exemplo é a National Autistic Society, que negou veementemente a relação entre o medicamento e o transtorno com o qual a instituição britânica lida desde 1962.

O que realmente causa autismo?

Desenvolvimento infantil
(Crédito: freepik/ Freepik)

O Transtorno do Espectro Autista é uma condição que afeta o neurodesenvolvimento. Isso faz com que a pessoa perceba o mundo, se comunique e interaja com a sociedade de forma única. A palavra “espectro” é usada devido ao fato de que o autismo pode se manifestar de várias formas diferentes, desde em quadros leves até situações nas quais o indivíduo precisa de mais apoio para um convívio pleno e confortável em sociedade.

Mas, afinal, o que causa isso? Estudos e autoridades em saúde vivem em um consenso sobre isso: não há uma causa única para o autismo. A questão é derivada da interação de fatores genéticos e ambientais.

O componente hereditário, por exemplo, é forte; segundo estudos, irmãos de pessoas autistas têm mais chances de também ter o diagnóstico. Além disso, mutações em centenas de genes – muitas vezes ligados ao desenvolvimento cerebral e à comunicação entre os neurônios – também já foram associadas ao TEA.

Além disso, síndromes genéticas podem aumentar o risco do transtorno. É o caso da síndrome do X frágil, da esclerose tuberosa e da síndrome de Rett.

Há ainda alguns fatores incapazes de causar o transtorno sozinhos, mas que podem aumentar os riscos quando combinados. É o caso, por exemplo, de pais com idade avançada, complicações na gravidez, prematuridade, entre outros.

Apesar de muito se falar sobre, órgãos que são referência em saúde já comprovaram que vacinas e estilo de educação parental não estão entre as possíveis causas do autismo.

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