
O alto risco que o excesso de álcool oferece à nossa saúde é conhecido há muito tempo, mas, ao que parece, a substância pode ser especialmente agressiva ao organismo da mulher. Estudos que investigaram a relação entre o consumo frequente da bebida e a incidência do câncer revelaram que a população feminina que tem este hábito está sob maior risco de desenvolver tumores malignos na mama.
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Álcool e câncer de mama
Para se ter uma ideia, para a mulher que costuma beber diariamente, a ingestão de apenas uma taça de vinho é suficiente para aumentar seu risco de contrair câncer de mama em até 7%. Com duas taças de vinho, o aumento é de 14%, e assim por diante.
Quem fornece esta informação é o radioterapeuta e professor Dr. Luis Pinillos Ashton, ex-ministro da Saúde do Peru e fundador do Instituto Internacional de Investigação para a Prevenção (IPRI, na sigla em inglês). “O consumo de álcool tem uma relação dose-efeito, ou seja, provoca um aumento progressivo no risco de câncer de mama”, explica em encontro promovido pela farmacêutica Roche Brasil.
O especialista baseia-se em uma análise feita em 2002, publicada no British Journal of Cancer, que observou o resultado de 53 estudos sobre a relação entre consumo de álcool e risco de câncer de mama em mulheres (no total, 58 mil casos foram considerados no trabalho). Concluiu-se que aquelas que consumiam mais de 45 gramas de álcool por dia (aproximadamente 3 drinques) tinham 1,5 vezes mais chances de desenvolver a doença do que as que não bebiam.
O risco da doença aumentava progressivamente conforme o consumo de álcool era maior: para cada 10 gramas da bebida consumida por dia (menos de 1 drinque), a incidência do câncer de mama crescia 7%.

Outros estudos, mais recentes, corroboram a tese. Uma análise publicada em 2009 pelo Journal of the National Cancer Institute, do Reino Unido, não só comprovou os dados anteriores como revelou um cenário ainda mais grave. Após a análise de mais de 28 mil mulheres com câncer de mama, conclui-se que 10 gramas de álcool consumidas por dia aumentavam em 12% o risco de câncer de mama.
Já uma pesquisa de 2017 do World Cancer Research Fund fornece dados bem similares aos apresentados por Dr. Pinillos: a cada extra taça pequena de vinho (10g de álcool) ingerida ao dia, o risco de a mulher desenvolver câncer de mama após a menopausa aumenta 9%.
Álcool e outros tipos de câncer
Ainda de acordo com o Dr. Pillinos, a ingestão de bebidas alcoólicas é fator de risco para outros tipos de câncer, tanto em homens quanto em mulheres, como:
- Cavidade oral
- Trato respiratório (agravado se associado ao consumo de cigarro)
- Esôfago
- Colorretal (intestino grosso e reto)
- Fígado. O consumo de álcool, sozinho, é uma das causas primárias do câncer de fígado. As outras grandes causas são infecção crônica por hepatites B e C.
Por outro lado, dois estudos de 2012, publicados nos periódicos Annals of Oncology e European Journal of Cancer Prevention, demonstraram que o consumo elevado de álcool está ligado a uma redução no risco de câncer dos rins e do linfoma. As pesquisas não conseguiram estabelecer a relação entre os dois fatores.
Por que o álcool causa câncer?

Os pesquisadores conseguiram identificar alguns fatores que explicam por que o álcool aumenta o risco de câncer:
- Quando cai no organismo, o álcool é quebrado, gerando alguns subprodutos. Um deles é o etanal, um químico tóxico que provavelmente é cancerígeno aos humanos.
- O álcool gera um processo de oxidação que pode danificar células do DNA, proteínas e lipídios.
- Ele também é capaz de reduzir a capacidade do corpo de absorver vários nutrientes que podem estar associados ao risco de câncer, incluindo vitaminas A, C, D, E e do complexo B, assim como carotenoides.
- Eleva os níveis de estrogênio no sangue, um hormônio sexual ligado ao risco de câncer de mama.
- Por fim, bebidas alcoólicas podem conter uma variedade de cancerígenos que são introduzidos durante o processo de fermentação e produção, como nitrosaminas, fibras de asbesto, Compostos fenólicos e hidrocarbonetos.
Vinho: vilão ou mocinho?
Um estudo de 2007 publicado no periódico Toxicology and Applied Pharmacology apontou que algumas substâncias presentes no vinho tinto, como o resveratrol, têm propriedades anticancerígenas. Outros alimentos que possuem este componente são uvas, framboesas, amendoim e algumas plantas.
No entanto, testes realizados em humanos não mostraram evidências de que o resveratrol é eficaz na prevenção ou tratamento do câncer ( Annals of the New York Academy of Sciences, 2011).
*A repórter Marianna Feiteiro viajou entre 16 e 18 de julho de 2014 a Guadalajara, no México, a convite da Roche Brasil para evento para jornalistas da América Latina com objetivo de discutir os avanços da saúde na região, inovação e biotecnologia.