
Desde que entrou no “Big Brother Brasil”, Daniel Lenhardt tem colecionado punições da produção por não cumprir regras básicas do reality – e, diante da situação, alguns telespectadores cogitaram que ele teria Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ( TDAH). A suposição, porém, deixou portadores do transtorno ofendidos, e iniciou-se um debate na internet sobre como uma pessoa com TDAH realmente se comporta.
Suposição sobre Daniel ter TDAH gera debate
Após ficar confinado em uma casa de vidro, Daniel foi um dos escolhidos para entrar no BBB 20 após o programa já ter começado e, apesar de ter sido bem recebido tanto pela maior parte dos participantes quanto pelo público, logo passou a ser alvo de críticas por não cumprir normas do programa – algo que, por sua vez, gera punições não só para ele, mas para todos os confinados.

Entre esquecer de usar o microfone diversas vezes, continuando sem ele após ser advertido, e espiar locais proibidos da casa, Daniel vem recebendo uma punição atrás da outra, perdendo uma quantidade recorde de estalecas e gerando desentendimentos entre o grupo. Impressionados com o número de transgressões do gaúcho, espectadores do programa especularam, nas redes sociais, que ele teria TDAH, transtorno caracterizado pela desatenção, dentre outros fatores.
Para estas pessoas, o esquecimento constante e a dificuldade de Daniel em seguir regras seria fruto do transtorno – que tem, de fato, estes aspectos entre seus sintomas. Conforme a especulação se espalhou e o termo “TDAH” se tornou um dos assuntos mais comentados no Twitter, porém, portadores do transtorno começaram a se pronunciar, afirmando que não é assim que ele se manifesta.

Segundo os internautas que disseram conviver com TDAH ou com portadores do transtorno, apesar de a perda de memória recente e a dificuldade de cumprir rotinas ser, de fato, algo ligado a ele, estas pessoas são capazes de aprender e não costumam se esquecer das mesmas coisas com tanta frequência.
Para eles, justificar as atitudes de Daniel com um transtorno é um desserviço às pessoas que realmente o têm e passam suas vidas ouvindo comentários maldosos ou sendo julgadas por seus comportamentos.
Eu tenho TDAH e não preciso dar desculpa disso para falar que não sei leis básicas de convivo. Posso errar uma outra, mas todo santo dia o mesmo erro? Aaa isso é absurdo.
— Mariana Aguiar (@UrsiinhaAguiar) March 5, 2020
Minha filha tem QUATRO ANOS, TEA E TDAH E PASMEM ela tem mais discernimento que o Daniel.
Parem de justificar o joguinho bobo do neném de 22 anos usando coisa séria mano! Tá ridículo isso.
— Maria do Bairro (@dayanMqs) March 5, 2020
Eu tenho TDAH, eu sei oq é ser hiperativa e desatenta e sofro com as consequências disso, aí vem um mimado igual o Daniel (que não tem TDAH) fazendo todo mundo pensar que quem tem é burro
TDAH NAO É BURRICE #BBB20
— Carentena (@nunca_nem_vi__) March 5, 2020
Estou indignada com TDAH estar nos TTs com uma conotação negativa.Tenho TDAH, sempre estudei sobre, aprendi estratégias para lidar com os “contras” (TCC), usufruo do lado bom e sempre fui muito responsável no trabalho. Esse Daniel é irresponsável, imaturo e vitimista. #bbb20
— Juliana (@julianapinomkt) March 5, 2020
Sou professora e já tive mtos alunos com TDHA, primeiro q se é em um nível alto precisa estar medicado e segundo q como todo mundo eles conseguem seguir uma rotina, no caso do Daniel tem mto de falta de interesse…
Eu tbem estaria puta com ele, sorry!— Lina 🌹. (@LinaCaprichete) March 5, 2020
O pior de tudo isso de falarem que o Daniel age assim porque tem TDHA é super injusto com quem tem o diagnóstico. Convivo e já convive diariamente c/ pessoas que tem e o fato de ele ñ dar a mínima para as outras pessoas, prejudicar, não tem nada a ver com com o transtorno #BBB20
— Aham, senta lá (@Black_Srta) March 5, 2020
Houve também a lembrança de que, apesar de descumprir as normas do reality com frequência, Daniel já afirmou estar ciente delas logo após descumpri-las.
Daniel: eu olhei pela fresta
Big boss: senhor daniel, é expressamente proibido olhar por trás dessa parede (ou algo assim)
daniel: eu sei que é proibido
NA MORAL?????? ESSE MENINO SÓ AMASSANDO NO SOCO MESMO #bbb20 https://t.co/GHubTDZirc— agnes (@here4demis) March 5, 2020
Daniel não tem TDAH, diz família
Diante da situação, o Twitter oficial do participante (moderado por integrantes da família do gaúcho) deixou claro que Daniel não é portador de TDAH, e outros internautas afirmaram que, ao ser questionado sobre ter o transtorno pelo ex-BBB Guilherme, o próprio gaúcho negou.
TDAH é algo muito mais sério, e não baseado no que as pessoas lêem na internet e saem dando diagnóstico.
Demonstrar sua alegria em forma de movimentos com o corpo não significa nada. Perder estalecas sempre foi normal em todas as edições, e sempre será.— Daniel Lenhardt (@daniellenhardt_) March 5, 2020
Já diagnosticaram o Daniel com tdha? Lembro do Daniel se sentir ofendido qndo Guilherme o questionou sobre. Parem de criar desculpa. Daniel não consegue seguir regras, pois qndo Marcela alertou q ele não podia vestir o roupão do líder ele vestiu do mesmo jeito e perdeu estalecas
— Cy (@_cynaraa) March 5, 2020
Sobre Daniel ter TDHA:
Ele próprio NEGOU.
Guilherme comentou que havia tomado remédio pra DDA ainda criança. Daniel NEGOU ter déficit de atenção, e completou que em provas é sempre muito focado.
ESSE diagnóstico foi dado aqui nas redes. Ele mesmo negou ter… #BBB20— Manu New Old 🌟 (@ManuDsJust) March 5, 2020
Médico explica TDAH e comportamento de portadores
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (antes conhecido apenas por Déficit de Atenção e pela sigla DDA) é um distúrbio frequentemente diagnosticado na infância que tem características como impulsividade, hiperatividade e desatenção.
“O TDAH é um quadro heterogêneo, altamente variável de pessoa para pessoa. Depende do perfil de personalidade, do ambiente onde essa pessoa viveu e de seus interesses. É um quadro extremamente variável do ponto de vista clínico e comportamental”, explica Clay Brites, pediatra e neurologista infantil do Instituto NeuroSaber, esclarecendo as principais consequências que o transtorno traz para os portadores.

“Ele leva a dois déficits muito importantes do ponto de vista cognitivo e funcional de uma pessoa: primeiro é um déficit de memória operacional e segundo, um déficit de função executiva. Então a pessoa com TDAH pode se esquecer de leis, regras, rotinas do dia a dia, de coisas que normalmente as pessoas têm que cumprir daquele jeito, daquela forma”, afirma, lembrando, porém, que isso não significa incapacidade.
Sem falar especificamente da situação de Daniel, o médico afirma que, de forma geral, pessoas com TDAH não costumam se esquecer das mesmas coisas o tempo todo, nem de normas em sua totalidade. “Ela não fica reincidindo nas mesmas falhas em um curto espaço de tempo dentro de um sistema. Muito difícil que isso venha a acontecer”, afirma.

Conforme explica Brites, o natural destas pessoas é ter problemas em lembrar-se de certos detalhes. “Elas costumam esquecer mais a ordem das coisas, os detalhes que estão envolvidos nessas regras, nessas rotinas, e não todos os dias esquecer tudo sobre aquilo. É mais a sequência, a organização, o planejamento direcionado para seguir essas regras, essas rotinas”, pontua o especialista.
O distúrbio, no entanto, tem tratamento; segundo Brites, estudos apontam que de 30 a 40% das pessoas tratadas na infância seguem com sintomas do TDAH na vida adulta, mas elas tendem, muitas vezes, a se adaptar com o passar dos anos. “Quando o tratamento é feito cedo, esse indivíduo vai aprendendo a lidar com seu déficit de atenção, com a sua dificuldade de memória, com sua desorganização”, afirma.

Conforme isso acontece, a pessoa portadora de TDAH passa a ficar mais consciente de seus déficits. “Ela passa a ficar mais ansiosa para se organizar rápido o suficiente para não ter os prejuízos que está acostumada a ter. Ela vai melhorar a autoestima com o passar do tempo, aumentando sua motivação para cumprir regras e rotinas”, esclarece o pediatra.
Em geral, o tratamento para TDAH inclui medicamentos psicoestimulantes e terapias, tudo conforme a necessidade da pessoa. O diagnóstico, por sua vez, depende de uma avaliação aprofundada, já que não é apenas uma falta de atenção em determinado âmbito da vida que aponta a presença do transtorno.