A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) repudiou a cena da novela “O Outro Lado do Paraíso”, da TV Globo, em que a protagonista Clara (Bianca Bin) é torturada com uma máquina de eletrochoque após ser internada involuntariamente em um hospital psiquiátrico.
Segundo a nota de posicionamento, a trama tratou a eletroconvulsoterapia – termo correto do tratamento – de maneira estigmatizada e preconceituosa. Entenda:
Cena de terapia de choque em “O Outro Lado do Paraíso”
No capítulo de 21 de novembro, a personagem Clara foi internada em um hospital psiquiátrico pela sogra, Sophia (Marieta Severo), após sofrer um golpe que a fez ser erroneamente diagnosticada com esquizofrenia paranoide, transtorno que causa mudanças na percepção da realidade e discernimento.
Ao descobrir a armação, a protagonista se descontrola e é carregada até uma maca: sem preparo adequado ou anestesia, é imobilizada enquanto eletrodos conectados à sua cabeça disparam choques elétricos.
A ABP alegou que a eletroconvulsoterapia (ECT) é bem diferente do que foi mostrado na trama, visto que o procedimento passou por modificações que o humanizaram e abandonaram o caráter de tortura e punição que tinha antigamente.
A cena da novela é ambientada 10 anos atrás, época em que, segundo a ABP, o procedimento já havia sido revisto e regulamentado no Brasil.
Como é a eletroconvulsoterapia hoje?

Atualmente, a terapia leva 30 segundos é feita em ambiente hospitalar, sob anestesia e com monitoramento do cérebro e coração.
Ainda por cima, podem ser usados relaxantes musculares que fazem com que o cérebro convulsione, mas o corpo não, fazendo com que o ataque só seja percebido pelo exame de eletroencefalograma.
Regulamentado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) desde 2002, o procedimento é amparado por uma equipe formada por médico, anestesista e enfermeiro, usa corrente elétrica leve e ocorre apenas com autorização do indivíduo.
Para que serve?

Segundo o psiquiatra João Armando, coordenador do serviço de eletroconvulsoterapia do Instituto Castro e Santos, induzir uma convulsão gera um mecanismo anticonvulsivo que regula a química do cérebro – a qual fica anormal em diversos distúrbios – em ação semelhante a dos antidepressivos.
O tratamento é voltado a pacientes com depressão grave e esquizofrenia, quadros que não melhoram com medicamentos ou em pessoas que não podem tomar medicamentos psiquiátricos, como grávidas e lactantes.
Efeitos colaterais e riscos
Como há anestesia, o paciente não sente dor ou se lembra da sessão, mas podem surgir efeitos colaterais como falta de memória transitória.
O tratamento é contraindicado para pessoas com problemas do coração, tumores, aneurismas ou doenças pulmonares graves, porque pode causar ataque cardíaco.
História de “O Outro Lado do Paraíso”
- Novela das 21h: Obsessão de Lívia para engravidar esconde segredo
- O que muda na 1ª passagem de tempo de “O Outro Lado do Paraíso”
- 5 fatos sobre a segunda fase de “O Outro Lado do Paraíso”