Mulher internada

“Soro de vitaminas” deixou mulher em coma e gerou falência de órgãos: por que há riscos?

Elas são indispensáveis para o bom funcionamento do organismo, mas o excesso de vitaminas causa hipervitaminose

As vitaminas são essenciais para o bom funcionamento do organismo, mas até mesmo elas, quando em excesso, podem se transformar em um grande e perigoso problema de saúde.

Uma reportagem do Fantástico trouxe à tona o caso de uma empresária da Bahia que ficou 28 dias em coma e teve falência de órgãos depois de passar por sessões de terapia com um soro rico em vitaminas. 

Hipervitaminose

O acúmulo excessivo desses nutrientes fez os rins e fígado de Perinalva Dias Paiva pararem. Apenas o coração manteve atividade. 

O diagnóstico foi de hipervitaminose, condição gerada pelo excesso de vitaminas no corpo. 

“Isso costuma acontecer quando alguém toma suplementos demais, sem necessidade. É mais comum com as vitaminas que o corpo acumula, tipo A, D, E e K, porque elas ficam na gordura e no fígado”, explica Milena Bonatti, Supervisora de Nutrição Clínica do hospital BP, da capital de São Paulo. 

“Já as vitaminas do complexo B e C, que são solúveis em água, o corpo geralmente elimina o que sobra na urina.”

Riscos da hipervitaminose

Sintomas de intoxicação por vitaminas
(Crédito: Drazen Zigic/ Freepik)

No caso retratado pelo Fantástico, ocorreu uma intoxicação por vitamina D. Os sintomas e complicações da hipervitaminose variam de acordo com a vitamina em excesso.  

Vitamina D

  • > Problema nos rins e coração. 

Vitamina A 

  • > Náuseas; 
  • > Tontura; 
  • > Queda de cabelo; 
  • > Problemas no fígado. 

Vitamina E 

  • > Aumento de sangramentos; 
  • > Coagulação do sangue ruim. 

Vitaminas C e B

Mesmo sendo menos tóxicas, em excesso podem causar:

  • > Diarreia; 
  • > Náusea; 
  • > Desconforto no estômago. 

Em casos mais sérios, a intoxicação por vitaminas pode causar danos permanentes aos órgãos, problemas no sistema nervoso e nos ossos, além de aumentar risco de câncer em determinados pacientes. 

Tratamento da intoxicação

O primeiro passo no tratamento da hipervitaminose é parar com a suplementação.

Pode ser necessário o trabalho de uma equipe multidisciplinar de médicos para controlar as complicações e tentar reverter o quadro.

Os casos mais graves exigem internação hospitalar para monitoramento do paciente.

Perinalva precisou ser cuidada por nefrologistas, hematologistas e endocrinologistas. Felizmente, ela se recuperou.  

Propaganda enganosa

Mulher preocupada olhando para o celular
(Crédito: freepik/ Freepik)

Erika Gagliasi, nutróloga do Hospital e Maternidade Madre Theodora, de Campinas, explica que a suplementação mais segura é feita com orientação médica após realização de exames laboratoriais.

“Mas suplementar está muito na moda. Também tem muitos médicos suplementando vitamina D sem necessidade. Não é só paciente.” 

Além disso, estamos constantemente sendo bombardeados por publicidades que incentivam o uso de suplementos vitamínicos no nosso dia a dia. 

Diretora da ABRAN (Associação Brasileira de Nutrologia) e professora da UEA (Universidade do Estado do Amazonas), a nutróloga Isolda Prado afirma que devemos desconfiar de fórmulas milagrosas ou sem respaldo científico.

Promessas que devemos suspeitar: 

  • > Cura rápida;
  • > Energia imediata;
  • > Prevenção de todas as doenças;
  • > Pode substituir alimentação;
  • > Sem contraindicação;
  • > Bom para todo mundo;

Desconfie também de diagnósticos e orientações de saúde dadas em redes sociais por pessoas e influenciadores sem formação adequada.

Quem precisa de suplementação?

O que é hipervitaminose
(Crédito: wirestock/ Freepik)

No geral, ter uma alimentação equilibrada e variada, evitando ultraprocessados, é suficiente para conseguir o nível de vitaminas que precisamos para o corpo funcionar bem.

Mas pessoas com condições clínicas específicas e/ou com deficiência comprovada por exames precisam suplementar:

  • > Idosos;
  • > Gestantes e lactantes;
  • > Bariátricos;
  • > Portadores de doenças intestinais;
  • > Usuários crônicos de certos medicamentos;
  • > Vegetarianos e veganos;
  • > Atletas de alta performance;
  • > Pacientes oncológicos.

Em casos como os descritos acima, quando há indicação médica, é seguro fazer a suplementação. 

Quando procurar um médico?

(Crédito: freepik/ Freepik)

Muita gente busca suplementação por estar se sentindo cansado ou com pouca energia. Mas esse não é o motivo para complementar a alimentação com suplemento.

São sintomas que podem acontecer por diferentes motivos, como sono de baixa qualidade, estresse e anemia, que não são resolvidos com aumento do consumo de vitaminas.

Independentemente da causa, procurar atendimento médico é sempre importante quando os seguintes sintomas estão demorando para passar ou surgem sem motivo aparente:

  • > Queda de cabelo; 
  • > Unhas fracas; 
  • > Descamação na pele; 
  • > Fraqueza muscular; 
  • > Cansaço exagerado;
  • > Boca ressecada;
  • > Emagrecimento anormal;
  • > Alteração do hábito intestinal;
  • > Repetidas infecções.

A nutróloga Erika sabe que a rotina de todo mundo está muito “puxada” – ela mesma falou que tem uma vida corrida -, mas se consultar com um especialista é indispensável.

A telemedicina tem facilitado para todos passarem por avaliação médica. Então, qualquer queixa, qualquer dificuldade, qualquer ‘pulguinha atrás da orelha’, é para procurar um médico”, orienta a profissional. 

E se mesmo sem sintomas, você tem vontade de suplementar a alimentação, passe também por um profissional especializado no assunto, com formação médica.  

Não importa se o motivo for sua saúde, estética ou vontade de melhorar a performance na academia. Suplementação de forma segura só é feita com orientação médica e com prescrição da dosagem após realização de exame de sangue.

Este conteúdo foi produzido com informações do Guia Alimentar para a População Brasileira; da publicação Desmistificando dúvidas sobre alimentação e nutrição; entrevistas com as nutrólogas Milena Bonatti, Erika Gagliasi e Isolda Prado.

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