Um novo fato reacende o debate acerca da série de grande sucesso ” 13 Reasons Why“, produzida pela Netflix. Trata-se de um suicídio cometido por um jovem universitário de 23 anos em Arequipa, uma das maiores cidades do Peru. De acordo com o jornal local Clarín, o rapaz teria seguido os mesmos passos da protagonista Hannah Baker e deixado instruções em áudio para amigos antes de tirar a própria vida.
Outros casos parecidos que ocorreram após o lançamento da série já haviam sido registrados em várias cidades.
Falar sobre suicídio é perigoso?
Entre psiquiatras, psicólogos e profissionais de mídia há uma tensão sobre o tema suicídio. A Organização Mundial da Saúde, inclusive, publicou um guia de recomendações para produtores de conteúdo adequarem seu trabalho de forma a não estimularem indivíduos com tendências a cometerem o ato.
Entre as recomendações da OMS estão: não publicar fotografias ou cartas do falecido; não informar detalhes sobre o método da morte; não usar estereótipos religiosos ou culturais; não glorificar o suicídio; e não atribuir culpa.
Para a coordenadora da comissão de estudo e prevenção do suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria, Alexandrina Meleiro, a série não cumpre alguns desses apelos. “A série não obedeceu a lista da OMS”, sentencia. “É verdade que ela tem um lado positivo: trouxe para a sociedade, mídia, família e escola a necessidade de falar sobre suicídio. Contudo, trata a questão como suspense e ensina como fazer, passo a passo. Culpa outras pessoas, glamouriza a tragédia e não é clara sobre o fato de a menina estar doente”, afirma.
O suicídio é o resultado de um conjunto de fatores que levam até a finalização do ato. A série pode influenciar, mas não é a culpada, na opinião dos especialistas. “O episódio realmente é trágico, mas ninguém se mata por causa de um personagem. Ele pode se identificar com a situação e seguir o personagem como um herói”, analisa Luiz Henrique Dieckmann, membro da American Psychiatric Association e profissional da Doctoralia.
“A série, ou um filme ou reportagem, pode ter um efeito contágio. O sujeito já estaria disposto ao ato, mas toma o exemplo, age da forma como ele vê sendo feito”, explica Dra. Alexandrina. “A lição que fica é que a menina que se mata na série era doente e precisava de tratamento. O suicídio pode ser sempre evitado”, afirma Dr. Luiz Henrique.
Cuidados para evitar que aconteça
Pessoas com tendências suicidas têm algumas características em comum – é bom alertar que há situações que podem fugir do padrão, portanto qualquer mudança brusca de comportamento pode ser um sinal. Os indícios que ligam a luz amarela para o risco de suicídio são semelhantes aos da depressão. O sujeito fica extremamente pessimista, aparenta baixa autoestima, irritação sem motivos aparentes e tem pequenos surtos de distorção da realidade. Em ações mais nítidas, seu rendimento escolar ou profissional tende a cair bastante.
Para o Dr. Luiz Henrique, não se deve basear na série como um parâmetro para identificar casos de risco de suicídio. “A série coloca a personagem de maneira fantasiosa, heroica. Ela age como um ato de vingança, e não da forma como costumamos ver na vida real”, explica. “Quem tem angústia demonstra, dá sinais, só chega ao suicídio como última solução para seu sofrimento”, diz.
“Tem que perceber estes sinais. Caso note, precisa evitar que estas pessoas assistam a esse tipo de série. Elas ficam sugestionáveis”, afirma Dra. Alexandrina. “É um conteúdo que intoxica o cérebro com emoções negativas. Cria um trauma para quem tem este pensamento já lá dentro”, completa.
Ao contrário do que “13 Reasons Why” retrata, entre 60% e 80% das pessoas que tentam suicídio procuram ajuda até um mês antes do ato. Nestas casos – ou até em quadros menos arriscados -, os médicos recomendam a administração de remédios especializados, além de acompanhamento psicológico.








