Cientistas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) recorreram a um método nada convencional para tratar um caso excepcional de Covid prolongada. Devido a uma rara doença genética, a paciente em questão não pôde se vacinar – e, após 120 dias apresentando o SARS-CoV-2 no organismo, ela foi curada com a ingestão diária de leite materno de uma doadora vacinada contra a doença.
Leite materno de doadora vacinada cura paciente com Covid
Recentemente, pesquisadores documentaram o sucesso de um tratamento bastante inusitado contra a Covid longa. Após 120 dias com presença do vírus da Covid-19 no organismo, uma paciente foi curada com sucesso – tudo após uma terapia experimental com o leite materno de uma doadora.
À Agência Fapesp, a pediatra Maria Marluce dos Santos Vilela, principal autora do estudo (publicado no periódico científico ” Viruses“), explicou que, durante uma semana, a paciente foi orientada a ingerir, a cada três horas, 30 mililitros de leite materno de uma doadora vacinada contra o SARS-CoV-2. Após esse período, o resultado do teste de RT-PCR da paciente veio negativo para a presença do RNA viral pela primeira vez em cerca de quatro meses.
A terapia foi cogitada devido ao fato de que, devido a uma doença genética rara chamada síndrome de imunodesregulação, o sistema imunológico da paciente é incapaz de combater vírus e outros patógenos. Segundo Maria Marluce, enquanto o organismo saudável produz cinco tipos de anticorpos – as imunoglobulinas IgM, IgG, IgA e IgD -, o de pessoas com esta síndrome têm pouco IgE, pouco IgG e, em alguns casos, ausência total do IgA.
O IgA, por sua vez, é o principal neutralizante de organismos estranhos no corpo – e, por ele estar presete em fluidos como o leite materno, secreções respiratórias e secreções gastrointesinais, a terapia inusitada se tornou possível. Baseando-se em um estudo que mostrou que mulheres lactantes imunizadas com a vacina da Pfizer produziram leite com quantidades razoáveis de IgA, a equipe decidiu tentar “repor” esta imunoglobulina no corpo da paciente via leite materno.
Apenas uma semana após o início do tratamento, o teste de Covid da paciente acusou negativo – e, posterirmente, outros dois exames feitos com intervalos de dez dias também não detectaram a presença de RNA do SARS-CoV-2, indicando que o primeiro exame não foi um falso-negativo.
É importante ressaltar, porém, que apesar do sucesso do caso, não é indicado usar leite materno como forma de tratar a Covid prolongada em qualquer pessoa. Neste caso, a opção foi cogitada e testada exclusivamente devido ao estado do sistema imunológico da paciente, não tendo, até o momento, comprovação de eficácia em larga escala