Caso de absorvente interno “preso” no corpo por 2 anos prova: vergonha de ginecologista é risco à saúde

por | dez 14, 2022 | Saúde

Recentemente, uma jovem viralizou no TikTok com um relato bastante inusitado a respeito do uso de absorventes. Segundo a moça, identificada apenas como Melanie, ela passou dois anos com um absorvente interno “preso” dentro do corpo sem saber – e o relato mostra não apenas o quão importante é conhecer o próprio corpo, mas os riscos que o tabu sobre a saúde feminina traz à saúde.

Jovem relata ter passado 2 anos com absorvente interno

Após um breve vídeo no qual faz piada de si mesma afirmando ter passado dois anos com um absorvente interno “preso” dentro do corpo, a jovem Melanie viralizou no TikTok e voltou à rede para tirar dúvidas do público. Em outro vídeo, ela detalhou a história, afirmando que tudo aconteceu em meio à pré-adolescência.

Segundo Melanie, ela havia acabado de iniciar o colegial quando começou a ter sintomas inespecíficos, como dores pelo corpo e questões desagradáveis de saúde íntima. Como na infância a jovem havia sido mordida por um carrapato e diagnosticada de forma confusa com doença de Lyme, ela julgou que os sintomas tinham relação com a doença – assim como os médicos.

No relato, Melanie afirma que, em meio aos sintomas, ela buscou um médico que a tratou de forma “maldosa” e, tanto por isso quanto pela vergonha de falar sobre os sintomas íntimos, ela não os relatou. “Eu não queria lidar com isso, tinha a esperança de que talvez fosse algo relacionado à doença de Lyme. Eu poderia ignorar, tomar os remédios e isso passaria”, disse.

Na ocasião, a jovem foi realmente medicada para a chamada “doença do carrapato” (nome popular da doença de Lyme) e, apesar de ter sentido melhora nas dores, as “coisas desagradáveis acontecendo lá embaixo” seguiram presentes.

Envergonhada, ela então manteve os sintomas em segredo por dois anos e, hoje, afirma que um deles era relacionado ao odor vaginal. “Eu venho de uma família que teria me destruído pelo cheiro. Às vezes não tinha, às vezes cheirava muito mal e eu ficava triste pensando que era meu odor natural. Descobri formas de mascarar o cheiro e funcionou”, disse.

“Dois anos depois, no meu último ano do colegial, ainda não tinha passado. Eu finalmente fui ao médico novamente e ele me mandou para a ginecologista. Ela me examinou e tomou um susto. Disse: ‘Você tem um absorvente interno posicionado horizontalmente abaixo do colo do útero’”, relatou Melanie no vídeo.

Conforme contou, a descoberta foi seguida por um processo longo e doloroso de retirar o absorvente interno – mas por partes, visto que o item, feito de algodão, estava se desintegrando dentro do canal vaginal. Além disso, ela afirmou que a médica ficou em choque com o tempo pelo qual Melanie disse ter ficado com o absorvente.

“Ela dizia: ‘Isso não pode estar dentro de você há dois anos’. E eu falei: ‘Bom, eu tenho apresentado estes sintomas por dois anos, então não sei o que te dizer’. Não acreditar em mim é justo, eu honestamente não tenho provas”, frisou ela, pontuando ainda que, segundo médicos, os sintomas desenvolvidos por ela poderiam estar relacionados ao item.

“Toda dor pelo corpo não era Lyme, os médicos acham que foi algum tipo de infecção por conta do absorvente interno”, afirmou Melanie, contando ainda que, após a descoberta, tirou uma conclusão ainda mais inusitada que a história em si.

“Um detalhe: eu já tive três absorventes internos dentro de mim. Durante esse período de dois anos, eu tirei um e veio outro junto, e eu não faço ideia de quanto tempo aquele estava lá. Então eu tinha um em mim por dois anos, outro por um período desconhecido e outro por mais ou menos oito horas”, concluiu.

Tabus femininos podem prejudicar a saúde

iStock

Nos comentários das postagens de Melanie, algumas pessoas julgaram a jovem por ter passado tanto tempo vivenciando sintomas “claramente alarmantes” sem mencioná-los para os médicos – mas, na realidade, situações nas quais pacientes não se abrem totalmente com o médico, especialmente sobre questões ginecológicas, são muito comuns.

Devido aos muitos tabus que cercam a sexualidade e até o corpo da mulher, muitas recebem poucas informações sobre a própria saúde e passam a acreditar que certas coisas – como os odores íntimos naturais – são algo embaraçoso, enquanto questões alarmantes – como dor na relação sexual – são normais.

É muito comum que, assim como Melanie, mulheres tenham vergonha de ser totalmente honestas com seus médicos tanto por medo de julgamentos quanto por falta de informações confiáveis sobre saúde – e, segundo o médico Jarbas Magalhães, presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), os riscos disso são menos inofensivos do que parecem.

Conforme explica o ginecologista, omitir sintomas pode atrapalhar o diagnóstico de condições tratáveis, enquanto evitar dúvidas genuínas sobre, por exemplo, anticoncepcionais, aumenta os riscos de se ter uma gravidez indesejada.

Se tratando especificamente de absorventes internos, a falta de esclarecimento sobre o uso correto dele pode resultar na chamada Síndrome do Choque Tóxico, doença grave ligada a este item que pode, inclusive, levar à morte. Além disso, evitar falar sobre algo considerado “embaraçoso” como odores íntimos pode atrasar a descoberta de uma infecção grave como esta, colocando a paciente em risco.

Segundo Jarbas Magalhães, ter vergonha do médico ginecologista é algo extremamente comum e, para combatê-la, é interessante que a paciente saiba não apenas da importância de se abrir no consultório, mas o que esperar da consulta. Especialmente na primeira, é essencial responder as perguntas do especialista com sinceridade e lembrar que, devido à função, médicos desta especialidade estão acostumados a ouvir as mais variadas queixas.

Além disso, o ginecologista pontua também que qualquer queixa sobre a região íntima, desde odores e secreções com características diferentes do habitual até dores, devem ser transmitidas ao médico.

Absorvente interno: riscos e como evitá-los

Apesar de ser algo relativamente raro, absorventes internos podem, sim, ficar “presos” no corpo – mas nunca perdidos. Isso porque, ao final do canal vaginal onde o item é inserido, há apenas o colo do útero, e a passagem que comunica o útero com o canal é pequena demais para permitir a passagem do absorvente.

Segundo informações da Cleveland Clinic, porém, é possível que o absorvente mude de posição, fazendo com que tanto ele quanto a “cordinha” usada para retirá-lo fiquem fora do alcance da paciente. Em casos assim, é indicado tentar alcançar o absorvente com os dedos, sem nunca inserir objetos, e buscar atendimento médico se não for possível.

Além disso, também é essencial saber como utilizar o item, especialmente no que diz respeito ao tempo de uso. Conforme explica o ginecologista e obstetra Antonio Paulo Stockler, membro da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro, tanto o absorvente interno quanto o externo devem ser trocados a cada quatro horas, independentemente do fluxo da mulher.

Isso é importante porque, quando fica muito tempo no corpo, o absorvente interno pode desencadear ressecamento, feridas na parede interna da vagina, alteração do pH vaginal (e, consequentemente, mau cheiro ou infecções), e a Síndrome do Choque Tóxico, causada pela proliferação descontrolada de uma bactéria já presente na flora vaginal que libera toxinas.

Ao usar um absorvente interno por um período prolongado, a paciente deve imediatamente buscar auxílio médico caso note sintomas como febre alta, dores de cabeça e garganta, vermelhidão nos olhos, fadiga extrema, diarreia, vômitos, confusão mental e tontura. Isso porque, em apenas dois dias após o início destes sinais, o corpo pode entrar em estado de choque.

Saúde feminina