Com a notícia de que o Brasil vai testar e produzir uma potencial vacina para COVID-19 desenvolvida pela China, a opinião popular ficou dividida quanto ao motivo de os testes ocorrerem fora do país de origem. Segundo o Instituto Butantan, que coordenará todo o processo, porém, há duas razões que explicam o fato de a testagem ser internacional.
Por que a vacina chinesa será testada no Brasil?
Além da potencial vacina britânica que será testada em 2 mil brasileiros nos próximos meses, o Governo de São Paulo anunciou recentemente uma parceria entre o Instituto Butantan, referência em estudos biológicos, e a farmacêutica chinesa Sinovac Biotech, responsável por uma imunização tida como bastante promissora contra o novo coronavírus – e que será tanto testada quanto produzida no Brasil.
A Sinovac (que foi a primeira farmacêutica do mundo a ter uma vacina contra H1N1 autorizada na época da pandemia da doença) já conduziu duas fases de testes com a vacina batizada de CoronaVac, e o Brasil será o primeiro país (mas provavelmente não o único) a participar da terceira fase, que inclui a aplicação da substância em 9 mil voluntários – algo que prontamente dividiu a opinião da população, já que muita gente achou que brasileiros serão as “cobaias” que a população chinesa não quer ser.
Conforme explica Ricardo Palacios, diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan, ao VIX, um dos motivos para a vacina ter sua próxima fase de testes por aqui está relacionado à situação epidemiológica da China.
“Os estudos de eficácia só são possíveis onde existe a transmissão comunitária da infecção com número de casos significativo. Na China, foram tomadas medidas de restrição de mobilidade extremamente rigorosas, e essas medidas são repetidas a cada novo caso eventual de transmissão, portanto não há transmissão comunitária na China, o que inviabiliza um teste de eficácia de vacina nesse país”, afirma Palacios.
Com isso, ele explica que, apesar de a primeira parceria da Sinovac ter sido firmada com o instituto brasileiro, a farmacêutica ainda está explorando possíveis acordos com outros países que, assim como o Brasil, também apresentam uma situação epidemiológica grave, com transmissão comunitária e número significativo de novos casos da COVID-19.
O fato de o Brasil ter sido o primeiro, segundo ele, se deve à fama do Butantan.
“O primeiro acordo realizado pela Sinovac foi alavancado por nossa experiência em desenvolvimento clínico e parcerias internacionais”, esclarece Palacios, afirmando que, assim como o País se beneficiará dos testes que a China já realizou com a vacina em testes anteriores, o Instituto espera que o mundo todo possa se beneficiar com resultados alcançados no Brasil.
Além disso, ele reforça que os primeiros testes realizados com a CoronaVac (em laboratório, animais e também em pessoas) se mostraram eficazes, demonstrando que a vacina é, além de promissora, segura. “Graças aos cientistas e participantes de pesquisa chineses, já sabemos da grande segurança do produto e do melhor esquema de vacinação para gerar anticorpos contra a COVID-19”, afirma.
De acordo com a nota do Instituto sobre os testes, estudos apontam para a possibilidade de que, caso a vacina para COVID-19 siga se mostrando segura e eficaz, ela esteja disponível para imunizar a população no primeiro semestre de 2021.