Famosa choca ao revelar procedimento íntimo para “tirar resquícios do ex”: é perigoso?

Após se divorciar de Stephen Belafonte em 2017, a cantora Melanie Brown – mais conhecida como Mel B, das Spice Girls – foi à mídia comentar sobre como seu relacionamento de dez anos com o ex-marido foi abusivo e, ao jornal inglês “The Guardian”, ela disse que, após o término, ela quis tanto se ver livre de Stephen que chegou até a realizar um procedimento íntimo.

Em seu relato ao portal britânico, ela afirmou ter se submetido ao que chamou de “raspagem vaginal”. “Eles rasparam o interior da minha vagina e colocaram um novo tecido”, descreveu a cantora. Algum tempo depois, no podcast “Table Manners”, ela afirmou que o procedimento é parecido com o conhecido rejuvenescimento vaginal – mas, segundo especialistas, ele não é usado para o objetivo descrito por ela.

Raspagem vaginal existe?

Segundo a ginecologista e sexóloga Nelly Kim Kobayashi, a técnica de raspagem vaginal descrita por Mel B não existe, nem no Brasil, nem em outros países. A profissional lembra que parte da descrição dada pela cantora se parece com o procedimento de curetagem, mas ele não é feito na vagina e muito menos com este objetivo.

“É necessário ter cuidado para não confundir com curetagem. A curetagem, que normalmente é realizada nos casos de aborto somente em hospitais e com anestesia, é um procedimento realizado dentro do útero, e não no interior da vagina”, explica a médica.

Já o rejuvenescimento vaginal a laser é um procedimento que realmente existe, mas não envolve qualquer tipo de raspagem, como descrito pela cantora, e tampouco visa retirar por completo o tecido interno. Nele, aplica-se laser para que o tecido da região se renove.

Para quem ouve falar da “técnica” relatada pela cantora e sente vontade de se submeter a ela, vale um alerta da médica. “Atualmente, não existe procedimento cientificamente comprovado capaz de remover todo o tecido vaginal e substitui-lo por outro. Se realmente se trata de uma raspagem da parede vaginal, pode ser danoso, pois a mucosa, por ser muito delicada, rasga-se com facilidade, o que pode ser uma porta de entrada para diversos vírus e bactérias”, explica.

Segundo a ginecologista, a necessidade de se criar um procedimento exclusivamente para “remover vestígios” de um ex-parceiro é nula. Conforme explica, vestígios “físicos” – como uma DST transmitida pela pessoa em questão – certamente devem ser tratados com as técnicas adequadas e indicadas por especialistas, mas em uma situação como a da cantora, a solução seria outra.

“Se ela se refere a remover um tecido somente por um trauma psicológico, porque esse tecido teve contato com o ex-parceiro, não tem benefício nenhum. Além de poder causar complicações, como aderências, retrações em cicatrizes, dores crônicas, fístulas ou infecções, esse procedimento não apagará o trauma sofrido”, afirma Nelly.

Rejuvenescimento vaginal: o que é?

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De acordo com Nelly, essa técnica tem sido realizada por médicos e outros profissionais da área da saúde e pode ou não ter uma finalidade estética. Conforme explica a ginecologista, ele é feito a laser, pode ser realizado em consultórios com uso de anestesia local e tem o objetivo de estimular a produção de colágeno na mucosa da vulva e vagina.

“Os lasers estão sendo estudados principalmente para o tratamento da atrofia vulvovaginal, que ocorre pela diminuição da produção de estrogênio a partir da menopausa, responsável por causar secura ou desconforto vaginal ou urinário, coceira, irritação, corrimento ou dor na relação sexual”, descreve Nelly.

Segundo a médica, pacientes com esse problema podem se beneficiar do laser especialmente quando não querem ou não podem por recomendação médica utilizar outros tratamentos, como o feito com hidratantes vaginais não hormonais, e estrogênio.

Há também quem busque a intervenção para mudar a estética da região íntima, que muda com o tempo.

Polêmica e riscos

Ainda assim, a ginecologista afirma que o uso dessa técnica tem dividido opiniões após problemas causados por ela. “Recentemente, seu uso foi advertido devido relatos de ferimentos causados por lasers, incluindo lesões como queimaduras vaginais, cicatrizes e dores recorrentes, incluindo durante a relação sexual”, afirma.

Ela afirma ainda que, apesar de não haver indícios de que o procedimento necessariamente compromete a saúde da flora vaginal e de estudos demonstrarem seus benefícios, ainda não há como saber como exatamente é o efeito dele no organismo a longo prazo.

“Não é possível afirmar se os benefícios trazidos pelo laser são duradouros ou se eles podem causar complicações futuras como estenose vaginal, por exemplo, que é quando o canal vaginal se fecha”, afirma a médica, ressaltando a importância de consultar um especialista antes de tomar qualquer decisão.

“Caso você esteja pensando em realizar esse tipo de procedimento, converse com seu ginecologista de confiança sobre as terapias médicas tradicionais, bem como os prós e contras dos tratamentos a laser. Somente o médico tem formação adequada não só para identificar os casos com melhor indicação como para realização do procedimento de forma mais segura”, aconselha.

Saúde da região íntima