Duas pessoas já morreram por doença que deixa urina preta: o que autoridades sabem?

Na Bahia, 2 pessoas morreram e outras 50 foram acometidas até agora por uma doença misteriosa que causa mialgia (dor muscular) seguida de escurecimento da urina. O quadro ainda não tem sua causa definida, mas já se sabe algumas coisas sobre ele. Conversamos com o virologista e o infectologista que acompanham os casos e com a Secretaria de Saúde da Bahia e contamos tudo o que já se sabe até agora.

O que é a nova doença

Número de casos e óbitos e onde eles ocorreram

Em nota, a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVEP/ SESAB) informou que, entre os dias 14 de dezembro de 2016 e 5 de janeiro de 2017, foram notificados 52 casos suspeitos de mialgia aguda nos municípios de Salvador (50 casos), Vera Cruz (1 caso) e Lauro de Freitas (1), todos na Bahia.

A maioria dos casos que foram investigados – 43 deles (97%) – apresentou redução dos sintomas e cura. Mas dois dos pacientes morreram – um deles estava em Vera Cruz e já tinha outras doenças associadas, e outro em Salvador, mas as informações desse caso não foram divulgadas.

Possíveis causas

Quando surgiram os primeiros casos da doença, o pesquisador Gúbio Soares, do laboratório de virologia da Universidade Federal da Bahia, contou ao Vix que analisou as amostras colhidas de alguns dos pacientes e, apesar das suspeitas iniciais, até o momento não se sabia se o agente era, de fato, um vírus. A suspeita de causa viral, segundo ele, era consequência dos sintomas, relativamente comuns nesse tipo de infecção.

Para o infectologista Antônio Bandeira, que acompanhou alguns casos, além da possibilidade de a causa ser viral, existem chances de que se trate de uma síndrome. “Na investigação, nós observamos que grande parte desses pacientes havia comido peixe em uma região específica de Salvador, e existe uma síndrome chamada de Síndrome de Hass que decorre da ingestão de uma toxina presente em algas e que pode gerar os mesmos sintomas encontrados. Até agora, ela só tinha sido encontrada em peixes de água doce”.

De acordo com a Secretaria da Saúde da Bahia, a causa do quadro de mialgia aguda continua indefinida. Foram enviadas recentemente amostras de peixe e água da região a laboratórios de São Paulo e dos Estados Unidos e amostras de fezes dos pacientes ao laboratório da Fiocruz, no Rio de Janeiro.

Segundo o órgão, além da ingestão de toxinas que haviam no peixe consumido pelos pacientes e a ação de um vírus no sistema digestivo, há suspeita de presença de metais pesados no alimento.

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Sintomas da doença

De acordo com o infectologista, os sintomas aparecem de forma abrupta com dores na região cervical, do músculo trapézio e dores musculares nos braços, pernas, coxas e costas que podem durar de 4 a 36 horas. “É como se essas pessoas tivessem corrido uma maratona ou levantado muito peso”.

Um terço dessas pessoas acabam ficando com a urina da cor de refrigerantes à base de cola. Isso acontece por conta da inflamação e lesão muscular, que liberam alguns produtos do metabolismo das células musculares na corrente sanguínea – quadro conhecido como rabdomiólise.

Entre esses componentes, está a mioglobina, proteína que muda o tom da urina e é lesiva aos rins, órgãos que, por causa de sua presença, podem entrar em insuficiência aguda.

Tratamento e recuperação

O médico Antônio Bandeira explica que todas as consequências da doença são reversíveis com certa rapidez, com exceção da insuficiência renal aguda, que precisa de atenção por um prazo maior até que seja totalmente revertida.

O cuidado inclui hidratação rigorosa como prevenção da insuficiência renal aguda, repouso e analgésicos comuns. O especialista chama atenção para a importância de não tomar anti-inflamatórios, que podem piorar a função renal.

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