Chances maiores de cura, menor toxicidade e efeitos colaterais mínimos: essa é a promessa dos conjugados anticorpo-droga (CAD), uma nova geração de medicamentos contra o câncer que tem sido referida como “dream drug” (droga dos sonhos) e que pode ser a grande esperança para a futura cura da doença.
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Aprovado no Brasil em maio de 2014, o T-DM1 (ou Kadcyla) foi a primeira droga deste tipo a entrar no mercado. Ela é utilizada no tratamento do câncer de mama metastático e tem uma eficácia próxima a 85%, além de um grau de segurança altíssimo, que evita, até mesmo, a queda de cabelo – evento adverso muito comum no tratamento quimioterápico convencional.
Como funciona
Conjugado anticorpo-droga une o anticorpo à quimioterapia (Crédito: Thinkstock)
O CAD é um tipo de terapia-alvo. Isso significa que ele é capaz de “procurar” as células cancerígenas no organismo e se ligar a elas, atacando diretamente o foco do problema e poupando as células saudáveis.
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“O grande avanço do conjugado anticorpo-droga é que, além da terapia-alvo, ele carrega também a quimioterapia dentro de si. Uma vez que a droga se liga à célula e é incorporada por ela, libera essa quimioterapia lá dentro, matando o câncer”, explica Luciana Preger, gerente médica da área de oncologia da farmacêutica Roche, responsável pelo T-DM1. Em outras palavras, o CAD é o casamento entre um anticorpo monoclonal e um quimioterápico, reunidos em um mesmo medicamento.
Ainda de acordo com a especialista, além de atacar diretamente o tumore, a droga possui um quimioterápico muito forte, possibilitando a alta eficácia do tratamento.
Por que os efeitos colaterais são reduzidos?
O que garante o alto nível de segurança do CAD é a tecnologia que possibilita que a quimioterapia só seja liberada ao chegar no interior da célula tumoral, evitando que ela entre em contato com as células saudáveis e minimizando o efeito tóxico.
Dra. Preger explica que o quimioterápico presente no T-DM1 chega a ser 100 vezes mais potente do que aquele utilizado atualmente no tratamento convencional. “Essa quimioterapia era utilizada antigamente, mas deixou de ser aplicada justamente por sua alta toxicidade, que não era suportada pelo paciente. Porém, quando ela é liberada somente dentro da célula, é ultrassegura, reduzindo muito os efeitos colaterais”, esclarece.
Ainda de acordo com a especialista, o grau de segurança é tamanho que o paciente não sofre queda de cabelo. No entanto, o conjugado anticorpo-droga não é isento de eventos adversos. “Há diminuição das células de defesa, risco um pouco maior de infecção e toxicidade cardíaca, que está ligada à terapia-alvo”, pontua.
“O nível de segurança é tão grande que o paciente não sofre queda de cabelo”, afirma oncologista (Crédito: Thinkstock)
Em quais tipos de câncer a droga é utilizada?
Além do T-DM1, usado no tratamento do câncer de mama HER-2 positivo e disponível na rede privada de saúde no Brasil, atualmente existe apenas outro conjugado anticorpo-droga no mercado, o Adcetris, usado em alguns casos de linfoma e ainda não aprovado por aqui, porém já liberado nos Estados Unidos e Europa. No entanto, outros medicamentos desta classe estão sendo testados e devem chegar aos poucos no mercado.
“Essa droga [T-DM1] promete tanto que os estudos já avançaram e, provavelmente, ela será lançada também para o tratamento do câncer de mama precoce”, afirma Dra. Preger, que explica que novas drogas sempre são lançadas primeiro para o perfil mais urgente da doença, que, neste caso, é o câncer metastático.
*A repórter Marianna Feiteiro viajou entre 16 e 18 de julho de 2014 a Guadalajara, no México, a convite da Roche Brasil para evento para jornalistas da América Latina com objetivo de discutir os avanços da saúde na região, inovação e biotecnologia.