Na Índia, acontece todos os anos um surto de doença cerebral que provoca a morte de centenas de crianças. Os casos, denominados encefalopatias agudas, ocorrem na cidade de Muzaffarpur, região de maior cultivo de lichias no país.
O motivo por trás do adoecimento, no entanto, não era conhecido e sequer investigado, até que pesquisadores do Centers for Disease Control and Prevention – órgão norte-americano para investigação de doenças – na embaixada dos Estados Unidos no país descobriram o porquê das mortes.
Lichia teria causado morte de 122 crianças
Os pesquisadores acompanharam 390 crianças e adolescentes com 15 anos ou menos que foram internados em dois hospitais de Muzaffarpur por causa de convulsões ou alterações sensoriais.
Foram feitos exames de sangue, fluido cérebro-espinhal e urina em busca de evidências de agentes infecciosos, pesticidas, metais tóxicos e outras causas não-infecciosas, incluindo toxinas naturalmente presentes na lichia, como a hipoglicina A e a MCPG, que causam hipoglicemia e desarranjo metabólico.
Os riscos destas toxinas já são conhecidos: existe outra fruta, a ackee, comum na Jamaica, que sabidamente tem essas substâncias e cujo consumo inspira alguns cuidados.
Toxinas que causam hipoglicemia e encefalopatia
Os resultados das análises indicaram que 62% dos pacientes estavam com hipoglicemia e 66% tiveram as toxinas da fruta detectadas no exame de urina.
Os pesquisadores concluíram que o surto de encefalopatia aguda estava associado à hipoglicemia e ao desarranjo metabólico causados pela intoxicação por hipoglicina A e MCPG e agravada pela ausência de um jantar na noite anterior ao surgimento dos sintomas.
Por que essas substâncias são perigosas?
O nutrólogo Roberto Navarro, membro da Associação Brasileira de Nutrologia, afirma que, provavelmente, o que acontece é que essas toxinas impedem que o glicogênio – uma reserva natural de energia que temos no fígado – seja quebrado e transformado em glicose.
Consequentemente, quando a glicose entra em níveis muito baixos, o corpo não tem de onde tirar esse combustível, que é o único capaz de chegar ao cérebro e manter sua atividade normal.
Sem a glicose para suprir a demanda por energia do cérebro, tem início a alteração do funcionamento cerebral, o que é chamado de encefalopatia, e seus sintomas, como convulsões e alterações de raciocínio, concentração e perda de memória.
Como forma de prevenção, os pesquisadores recomendaram que a população de Muzaffarpur diminua o consumo de lichia, não pulem o jantar e façam uma rápida correção da glicemia se suspeitarem da doença.
Risco é real?
Para o nutrólogo, é preciso, antes de tudo, considerar que o acometimento em questão aconteceu em crianças – que já têm uma suscetibilidade maior em função da etapa do desenvolvimento em que estão – em estado de desnutrição e jejum, o que as torna ainda mais frágeis. Além disso, algumas delas tinham infecção de pele ou pneumonia, que podem ter agravado o quadro.
No entanto, ele recomenda que o achado científico seja visto como uma precaução. “É preferível comer como sobremesa depois de uma refeição ou no lanche, quando faz pouco tempo desde a última refeição e a glicemia está estável, do que comer no café da manhã, quando se está em jejum”.
O especialista sugere ainda que, nesse período inicial de investigação científica da lichia, não exagerar no consumo da fruta pode ser uma atitude interessante. Mas lembra que mais estudos sérios para entender em detalhes a ação das toxinas são necessários para determinar com certeza absoluta qual a melhor forma de consumo.
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