Coronavírus pode nunca desaparecer e se tornar endêmico

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), existe a possibilidade de o novo coronavírus (Sars-Cov-2) se tornar um vírus endêmico, assim como a doença desencadeada por ele, a COVID-19. Mas o que significa isso?

Coronavírus e COVID-19 podem se tornar endêmicos

Durante coletiva de imprensa na última quarta-feira (13), o diretor executivo do Programa de Emergências em Saúde da Organização Mundial da Saúde, Michael Ryan, falou sobre a possibilidade de o novo coronavírus se tornar um vírus endêmico no planeta.

A declaração aconteceu depois que a equipe da OMS foi questionada sobre a previsão de vacina contra o coronavírus e quando a atual pandemia de COVID-19 vai acabar.

Segundo Ryan, fazer este tipo de previsão é difícil no momento, mas um dos cenários estudados é de que o vírus nunca desapareça e se torne endêmico.

“É importante colocar sobre a mesa que este vírus se torne outro vírus endêmico. Talvez ele nunca vá embora. O HIV nunca desapareceu. Encontramos as terapias, encontramos formas de nos prevenir [contra o HIV] e as pessoas não têm mais o mesmo medo como elas tinham antes. Não estou comparando as duas doenças, mas acho que é importante ser realista. Não acho que ninguém consegue projetar quando essa doença vai desaparecer”, disse Ryan.

Doença endêmica: o que é?

Pela definição do manual “Endemias e epidemias”, publicada pela Universidade Federal de Minas Gerais, o termo “endemia” é usado para designar doenças que se manifestam de maneira relativamente constante, dentro do número esperado de casos, com variações sazonais esperadas no número de casos e em uma localização ou população específicas.

É o caso, por exemplo, da dengue, febre amarela e o próprio HIV, conforme citado pela OMS.

Isso significa que, caso o novo coronavírus se torne endêmico, ele será uma doença prevalente na sociedade ou em determinados lugares e populações, não necessariamente com alto número de casos, porém constante. Esta possibilidade torna a necessidade de uma vacina ainda mais urgente.

Endemia x epidemia

A endemia é diferente da epidemia. Doenças epidêmicas são assim denominadas quando há um aumento acima da média de sua ocorrência.

Por exemplo: casos de dengue costumam aumentar durante o período chuvoso no Brasil e isso é esperado pelos órgãos de saúde do país. Afinal, a dengue é uma doença endêmica do Brasil. Entretanto, a dengue torna-se epidêmica em algumas localidades quando há um aumento de casos acima da média no número tradicional.

Para conseguir diferenciar um quadro epidêmico de um endêmico, é preciso analisar os dados sobre a condição de saúde da população, saber se houve variação do número de doentes e todo um conjunto de estudos e cálculos para chegar à conclusão.

Fatores que levam a uma endemia

O que leva uma doença a se tornar endêmica ou mesmo epidêmica é um conjunto de fatores econômicos, culturais, ecológicos, psicossociais e biológicos:

  • Determinantes econômicos: miséria, privações resultando em habitações precárias, falta de saneamento básico e de água tratada e ocupação do território de forma desordenada.
  • Determinantes culturais: hábito de defecar próximo de mananciais, hábitos alimentares de risco como ingestão de peixe cru ou ostras.
  • Determinantes ecológicos: poluição atmosférica, condições climáticas e ambientais favoráveis à proliferação de vetores.
  • Determinantes psicossociais: estresse, uso de drogas, ausência de atividades e locais para lazer.
  • Determinantes biológicos: indivíduos suscetíveis, mutação do agente infeccioso, transmissibilidade do agente.

Esses fatores determinantes também variam de acordo com as as características do agente que causa a doença. No caso do SARS-CoV-2, que tem transmissão via contato direto ( principalmente pelas secreções respiratórias), a doença é favorecida por locais que apresentam precárias condições de habitação e saneamento, além de aglomeração.

A publicação da UFMG ainda destaca que uma condição imprescindível para que uma epidemia ou endemia aconteça é a presença significativa de indivíduos suscetíveis ao agente causador da doença: ou seja, pessoas com o organismo não imune ao agente causador da moléstia.

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