Comportamento suicida: 8 características que devem ser reconhecidas para poder ajudar

O suicídio não é fácil de assimilar, pois expõe a dor daquele que tirou a própria vida a todos aqueles que viviam ao seu redor. Por vezes, esses familiares, amigos e conhecidos podem se questionar se existiram sinais de que aquilo aconteceria, se poderiam ter notado e agido antes. 

Esses indícios de sofrimento, de fato, aparecem e, se antes eles servem como alerta, depois podem gerar uma culpa descabida, afinal, não há como responsabilizar ninguém por alguém ter se matado.

Os sintomas do suicídio variam de acordo com a personalidade das pessoas, mas eles costumam seguir um certo padrão. Com ajuda da psiquiatra Maria Cristina de Stefano, conheça alguns dos aspectos do comportamento suicida. 

Como identificar o comportamento suicida 

A psiquiatra Maria Cristina De Stefano explica que, atualmente, se sabe que o suicida deixa pistas, sinais de que está em grave sofrimento mental.

Introvertido X extrovertido: jeitos diferentes de lidar

A forma como a pessoa agirá quando estiver em sofrimento mental e emocional dependerá de sua personalidade anteriormente. Por exemplo: se antes ele era mais aberto, falava mais dos seus problemas, provavelmente se isolará menos que alguém que já era bastante introvertido.

O extrovertido provavelmente falará sobre suas dificuldades, sobre a morte, sobre a falta de sentido da vida, passará a ser mais calado e se envolverá menos em suas relações.

Já o introvertido passará para um isolamento ainda maior do que antes. Ele possivelmente vai se desapegar de seus pertences, dará suas coisas para outras pessoas e irá se desfazer também de seus laços afetivos e de seus valores pessoais.

Esse “desligamento” é uma forma de lidar com a dor, que vai se tornando insuportável.

Mudanças no pensamento 

A especialista explica que haverá alterações também tanto no pensamento, quanto na memória. O foco e a atenção também podem ficar menos acurados. Para Maria Cristina, é como se a pessoa estivesse se ‘desintegrando’ aos poucos e perdendo seus vínculos com a vida.

Consumo abusivo de bebida, drogas e remédios 

A psiquiatra explica que o consumo excessivo de bebidas alcoólicas, remédios e drogas são agravantes para a pessoa com tendências suicidas. “O ato suicida, apesar de envolver uma intenção e um planejamento, acontece em um momento de impulso”, explica.

Faltas na escola e no trabalho 

Muitas vezes o indivíduo que está em sofrimento intenso se isola de tal forma que deixa de frequentar a escola, a faculdade, e passa a faltar no trabalho. Não é raro que situações assim sejam vistas como “vagabundagem” ou irresponsabilidade por familiares, empregadores, amigos e colegas. Mas trata-se, na verdade, de um sintoma de sofrimento grave que aparece independentemente da idade.

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Dias e horários que merecem mais atenção 

Os dois momentos mais procurados para suicído são domingo de noite e segunda de manhã. São justamente aqueles horários em que o sofrimento mental e emocional são maiores, pois nos preparamos para retomar a vida, ir trabalhar ou estudar.

Homens X mulheres 

As pessoas que mais cometem suicídio são em sua maioria homens, mas as mulheres são as que mais tentam. “Para cada 5 tentativas de suicídio por mulheres, um homem se mata”, conta a psiquiatra. Eles usam métodos mais violentos, como armas de fogo, e elas usam formas mais sutis, como envenenamento.

Idades de maior risco 

A psiquiatra Maria Cristina De Stefano conta que a faixa etária de maior número de suicídios está migrando dos idosos para os adolescentes e jovens adultos com idade entre 15 e 34 anos. Ela conta que uma das explicações para essa é a dependência química, que se associa com a depressão que, por sua vez, se liga à maior probabilidade de suicídio.

Números do suicídio

“A cada 40 minutos, acontece um suicídio no Brasil”, explica a psiquiatra. Apesar da incidência impressionante, os números são ainda subestimados. Acidentes de carro e quedas de altura, por exemplo, muitas vezes não são notificados como suicídio. “Além disso, o suicídio é uma ‘epidemia calada’, há o mito de que se falarmos disso, a incidência irá aumentar, por isso, muitos se calam.”

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Como ajudar a pessoa com tendências suicidas 

A médica explica que a melhor atitude, caso perceba-se um amigo ou familiar com o comportamento suicida, é procurar com rapidez psicólogos e psiquiatras. “Tem que ser uma atitude pronta e acolhedora no sentido de buscar ajuda e orientações sobre como lidar com essa pessoa”, explica. “A demora em procurar auxílio pode agravar a situação”.

O equívoco mais comum é acreditar que aquela é uma atitude normal ou que a pessoa só está “querendo chamar atenção”. “É para chamar atenção mesmo, é um sinal de alerta para algo que não está bem”, explica Maria Cristina.

O tratamento inicial é direcionado para tratar o quadro de sofrimento psíquico – que pode envolver uma depressão mista, ansiedade, insônia, etc – e reabilitar o indivíduo. Medicamentos psicotrópicos e terapia psicológica são os métodos mais utilizados, mas existem outras técnicas, como a estimulação eletromagnética transcraniana, que estimula a ativação dos neurônios e a eletroestimulação, uma técnica estigmatizada, mas que ainda hoje pode ajudar como uma “carga elétrica que reinicia o trabalho cerebral”.

A família também precisa de apoio 

A psiquiatra conta ainda que a família também deve ser acolhida pela equipe de saúde e que, muitas vezes, a melhor opção é a internação da pessoa com tendências suicidas, porque os familiares não podem se responsabilizar por todo o apoio e vigilância que essa pessoa precisa.

Outro ponto é o cuidado com a família sobrevivente, quando o suicídio acontece. “Apesar de inadequados, a culpa e o constrangimento são muito grandes”, conta a psiquiatra. Os sentimentos são descabidos, porque a família não causou a morte, apesar de ser comum nesses momentos que se busquem explicações, e também porque muitos não entendem que o suicídio é uma doença mental e o encaram como um desvio moral.

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