Uma das principais medidas de prevenção ao novo coronavírus é a lavagem frequente das mãos e, quando não for possível fazê-la com água e sabão, o mais indicado é usar álcool gel ou líquido 70%. Porém, se não houver o cuidado correto, o produto pode ressecar a pele, tornando-a a uma porta de entrada para infecções e inclusive vírus.
Álcool pode causar danos à pele
A farmacêutica e cosmetóloga Heloísa Olivan, do Instituto Olivan, explica que, no processo de desnaturar proteínas e estruturas lipídicas da membrana celular de vírus e bactérias, o álcool acaba removendo parte do manto hidrolipídico presente em nossa pele.
“Esse manto funciona como uma película lipídica que desempenha uma função de barreira de proteção. Além de evitar a perda de água excessiva, ele garante a proteção da pele contra diversos danos, como a entrada de microrganismos (vírus, bactérias e fungos), de substâncias tóxicas e de poluição”, diz Heloísa.
O álcool gel, bem como outros agentes de limpeza, também agridem o nosso microbioma cutâneo (conjunto de bactérias e fungos da pele).
O uso frequente de produtos de higiene leva a um desequilíbrio que também culmina em perda da função de barreira de proteção da pele.
Como evitar os danos sem abrir mão da higiene?
Como lembra Heloísa, a pele da mão é uma parte do corpo bastante vulnerável – mais do que a pele do rosto, destaca a profissional.
Para restabelecer o equilíbrio da microbiota da pele da mão e manter a integridade da pele e sua função de barreira de proteção é necessário hidratá-la.
Negligenciar a hidratação da pele abre margem ao ressecamento e pode deixar o corpo suscetível a fissuras ao redor das articulações dos dedos, devido à falta de elasticidade da pele.
A farmacêutica destaca, ainda, que a desidratação crônica da pele pode gerar eczemas, dermatites e predisposição ao envelhecimento precoce.
“Sendo assim, hidratar as mãos envolve muito mais do que a busca por um resultado estético e de conforto temporário. Trata-se de um procedimento fácil e simples, cujo objetivo é criar ou restabelecer a barreira protetora da pele, formando um filme delicado que protege contra a entrada de diversos agentes nocivos do ambiente externo, incluindo o coronavírus.”
Quando hidratar as mãos e como?
Pecar na higiene das mãos não é uma opção, afirma Heloísa. “Principalmente nesse momento de pandemia. Então, devemos contar com uma boa hidratação para aliviar as peculiaridades que limpá-las com frequência pode trazer.”
O momento certo para a hidratação é sempre que sentir a pele repuxando, ou após limpar as mãos com sabão ou álcool gel.
Caso seja inviável hidratá-las todas as vezes, a cosmetóloga indica usar um creme hidratante específico para a região de duas a três vezes ao dia.
Segundo a farmacêutica, os produtos indicados para a hidratação das mãos são cremes que contenham aminoácidos, ceramidas, ácido hialurônico, ureia, glicerina, colesterol, ácidos graxos, entre outros. “Essas substâncias fazem parte da matriz lipídica intercelular, que preenche os espaços entre as células da epiderme, proporcionando à pele a função de barreira”, explica Heloísa.
Quanto ao uso de álcoois gel com ação hidratante, o uso não é desaconselhado, mas a especialista faz algumas recomendações: “A glicerina pode ser adicionada nas formulações de álcool gel como umectante. Outros ativos podem ser utilizados como hidratantes e podem ser incorporados já no álcool gel. Hidratantes não inibem a ação do sabonete ou do álcool gel, desde que sejam armazenados adequadamente e dentro do prazo de validade.”
Sinais da pele não saudável
Quando a barreira de proteção da pele sofre agressões diárias, através do constante contato com álcool gel, ou mesmo sabões e outras substâncias químicas, a pele se torna frágil e sensível.
Os sinais de que a pele não está saudável são: aspecto esbranquiçado, descamação, perda de flexibilidade e maior vulnerabilidade às agressões do meio ambiente.
Álcool gel resseca mais a pele do que água e sabão
De acordo com a especialista, o sabão (ou sabonete) tende a ser menos agressivo à pele do que detergente e álcool e, portanto, causa menos dano à cútis sem perder a ação germicida.
Segundo Heloísa, os detergentes atuam da mesma maneira que o sabão enquanto produto de limpeza. No entanto, a recomendação é que o produto seja usado para a higienização de louças e superfícies e não para as mãos, pois retiram a gordura natural presente na pele de forma excessiva, levando a um quadro de ressecamento.
Álcool etílico, a matéria-prima utilizada nas formulações de álcool gel, possui alto poder de penetração na pele. Por isso, sua capacidade de remover lipídeos e causar danos à barreira cutânea é bem grande, acelerando o quadro de ressecamento e disfunções associadas.
Porém, todos os componentes causam algum nível de ressecamento das mãos e, portanto, atentar-se à hidratação é importante após usar qualquer um deles.
Frequência recomendada para usar o álcool em gel
No momento atual em que o mundo vive uma pandemia de COVID-19, Heloísa diz que não existe uma frequência ideal que equilibre proteção ao coronavírus e hidratação das mãos.
Desse modo, a recomendação é higienizar as mãos com álcool gel sempre antes e depois da refeições, antes da ingestão de líquidos, antes e depois de ir ao banheiro, após tocar pessoas e superfícies que podem estar contaminadas, ao chegar em casa e depois de usar o transporte público.
“Com relação à quantidade, deve ser suficiente para friccionar as mãos, sem secar, durante 15 segundos.”