Cólicas intensas, dor na relação sexual e, por vezes, dificuldade em engravidar são alguns dos problemas que enfrentam as mulheres que têm endometriose. A doença é causada pela presença da camada que reveste o útero, chamada de endométrio, fora do órgão.
Um dos tratamentos mais importantes e com maiores chances de sucesso é a cirurgia para endometriose, uma vez que as pílulas de uso contínuo, por exemplo, agem mais no alívio dos sintomas. No entanto, esse procedimento ainda é envolto em muitas dúvidas.
Esclarecemos, a seguir, tudo o que você precisa saber sobre a cirurgia para decidir, junto com seu médico, se ela é uma opção para você.
O que é endometriose?

Com mais de seis milhões de vítimas em todo o Brasil, a endometriose é uma doença grave que pode atingir mulheres em idade fértil, desde a menarca até a menopausa. Para entendê-la, é preciso retomar o que acontece no ciclo reprodutivo:
O corpo feminino se prepara para gravidez todos os meses. Para isso, o útero cria um revestimento interno chamado endométrio, que serve justamente para acomodar o possível feto. Na ausência de fecundação, o organismo elimina todo o tecido por meio da menstruação. Na endometriose, ele migra pela corrente sanguínea ou por proximidade e se instala em outras regiões do corpo.
A endometriose pode afetar quase todos os órgãos, comprometendo e prejudicando suas funções. De acordo com o ginecologista e cirurgião Cláudio Crispi, responsável pelo Instituto Crispi de Ginecologia Avançada, há relatos de casos nas amígdalas, pulmão e até mesmo cérebro. Contudo, a incidência é mais frequente nos ovários, bexiga, ureter, intestino, reto, apêndice e nervo ciático.
Sintomas

Os principais sintomas de endometriose, de acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), são:
- Cólicas intensas durante o período menstrual e, em casos mais avançados, constantemente
- Dor no abdômen
- Dificuldade ou impossibilidade de engravidar
- Alterações intestinais e/ou dor ao evacuar ou urinar
- Dor intensa durante a relação sexual
Tratamento cirúrgico para endometriose

Os sintomas da doença podem ser amenizados por meio de medicamentos, como anti-inflamatórios e analgésicos. Também são administrados alguns tipos de pílulas de uso contínuo e outros métodos para interromper o ciclo menstrual, cujos hormônios estimulam o avanço da condição.
Contudo, esses meios não agem a fim de reduzir a endometriose já existente, sendo que a única maneira de isso ocorrer é pela cirurgia.
“Não existe remédio para doença, por isso o tratamento é sempre cirúrgico”, conta o Dr. Crispi. Ainda, segundo ele, a cirurgia de endometriose tem como objetivo retirar os focos e nódulos de todos os órgãos, extinguindo a dor e devolvendo a fertilidade à mulher.
Contudo, não são todos os casos de endometriose que requerem o procedimento.
Quando fazer cirurgia de endometriose?

Infertilidade
É recomendável que a cirurgia seja feita quando a endometriose causa infertilidade por impedir a implantação e manutenção do embrião no útero. De acordo com Dr. Crispi, cerca de 60% a 70% das pacientes que se submetem ao procedimento recuperam a fertilidade.
Persistência da dor
Mulheres que não apresentaram redução da dor por meio de medicações também podem ser operadas. Nesses casos, há melhora do incômodo de 70% a 80% das vezes.
Comprometimento de função dos órgãos
A presença do endométrio fora do útero pode gerar sérias complicações, como o comprometimento da função dos órgãos afetados. O procedimento também é indicado nesses quadros.
Como é feita a cirurgia de endometriose?

A operação mais realizada é a laparoscopia, feita por vídeo e pequenas incisões, visto que a cirurgia aberta apresenta muito mais riscos e possui um pós-operatório bem mais longo.
Pré-operatório
Antes de tudo, é preciso mapear todos os focos da doença no organismo, imprescindível para que o médico saiba onde realizar as incisões. Isso pode ser feito por meio de exames como a ressonância nuclear magnética da pelve e do abdômen e a ultrassonografia transvaginal com preparo intestinal.
A cirurgia
Com anestesia geral, o procedimento é feito por videolaparoscopia, intervenção em que são feitas pequenas incisões no local que será operado e inseridas câmeras, também diminutas, para visualização interna, e braços robóticos, para manipulação. “A laparoscopia permite que a cavidade pélvica seja vista com muito mais detalhes e os focos sejam removidos com eficiência e delicadeza, trazendo o menor risco possível para a paciente”, conta o cirurgião Crispi.
Contudo, o procedimento só é eficaz se todos os focos visíveis da doença forem retirados, visto que qualquer vestígio pode causar a recidiva da doença.
Dura quanto tempo?
A duração da cirurgia de endometriose depende da quantidade de focos a serem removidos, geralmente variando de quatro a seis horas. Contudo, em casos mais graves pode levar até 12 horas.
Recuperação
O pós-operatório da cirurgia de endometriose costuma ser rápido, pois o procedimento videolaparoscópico não é muito invasivo.
Após 15 a 20 dias já é possível retomar a rotina normal, mas evitando atividades que envolvam muito peso.
Pode engravidar após cirurgia de endometriose?

Se não surgirem complicações, a paciente pode engravidar de 30 a 40 dias após a realização do procedimento.
Já as que preferem não engravidar, podem tomar anticoncepcional de uso contínuo para bloquear o ciclo menstrual e deixar os novos focos que poderiam se desenvolver sem estímulo.
Endometriose pode voltar depois da cirurgia?
De acordo com a Sociedade Brasileira de Endometriose, alguns estudos recentes mostraram que em procedimentos em que sejam retiradas todos os focos visíveis há grandes chances de que os sintomas sejam reduzidos e que as lesões demorem mais para aparecer. No entanto, não é possível afirmar que o procedimento de fato cure a doença.
Cláudio Crispi vê os efeitos da cirurgia de uma maneira um pouco diferente: “O órgão afetado que teve todos os focos visíveis removidos dificilmente apresentará o problema novamente. Contudo, outros órgãos podem desenvolver a doença caso restem células microscópicas de endometriose, mas seu desenvolvimento pode levar muitos anos”.
Cirurgia de endometriose e retirada do útero: quando é preciso?

Tirar órgãos, como útero e ovário, não acaba com a endometriose, sendo algo que raramente deve ser feito.
“Remover o útero não alivia dor e deixa infértil. Há quem tire os ovários na tentativa de suspender os hormônios que estimulam a doença, mas esse órgão é apenas uma das fontes de hormônios. Há diversas outras que têm efeito semelhante ao estrogênio e, portanto, colaboram com o problema. Por isso, conservamos esses órgãos quase sempre, a não ser que seja um cisto muito volumoso e excepcional”, conta o ginecologista e cirurgião Cláudio Crispi.
Ainda segundo ele, o único acometimento do tipo em que pode haver a necessidade de retirar o útero é a adenomiose – doença difusa em que o endométrio invade a musculatura do útero.
Riscos da cirurgia de endometriose
A cirurgia de endometriose por vídeo é considerada uma das mais difíceis de serem realizadas pois geralmente envolve muitos órgãos ao mesmo tempo. Assim como qualquer outro procedimento, também há riscos associados, como:
Trombose

A trombose é um risco comum a praticamente todas as cirurgias, já que as intervenções no corpo podem alterar o sistema circulatório, criando coágulos em veias ou artérias que podem se desprender e chegar a órgãos. Com isso, surgem complicações graves como embolia pulmonar, infarto e Acidente Vascular Cerebral (AVC).
O ginecologista e cirurgião Cláudio Crispi explica que quanto mais tempo leva um procedimento, maior é a chance do problema acontecer. Como a cirurgia de endometriose é longa, há chances maiores de ter trombose se comparadas com outros tipos de operações.
Contudo, é possível reduzir a chance de desenvolver o problema por meio de medicações anticoagulantes, mobilização precoce e meias compressoras.
Lesões em órgãos
O especialista explica que a remoção dos focos ocorre, por vezes, com a retirada de alguns pedaços de órgãos, o que pode levar a complicações sérias.
Por exemplo, se surgirem lesões na cirurgia de endometriose intestinal, pode haver comprometimento na cicatrização e a necessidade de fazer colostomia, um procedimento que cria um novo caminho e usa uma bolsa acoplada ao abdômen para que as fezes sejam eliminadas. Já em casos de complicações na região do nervo ciático, a paciente pode ter dificuldade em andar.
Fístulas

Esse é outra complicação que não acontece somente na cirurgia de endometriose, mas também em outros tipos. Chamada também de “vazamento de costura”, ocorre quando a sutura feita na cirurgia se rompe, causando graves complicações como infecções graves e hemorragias.
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